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Na Síria, 203 membros do partido de Assad deixam sigla

Em protesto contra a violenta repressão aos manifestantes na Síria, 203 membros do governista Partido Baath anunciaram ontem seu afastamento da sigla. Com isso, subiu para 233 o número de pessoas que deixaram o Baath, segundo listas obtidas pela France Presse.

O mais recente grupo a anunciar a saída do partido é formado por pessoas da região de Houran, onde fica a cidade de Deraa, no sul do país, epicentro dos protestos contra o governo. Antes, 30 pessoas haviam deixado a sigla em Banias, cidade também foco de várias manifestações, no noroeste sírio. No poder desde 1963, o Partido Baath possui dezenas de milhares de membros e também o monopólio da política do país.

"Os serviços de segurança demoliram os valores com os quais cresceram. Nós denunciamos e condenamos tudo que ocorreu e anunciamos com pesar nossa renúncia do partido", afirmou o grupo em comunicado assinado. "As práticas dos serviços de segurança contra nossos cidadãos desarmados são contra todos os valores humanos e os slogans do partido."

Os signatários da região de Banias condenaram também as incursões em casas e o "uso indiscriminado de balas de verdade contra pessoas, casas, mesquitas e igrejas". Um grupo oposicionista convocou hoje pela internet protestos para o dia seguinte contra o presidente Bashar Assad. "Sexta-feira de fúria 29 de abril, em solidariedade a Deraa", afirma uma mensagem na página Revolução Síria 2011, no Facebook.

Ocorrem na Síria grandes protestos por democracia desde 15 de março, que desestabilizaram o antes incontestável regime de Assad. As autoridades recorreram à violência, matando pelo menos 453 civis nas últimas semanas, segundo grupos pelos direitos humanos. Na segunda-feira, entre três mil e cinco mil soldados, auxiliados por tanques e atiradores de elite, entraram em Deraa, cem quilômetros ao sul de Damasco, e tomaram a cidade. Segundo ativistas, mais de 30 pessoas morreram na ação militar na cidade próxima da fronteira com a Jordânia.

Assad acabou na semana passada com as leis emergenciais que vigoravam havia quase cinco décadas e aboliu um repressivo tribunal de segurança estatal, em uma tentativa de aplacar os protestos. Na sexta-feira passada, houve protestos contra o domínio do Partido Baath na política e pela libertação de presos políticos. Porém as forças de segurança usaram gás lacrimogêneo e balas de verdade para acabar com essa manifestação, matando mais de cem pessoas e prendendo centenas. Hoje, centenas de sírios fugiram a pé para o norte do Líbano, após o início dos distúrbios na fronteiriça cidade síria de Tall Kalakh.

Investigação

A Rússia pediu à Síria, um país aliado, que realize uma investigação sobre as mortes de civis nos protestos. O pedido foi feito por um porta-voz da chancelaria em Moscou, segundo a agência ITAR-TASS. Ontem, a Rússia advertiu as potências ocidentais do Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) contra a "interferência externa" na crise síria. O CS não chegou a um acordo para aprovar um comunicado conjunto sobre a violência no país árabe.

A crise síria repercutiu até no casamento da realeza britânica. O ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, informou que o embaixador da Síria não deve comparecer ao evento da sexta-feira, por causa da violência contra os manifestantes no país. O anúncio foi feito pela chancelaria em comunicado, após a criação de uma polêmica no Reino Unido em torno do convite que havia sido feito ao embaixador sírio para a festa da realeza.

"O Palácio de Buckingham compartilha a visão da chancelaria de que não é considerado apropriado para o embaixador sírio comparecer ao evento", afirma o comunicado do Ministério das Relações Exteriores britânico. Hague criticou a repressão governamental a manifestantes na Síria.

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