O ex-presidente do Paraguai Fernando Lugo negou neste domingo a legitimidade do governo de seu sucessor, Federico Franco, e anunciou que participará da próxima cúpula do Mercosul, que será realizada em Mendoza, na Argentina, no dia 29 de junho.
"Vamos estar na próxima semana no Mercosul", disse Lugo à imprensa em frente a sua casa nos arredores de Assunção. Em comunicado conjunto emitido horas depois, Argentina, Brasil e Uruguai anunciaram sua decisão de "suspender" o Paraguai do "direito a participar" da cúpula.
Lugo, por outro lado, estará em Mendoza, mas sua presença não será oficial, pois ele participará da cúpula como testemunha, explicou à Agência Efe o ex-ministro das Comunicações, Augusto Dos Santos.
Como o Paraguai exerce a presidência temporária da Unasul, Lugo afirmou que conversou com o presidente do Peru, Ollanta Humala, que seria seu sucessor à frente do bloco, para "antecipar a transferência" de poder para a próxima semana.
"Será decidido se será feito a transferência de poder para o Peru ou se ambas as cúpulas serão reunidas", acrescentou Lugo, que hoje mudou sua decisão de acatar a decisão do Parlamento, que o destituiu de seu cargo, e convocou seus correligionários a se manifestarem pacificamente "para que retorne a ordem constitucional interrompida".
Lugo disse que o governo de Franco não é legítimo. "É falso. A cidadania não o aceita", garantiu. Posteriormente, o ex-bispo anunciou a convocação de um "gabinete pela restauração democrática" no domingo, que se reunirá em Assunção duas horas antes da cerimônia de juramento, no Palácio Presidencial, do governo formado por Franco.
Estão convocados para a reunião todos os ministros do Executivo de Lugo exceto os quatro demissionários do Partido Liberal, de Franco. Os integrantes do gabinete pela restauração democrática farão uso de seu "direito à liberdade de reunião", disse à Efe uma fonte ligada ao ex-mandatário.
Quando estava quase chegando ao seu último ano de mandato, o ex-bispo perdeu o poder num "julgamento político" promovido por quase todas as forças parlamentares e realizado em menos de 30 horas, entre quinta-feira e sexta-feira.
A mudança de poder foi questionada por vários países sul-americanos. Argentina, Brasil, Uruguai, Chile, Venezuela e Colômbia retiraram ou chamaram para consultas seus embaixadores.
Além disso, a Venezuela anunciou nesta no domingo que interrompeu a provisão de petróleo ao Paraguai.
O novo chanceler do Paraguai, José Fernández, defendeu em entrevista coletiva que o Paraguai não pode ser "sancionado" pelos vizinhos e citou os países, como por exemplo a Espanha, que aceitaram a mudança de poder já que o próprio Lugo tinha acatado a decisão.
Após aceitar na sexta-feira à noite a decisão do Legislativo, Lugo reapareceu na madrugada de domingo num protesto em frente à sede da televisão pública paraguaia, em Assunção, onde participou do programa "Microfone Aberto", que vem dando voz a seus seguidores.
Lugo disse que acatou a decisão de sexta-feira foi para evitar um "derramamento de sangue", mas não é certo que o Paraguai concorde com o "golpe de Estado parlamentar" que significou a tomada do poder por parte de Franco.
"O Paraguai não está tranquilo. Foi interrompido um processo democrático e essa cidadania que hoje foi às ruas, na televisão pública, em Encarnación, em Ciudad del Este e em San Pedro, vai continuar", discursou.
A verdade é que fora algumas centenas de manifestantes diante do canal estatal, a tranquilidade reinou em Assunção e o centro da cidade estava deserto, como em todos os domingos.
Um porta-voz do novo presidente disse à Efe que Franco estava "em sua casa descansando", preparando-se para as atividades de amanhã.
Os meios de comunicação do país não informaram sobre protestos em outras cidades e as televisões privadas retornaram a sua programação habitual.
O site da presidência apareceu neste domingo "em construção" e os novos diretores da agência e televisão públicas, criadas por Lugo, asseguraram que manterão uma programação plural.
O diretor de Meios Públicos da Secretaria de Informação e Comunicação para o Desenvolvimento, César Palacios, negou informações divulgadas pelo canal internacional Telesur, que afirmaram que a polícia tomou a sede da televisão estatal, cujo diretor, Marcello Martinessi, renunciou ontem denunciando tentativas de censura do novo Executivo.
Um corte nas transmissões que durou vários minutos ocorrido oficialmente por problemas técnicos, agitou os manifestantes.
O novo diretor do canal, Gustavo Canatta, assegurou à Agência Efe que a nova direção não pretende interromper a programação.
"Ao contrário, falei com as pessoas da televisão e disse que podiam passar o que quisessem; o próprio presidente (Franco) não restringiu absolutamente nada. Não nos atreveríamos a fazer uma coisa como essa, seria muito pouco inteligente", argumentou.