Se seus pais viviam reclamando que você era uma pessoa em casa e outra totalmente diferente quando estava com seus amigos, saiba que as moscas-das-frutas passam exatamente pelo mesmo problema. Duas pesquisas publicadas nesta semana mostram que, tal como os seres humanos, os insetos são profundamente influenciados pelo grupo social no qual estão inseridos, alterando até a freqüência com que fazem sexo.
O achado, feito por pesquisadores da Universidade de Toronto em Missisauga, no Canadá, está relatado em dois artigos na revista científica "Current Biology". Os cientistas verificaram que, ao colocar os bichinhos em grupos sociais diferentes, seu comportamento podia se alterar em questão de apenas um dia - mudança que também era acompanhada por alterações na atividade de certos genes do organismo das moscas.
"Muita gente assume que a comunicação entre os insetos é um processo automático e inato", afirmou em comunicado oficial Joel Levine, coordenador do estudo. "O que nos observamos é que a comunicação pode ser influenciada pelos relacionamentos entre indivíduos mesmo em insetos como as moscas-das-frutas, que tradicionalmente não são consideradas uma espécie social. Vimos respostas individuais que parecem ser alteradas rapidamente. Esse nível de espontaneidade, ou plasticidade, é complexo porque ocorre em muitos níveis: tecidos neuronais e não-neuronais, mudanças em expressão de genes e fisiologia e mudanças em comportamento, tudo de forma interrelacionada", declara Levine.
Os pesquisadores canadenses estudaram células especializadas, os oenócitos, que produzem sinalizadores químicos os quais são passados de mosca para mosca. A atividade dos oenócitos é regulada por um relógio biológico interno desses insetos, mas o "tique-taque" desse relógio depende do contexto social. Por exemplo: se os machos da espécie eram colocados num grupo geneticamente diversificado, em vez de num grupo no qual o DNA de todas as moscas era muito parecido, esse tique-taque se alterava, e a atividade sexual naquele grupo aumentava.
"A reação de cada macho individual a outros depende dos seus vizinhos", diz Levine. "Essa reação é muito específica, porque afeta algumas das substâncias produzidas pelas moscas, mas não outras", conclui o pesquisador.