Reações pelo mundo
Veja algumas medidas anunciadas após tragédia:
Brasil As usinas serão submetidas a testes de segurança.
Alemanha Suspendeu por três meses a decisão de estender a vida útil das centrais nucleares. Fechou temporariamente sete dos 17 reatores para revisão de segurança.
União Europeia Determinou a revisão dos reatores antigos e aplicará testes de resistência.
EUA Anunciou a revisão dos reatores das 104 usinas americanas.
Espanha Vai revisar o sistema de segurança de suas seis usinas.
Venezuela O presidente Hugo Chávez suspendeu o programa nuclear do país.
China Suspendeu a construção dos 27 novos reatores que estavam previstos.
Suíça Suspendeu os projetos de renovação das suas centrais.
Enquanto o Japão tenta controlar o acidente na usina de Fukushima, se espalha pelo mundo uma crise em torno da produção e uso da energia nuclear. O medo de enfrentar um desastre parecido como o ocorrido em território japonês fez com que vários países anunciassem, ao longo da semana, a revisão dos sistemas de segurança e testes nos reatores, caso dos Estados Unidos e da Espanha. Outros suspenderam a construção de novas estações (China) ou os próprios programas nucleares (Venezuela).
Independentemente do desfecho dos acontecimentos em Fukushima, o uso dessa fonte de energia deve passar por um período de questionamentos, como aconteceu após o acidente de Chernobyl, na Ucrânia em 1986, avaliam os especialistas. A pesquisa e o uso de fontes alternativas deve aumentar nos próximos anos. Mas, apesar do temor gerado pelo acidente no Japão, a energia nuclear não deixará, a médio prazo, de ser muito usada.
As reações dos governos ao acidente em Fukushima são, até certo ponto, tentativas de apaziguar a pressão da opinião pública, acredita o professor Ennio Peres da Silva, físico coordenador do laboratório de hidrogênio da Universidade de Campinas (Unicamp). Há países que não têm outra opção energética viável, caso do próprio Japão e da França, onde 76,2% da energia elétrica disponível vem de usinas atômicas. "Além disso, há muitos interesses em torno das usinas nucleares que serão levados em conta, sejam de grandes empresas ou de uso militar. O que de fato deve ser feito no mundo para reduzir o uso de energia atômica é bem menos do que está sendo prometido", diz.
A história da energia nuclear é cheia de "altos e baixos", conforme lembra o economista e consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Com a crise do petróleo nos anos 70, houve um considerável aumento no investimento em usinas atômicas. Esse crescimento só foi freado no final dos anos 80 e começo dos 90 por questões ambientais. Por fim, a energia atômica ganhou novo fôlego após o Protocolo de Kyoto, por não emitir gás carbônico em seu processo de geração. "Ela já foi odiada em função de acidentes, como o de Chernobyl. Depois voltou a ser adorada, por causa do baixo nível de gases poluentes. Agora, com o acidente no Japão, volta a ser o patinho feio", analisa. "Depois que o susto passar, a energia nuclear deve se erguer de novo. É um fato: cada vez mais precisamos de mais energia."
O professor de Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ricardo Viana explica que a maioria dos especialistas ainda considera que a energia nuclear é uma boa opção. "Agora a questão que se coloca é se essas usinas são seguras. O que se sabe atualmente é que não há como garantir 100% de segurança", diz.
Alternativas
A tendência é que daqui para frente os países diversifiquem ainda mais suas matrizes energéticas, inserindo outras fontes, diz Pires. Mas isso vai depender das condições de produção, custos e impacto ambiental de cada uma delas. "O Japão deve investir mais em biomassa e gás natural nesse momento de emergência", diz o economista. No mundo, outras opções cotadas são a energia eólica e solar, mas apenas nos países onde as condições favorecem a instalação dessas tecnologias.
A longo prazo há ainda a energia de fusão nuclear, explica o professor Viana. Diferente do processo já existente, que é de fissão, os núcleos dos elementos não são divididos, mas unidos, o que libera uma grande quantidade de energia. "O que se tenta já há muitas décadas é realizar esse processo em reatores. Talvez nossos filhos e netos possam se beneficiar dessa tecnologia", diz. Esse processo é menos arriscado, não produz lixo radioativo e tem matéria prima abundante, já que usa a própria água como combustível.
As escolhas dos rumos a serem tomados em uma área essencial, como a geração de energia, devem ser feitas em conjunto com a população, enfatizam os especialistas, pois não existe produção sem riscos ou impactos ambientais. "A sociedade deve ser informada, pelos canais de representação democrática, sobre os prós e contras e escolher se quer ou não correr os riscos", diz. "O que o mundo tem que entender é que produzir energia vai ser cada vez mais caro e sempre vai ter risco. Talvez a melhor saída seja efetivamente economizar. Ter um uso mais racional da energia. Isso, sim, tem risco zero", conclui Pires.
* * * *
Angra produz 2,5% da energia no Brasil
Apenas 2,5% da energia elétrica gerada no Brasil vem das usinas de Angra 1 e 2. Na quinta-feira, o ministro de Minas e Energia do Brasil, Edison Lobão, informou que as duas usinas nucleares brasileiras passarão por um rigoroso teste de segurança e que a construção de Angra 3 deve continuar. O ministro também não mencionou alterações ou a revisão do programa nuclear brasileiro, que prevê a construção de mais quatro usinas até 2030.
Segundo Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energia do Greenpeace no país, como a fonte nuclear tem uma pequena participação na matriz energética brasileira, não se justifica sua existência.
O Greenpeace também aponta problemas em relação ao relevo do local onde estão as usinas falhas nas rotas de emergência. "Poderíamos ser a primeira grande economia a ter apenas energia renovável", diz.
Deixe sua opinião