Manifestantes dormem na Praça Taksim, em Instambul| Foto: Reuters/Murad Sezer

Um grupo de manifestantes turcos mostrou poucos sinais de que vai aliviar a ocupação nesta segunda-feira (10) da Praça Taksim, no centro de Istambul, depois que o primeiro-ministro Tayyip Erdogan advertiu que sua paciência pode acabar com a pior manifestação contra o governo em anos.

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Os manifestantes, muitos acampados em barracas, agora controlam uma grande parte ao redor da praça. Nas vias de acesso há barricadas de tijolos, pedras e barras de aço. A polícia se retirou completamente da área, um canhão de água era mantido a centenas de metros de distância ao lado do canal do Bósforo.

A agitação vem inquietando os investidores, que viam a Turquia como um dos mercados emergentes mais estáveis. A agência de classificação de risco Moody's disse que a incerteza prolongada pode atingir a renda do turismo e desacelerar o investimento em seus mercados de capitais.

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Erdogan criticou os especuladores depois que o mercado de ações caiu quase 15 por cento durante os protestos da semana passada. Ele disse que iria "sufocar" os que enriqueciam às custas "do suor do povo", declarações que aumentaram ainda mais a inquietude dos investidores.

"Isso marca uma brusca reviravolta para uma administração que sempre pareceu valorizar o investimento estrangeiro e vem sendo muito sensível aos mercados", disse Timothy Ash, chefe de mercados emergentes do Standard Bank.

"Aquela era agora parece ter chegado ao fim e a administração parece estar em um curso de colisão com investidores estrangeiros e com mercados", disse.

O que começou como uma campanha contra planos do governo de desenvolver um parque arborizado no canto da praça se transformou em uma exibição de desafio contra Erdogan e seu partido islamista AK, depois que a polícia disparou gás lacrimogêneo e canhão de água tentando espalhar os manifestantes dez dias atrás.

Erdogan criticou repetidas vezes os manifestantes, comparando a agitação com uma tentativa do Exército seis anos atrás de tomar seu poder.

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Ele fez seis comícios no domingo, depois de uma semana dos maiores protestos em uma década no poder. Milhares de pessoas agitavam bandeiras vermelhas turcas e gritavam "Allahu akbar" (Deus é grande), enquanto ele acusava os manifestantes de atacarem mulheres que usavam véus e profanarem mesquitas levando cerveja para dentro.

Alguns dos organizadores iniciais do protesto em Taksim se reuniram na segunda-feira para discutir se negociam um fim à ocupação da praça. Retirar algumas das barricadas como gesto de boa vontade poderia ser uma ferramenta de barganha.

Outros estavam menos otimistas, dizendo que tinham estabelecido exigências na quarta-feira passada ao vice-primeiro-ministro Bulent Arinc, incluindo a libertação de manifestantes detidos e a proibição do uso de gás lacrimogêneo pela polícia, mas que não tinham tido resposta.

"Queremos que a vida na praça volte ao normal", disse Eyup Muhcu, chefe da Câmara dos Arquitetos e membro da Plataforma de Solidariedade Taksim. "Estamos prontos para o diálogo... mas as declarações do primeiro-ministro indicam que ele não está aberto ao diálogo".

Abdulkadir Selvi, analista político próximo ao governo, escreveu no jornal Yeni Safak que Erdogan manteria uma linha dura.

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"Para resumir o novo roteiro, Erdogan escolheu lutar. Ele não vai aceitar um acordo com aqueles que lançaram esse movimento contra ele nem dar um passo atrás", escreveu Selvi.

Ele acrescentou uma nota de moderação.

"Ele irá distinguir entre aqueles que têm demandas justas, expressando suas críticas sem violência... daqueles que usam meios violentos para tentar derrubá-lo."