Milhares de pessoas tomaram nesta sexta-feira (09) a Praça Tahrir no Cairo para reivindicar reformas e democracia, enquanto em outro bairro da capital egípcia um muro de proteção diante da embaixada de Israel foi derrubado por manifestantes, que também arrancaram a bandeira do país.
Cerca de 1 mil manifestantes armados com martelos, barras de ferro e cordas atacaram no fim da tarde a construção erguida nos últimos dias pelas autoridades egípcias em frente à missão diplomática. A embaixada já sofreu várias manifestações recentemente.
A estrutura de cerca de 2,5 metros de altura e dezenas de metros de comprimento foi derrubada sem a intervenção da Polícia Militar, segundo um jornalista da AFP.
Após a destruição do muro, um dos manifestantes retirou a bandeira israelense da embaixada, o segundo ato semelhante em um mês. Segundo um jornalista da AFP no local, o homem jogou a bandeira na rua, em meio a gritos de alegria dos demais.
Documentos diplomáticos da embaixada também foram jogados na rua pelos manifestantes.
Entoando frases como "Erga a cabeça, você é um egípcio", os manifestantes incendiaram dois caminhões da polícia e danificaram outros quatro veículos das forças de ordem nesta sexta-feira nos arredores da embaixada de Israel.
Os egípcios se apoderaram de capacetes e escudos policiais, assim como de pelo menos uma bomba de gás lacrimogêneo.
No mesmo setor, um pequeno posto da polícia foi invadido e destruído, e unidades da polícia anti-distúrbios foram atacadas a pedradas perto de uma delegacia.
As relações entre os dois países atravessam uma fase delicada desde a morte de cinco policiais egípcios assassinados em 18 de agosto em um ataque das forças israelenses na região de Eliat, que faz fronteira com o Egito.
O Egito foi o primeiro país árabe a fazer um acordo de paz com o Estado hebreu em 1979.
Durante todo o dia, milhares de pessoas se reuniram na Praça Tharir em uma manifestação intitulada "Sexta-feira de retorno ao bom caminho".Os manifestantes atenderam aos apelos de organizações laicas e de esquerda, principalmente dos movimentos de jovens, para reivindicar o poder que está nas mãos do Exército desde a queda do presidente Hosni Mubarak em fevereiro, além de reformas e democracia.
Manifestações foram realizadas também nas cidades de Alexandria, no Mediterrâneo, e em Suez, na entrada sul do canal, indicou a agência de notícias Mena.
As passeatas foram boicotadas pela organização Irmandade Muçulmana e por outros movimentos islamitas.
"Nenhuma das demandas da revolução foram atendidas", disse Ibbrahim Ali, 38 anos, técnico agrícola de Beheira.
"Será indigno para o povo egípcio esquecer as promessas da revolução", afirmou um religioso encarregado de conduzir a tradicional oração muçulmana da sexta-feira na praça.
Os militantes laicos, ainda pouco organizados, duvidam que as eleições legislativas sejam realizadas, como previsto, neste outono. Eles não apoiam os islamitas, nem os funcionários do governo anterior, e exigem a reforma do sistema eleitoral.
Reivindicam também um calendário para a restituição do poder aos civis, e pedem, principalmente, o fim da utilização massiva dos tribunais militares para o julgamento de civis.
Muitos criticam o julgamento de Mubarak, acusado de ter responsabilidade nas ordens de atirar nos manifestantes durante a revolta popular que o derrubou do poder (25 de janeiro a 11 de fevereiro). Alguns denunciam a convocação de policiais que prestaram depoimentos que deram a sensação de limpar a culpa do ex-presidente.
O julgamento deve ser retomado no domingo com a audiência do principal líder do país, o marechal Hussein Tantaui, chefe do Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA), que será ouvido como testemunha-chave.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura