Soldados e policiais hondurenhos retiraram corpos carbonizados da Penitenciária Nacional de Comayagua, empilhando-os em sacos pretos no lado de fora da prisão onde 350 pessoas morreram em um incêndio na terça-feira à noite.
Os familiares das vítimas se dispersaram durante a noite, mas os trabalhadores continuavam amontoando os corpos, que caíam uns sobre os outros com um ruído surdo.
"Os corpos estão carbonizados, e alguns estão amontoados", disse o soldado Johnny Ordoñez, acrescentando que é difícil separá-los.
O incêndio, aparentemente iniciado por um detento, foi uma das piores tragédias carcerárias da história mundial, representando mais um triste recorde para Honduras, país que tem a maior taxa mundial de homicídios, segundo relatório da ONU no ano passado.
Em meio ao fogo, alguns dos cerca de 850 presos conseguiram escapar pelos tetos de zinco da cadeia, uma labiríntica estrutura com estreitos corredores a céu aberto e com muralhas de tijolos pintados de azul e branco.
Mas, quando a imprensa foi autorizada a entrar, ainda havia sinais dos que não conseguiram escapar da penitenciária, onde havia um forte cheiro de carne queimada.
Um cadáver calcinado estava de bruços, com as pernas encolhidas numa posição fetal, e os braços esticados para o canto da cela. Dois policiais e um soldado apareceram para arrastá-lo, colocando-o na pilha de corpos.
Perto dali, numa área recreativa, um violão jazia sobre um piso encharcado de sangue, ao lado de mesas de bilhar queimadas.
Empilhados sobre carretas, os corpos eram enviados para um necrotério em Tegucigalpa, a capital, onde parentes aguardavam.
"Estou aqui pelo corpo do meu filho, preciso enterrá-lo, minha mulher e o resto da minha família estão esperando por mim", disse o agricultor Octavo Aguilera, de 59 anos. "Não vou sair daqui sem ele."
O Ministério Público disse que houve 359 mortos, mas a polícia afirmou que alguns presos dados como mortos podem ter fugido.
Sobreviventes acusaram os carcereiros de ignorarem seus pedidos de ajuda, e relataram cenas horripilantes de pessoas consumidas pelo fogo dentro das celas.
"'Guardas, estamos queimando, estamos morrendo, abram as celas', gritavam eles, mas os guardas não queriam ajudar, eles deixaram as pessoas morrerem", disse o sobrevivente Antonio Valladares a uma rádio local.
O governador provincial disse que o incêndio foi iniciado por um preso que, por razões desconhecidas, teria queimado um colchão.
Em frente à prisão, policiais olhavam impassíveis as dezenas de parentes e amigos dos presos, que atiravam paus e gritavam "assassinos".
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