O Japão é inegavelmente o país mais preparado do planeta para enfrentar catástrofes. Além disso, a questão cultural, com uma grande valorização da disciplina, também conta para supor boa desenvoltura em crises. Mas a recente tragédia parece ter superado qualquer precaução e revelou reações raramente tomadas pelo povo japonês.
A correria aos supermercados e a postos de combustível levou à escassez de vários produtos nas principais cidades. Apesar dos evidentes esforços, governo e iniciativa privada não conseguiram dar uma resposta ágil ao problema.
O desabastecimento é fruto de um conjunto de fatores, mas o principal deles é a preocupação em criar estoques de segurança em casa. Segundo a doutora e especialista em administração de cidades Denise Basgal, conhecer a situação econômica do país é fundamental para entender o problema. "Quando se tem uma economia estável, a tendência é manter um estoque reduzido. Além disso, boa parte de tudo que se consome vem de longas distâncias", diz a professora da ISAE/FGV.
A explicação revela a situação normal da sociedade japonesa e da maioria das sociedades desenvolvidas. A tragédia causou um choque na confiança de que aquilo de que precisam estaria disponível no dia seguinte. O medo motivou a criação de estoques e a escassez veio em seguida. Os meios convencionais de logística não estavam preparados para um aumento tão grande na procura.
Logística
Segundo Denise, a qualidade da infraestrutura é essencial para uma resposta rápida ao problema. Como a maior parte daquilo que as cidades consomem não é produzido nas próprias cidades, todo o processo logístico precisa ser acelerado. Em uma situação de necessidade, uma rodovia bloqueada, por exemplo, torna-se um imenso obstáculo. Para a doutora, um exemplo local recente demonstra o problema com clareza. "Tivemos há pouco tempo um problema na BR-277, e isso levou ao isolamento das cidades do litoral também na questão da chegada de mantimentos", diz Denise, referindo-se à queda de uma ponte na rodovia que leva à Paranaguá.
O professor Marcus Vinícius Guaragni, coordenador do curso de administração na FAE, esteve no Japão em novembro de 2010 e aponta outro aspecto do problema logístico. "Boa parte de tudo o que o país recebe chega por meios hidroviários e o tsunami deixou a estrutura dos portos muito prejudicada", constata Guaragni. Mesmo as mercadorias que chegaram por navios aos portos pouco afetados não puderam ser distribuídas às cidades com facilidade, já que é grande o número de ruas e ferrovias intransitáveis.
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