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Não dá para compreender a sociedade líbia se utilizando de padrões ocidentais. Por lá prevalecem as tribos, um modo de organização social próprio do mundo árabe. Consequentemente, as relações entre elas também são pautadas por regras distintas das que se tem aqui: obedecem, fundamentalmente, a critérios de "espírito de corpo" e clientelismo.

"A identidade de um indivíduo árabe passa pela família, pelo clã e pela tribo, nesta ordem", explica o professor Jamil Zugueib Neto, estudioso da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em violência, religião e política no mundo árabe. Importa também, diz ele, a genealogia das grandes famílias, ou seja, a origem delas. "Existem tribos, por exemplo, que se dizem descendentes do profeta Maomé."

De acordo com Zugueib Neto, o "espírito de corpo" pode ser compreendido pelo seguinte pensamento árabe "clássico": "Eu com o meu irmão somos contra os nossos primos. Mas eu, meu irmão e meu primo somos contra o estrangeiro".

O clientelismo, segundo o professor, funciona como uma espécie de rede de trocas e proteção. "É um acordo tácito que cria ligações afetivas em torno de interesses comuns", diz. "No mundo árabe, você defende o seu ‘cliente’. Quando ele vem a sua casa ou estabelecimento, ele é percebido como alguém importante, que lhe traz informações. Logo, ‘eu’ cuido do meu ‘cliente’, assim como ele faz votos de fidelidade a ‘mim’."

No caso específico da Líbia, o populismo é marcante na relação entre o ditador Muamar Kadafi e as tribos, aponta o professor. "Ele se autointitulou o ‘rei do arabismo’ e quis fundar uma ‘república das massas’. Afirmou que o modelo de democracia dele era o verdadeiro, pois estaria mais próximo das pessoas. O problema é que, entre a intenção e a prática, a segunda se mostrou muito distante."

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