Extremismo é improvável, dizem especialistas
A eliminação de qualquer tipo de oposição política líbia e a natureza popular das recentes revoltas árabes lançaram uma cortina de fumaça em questões como que grupos estão por trás dos movimentos e quem sucederia o ditador Muamar Kadafi numa eventual queda. Temor declarado pelas potências ocidentais, a possibilidade de transformação da Líbia em uma república radical islâmica ou teocrática, nos moldes do Irã, é praticamente nula, avaliam especialistas.
Turismo
Crise já afeta os vizinhos
Apesar de toda a riqueza histórica e cultural, Líbia e Tunísia passam longe da lista de destinos africanos mais procurados por brasileiros encabeçada por Egito, África do Sul e Marrocos. De acordo com agências de turismo, a Tunísia chega a ter uma procura "relativa", mas a Líbia é bem pouco visitada em função das dificuldades de acesso e de se obter visto.
Para alguns viajantes, no entanto, a excentricidade política líbia chegou a ser atrativo. "Tivemos um passageiro que frisou que queria muito conhecer a terra de Kadafi", conta Shizu Yoshiura, diretora da Mundus Travel Operadora de Viagens
As recentes revoltas políticas no mundo árabe, porém, têm prejudicado o setor. "E acabam afetando outros países", afirma Renata Galvão, da Geômade Turismo. "Várias pessoas já estão entrando em contato para saber de cancelamento de pacotes para outros destinos, como Egito, Israel e até Turquia, apesar da distância."Shizu Yoshiura, da Mundus Travel, confirma: no momento, a expectativa é "obviamente de não procura por estes destinos".
Para visitar um dos dois países, o interessado desembolsa entre US$ 1.700 e US$ 2.600 por uma semana de hospedagem, passeios e passagem aérea.
A costa banhada pelo Mar Mediterrâneo é exuberante. O interior, único: abriga o maior deserto do mundo e seus mistérios. Pela região viveram seres pré-históricos, fenícios, gregos, romanos, árabes, otomanos e europeus que lá deixaram os vestígios de suas passagens. O povo, organizado de modo distinto dos padrões ocidentais, exibe uma cultura peculiar e diversa. Líbia e Tunísia, dois dos países mais chacoalhados pela recentes revoluções árabes, têm muito mais a mostrar do que cenas de turbulência política.
Os últimos mandatários não ajudaram muito a evidenciar tal riqueza. "Assim que o Muamar Kadafi tomou o poder na Líbia, em 1969, fechou o país e acabou escondendo um lugar muito interessante", avalia o professor de História Wilson Maske, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Em território líbio, é possível encontrar desde arquitetura em art decaux italiana do século 20 a relíquias pré-históricas. "Em tempos remotos, a região que hoje abriga o Saara já foi bem mais úmida", conta Maske. "Os desenhos rupestres encontrados revelam que havia uma grande diversidade de animais e uma vegetação que não existem mais."
Renato Carneiro, que leciona História no curso de Relações Internacionais do Unicuritiba, destaca a importância da região na Antiguidade. "Cartago, na Tunísia, era a maior cidade do norte da África. Tinha um poder imenso e rivalizava com Roma, que teve de produzir uma guerra extremamente dura, de anos e anos, até vencê-la."
Deste conflito, um dos vários frutos que renderam aos romanos foi a cidade de Leptis Magna. "A partir de 1920, muitos tesouros arqueológicos foram encontrados ali", cita Carneiro.
As ruínas de Leptis Magna figuram entre os locais mais visitados na Líbia até hoje.
Renata Galvão, da Geômade Turismo, que organiza viagens àqueles destinos, lista outras riquezas. Na Tunísia, o lago salgado de Chott El Jerid; as ruínas de Douga; e a região de Matmata, onde há habitações trogloditas "escavadas nas escarpas dos montes, praticamente camufladas e protegidas de frio, calor e inimigos".
Na Líbia, além de Leptis Magna, Renata Galvão ressalta a importância da cidade de Sabrahta, que por muito tempo foi ponto final das caravanas que traziam ouro, escravos, marfim e plumas de avestruz.
Abertura
O aumento do turismo, decorrente de uma eventual abertura politica dos países, é uma aposta dos especialistas, principalmente em razão da proximidade geográfica entre o norte africano e o sul da Europa. "Esse contato vai fazer com que haja uma redescoberta das riquezas e uma tentativa de preservação", conclui Maske.
O temor, aponta Carneiro, é o de que essa abertura seja precedida por uma intervenção militar dos Estados Unidos, como tem sido ameaçado. "Por mais que eles digam que fazem bombardeios cirúrgicos, não são muito preocupados em preservar os patrimônios".