Lenda da esquerda latino-americana, Fidel Castro, morreu às 22h29 (no fuso horário cubano) de sexta-feira (25), informou seu irmão e atual presidente Raúl Castro. Fidel foi o líder histórico da revolução cubana, que, mais de cinco décadas depois sobrevive como um dos últimos regimes comunistas do mundo. Fidel encarnou o símbolo do desafio a Washington: o guerrilheiro de barba e uniforme verde oliva, que fez uma revolução socialista, marxista-leninista, a apenas 150 km do litoral dos Estados Unidos.
Fidel governou por 48 anos a ilha, mas continuou sendo o guia ideológico da revolução mesmo quando, doente, delegou o poder a seu irmão Raúl, cinco anos mais velho, em 31 de julho de 2006. No dia 1 de janeiro de 1959, Fidel Castro, à frente do em exército de “barbudos”, derrotou o ditador Fulgêncio Batista, após 25 meses de luta nas montanhas de Sierra Maestra. Este dia foi o começo de um pesadelo para Washington e uma era de polarização na América Latina.
Em seu comando, Cuba participou do momento mais quente da Guerra Fria, converteu-se em um ponto de resistência da esquerda, inspiração e sustentação de grupos armados que enfrentaram regimes de direita e sangrentas ditaduras, na época financiadas pelos Estados Unidos em seu afã de frear o avanço do comunismo.
O patriarca
No governo de Fidel nasceram 70% dos 11,2 milhões de habitantes da ilha. Seus opositores o viam como implacável ditador que acabou com as liberdades, submeteu os cubanos a penúrias econômicas e não admitiu a decadência. Mais de 1,5 milhão de pessoas partiram para o exílio, principalmente para Miami, nos Estados Unidos.
Mas, para seus seguidores, ele sempre foi um paradigma da justiça social e da solidariedade para com o Terceiro Mundo, elevando Cuba à potência mundial no esporte, com os níveis de saúde e educação mais elevados da América Latina.
Fidel nasceu na oriental aldeia de Birán, no dia 13 de agosto de 1926, terceiro dos sete filhos do imigrante espanhol Angel Castro e da camponesa cubana Lina Ruz. Foi educado e disciplinado desde pequeno por jesuítas, mas moldou sua rebeldia inata na Universidade de Havana, onde se graduou em direito em 1950.
Iniciou a revolução cubana aos 26 anos quando, com pouco mais de cem homens, tentou invadir, no dia 26 de julho de 1953, a segunda fortaleza militar da ilha, o quartel Moncada.
Sua famosa frase “A história me absolverá”, dita quando foi julgado por essa ação, mostrou o quanto compreendia do poder destas palavras. Foi um dos maiores oradores dos últimos 50 anos, famoso por seus discursos absurdamente longos.
Ficou exilado no México e retornou com 81 homens, entre eles o argentino Ernesto Che Guevara e seu irmão, em um desastroso desembarque no dia 2 de dezembro de 1956 para iniciar a guerra que derrotou Batista.
Sua história e a da revolução se confundem numa só. Sobreviveu a uma invasão da Baía dos Porcos, em 1961, à crise dos mísseis em 1962 e à desintegração da União Soviética. Sustentou militarmente e economicamente a ilha por mais de três décadas.
Onze homens da Casa Branca tentaram asfixiar o governo comunista por meio de um embargo econômico, vigente desde 1962, considerado “criminoso” por Havana e, segundo os opositores de Fidel, utilizado por ele como justificativa para o desastre da economia.
De acordo com as forças de segurança cubana foram 638 complôs orquestrados contra Fidel Castro, principalmente pela CIA.
Conspirador nato, teimoso e mestre na arte da estratégia, a emoção do risco foi o maior estímulo de sua vida. Em cada derrota via uma vitória disfarçada. Era um péssimo perdedor.
Praticou natação, basquetebol, beisebol, caça submarina e outros esportes. Disciplinado, em 1959 fumava em média uma caixa de charutos por dia, mas, no final de 1985 parou de fumar para combater o tabagismo em um país produtor de tabaco por excelência.
Homem de ação, leitor voraz dotado de uma memória invejável, conversador inveterado e inquieto, Fidel viveu em uma relativa austeridade.
Quando ficou doente em julho de 2006, manteve um regime de trabalho alucinante, ocupando-se do menor problema doméstico até o movimento mais calculado do xadrez político internacional. Contudo, um desmaio em 2001 e uma queda em 2004 acionaram os alarmes quanto à saúde do homem mitificado, acreditado como imortal por muitos cubanos.
Ergueu um intransponível muro entre sua vida pública e privada. São conhecidos oito filhos seus: seu primogênito ‘Fidelito’, do casamento com Mirta Díaz-Balart; Alina Fernández e Jorge Angel, de outras duas relações; Alejandro, Antonio, Alexis, Alex e Angel, com Delia Soto del Valle, sua parceira por décadas até sua morte.
Muitos amores passaram por sua vida, apesar disso se dizia tímido com as mulheres. Em um país engraçado, musical e sensual, era pouco dado a piadas e não sabia dançar.
Sempre foi um guerrilheiro, simbolizado por seu eterno traje verde oliva de Comandante-em-Chefe. “Jamais deixarei a política”, disse uma vez. Mas, depois das crises de saúde, no crepúsculo de sua vida passou a se dedicar a leitura e escrita, autointitulando-se “soldado das ideias”. Na véspera da revolução disse aos seus companheiros: “Não viverei nem um dia a mais depois do dia de minha morte”.
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