O governo da Bolívia anunciou nesta quarta-feira (17) que o diálogo com os governadores das cinco províncias rebeldes vai começar na quinta na cidade de Cochabamba.
O presidente Evo Morales tentou antecipar o início do diálogo para esta quarta mesmo, mas isso não foi possível por "questões logísticas".
A Bolívia tenta voltar à normalidade após os confrontos dos últimos dias, que provocaram a morte de cerca de 30 pessoas e deixaram centenas de feridos, a maioria deles no estado de Pando, no norte do país. Houve bloqueio de estradas, invasão de prédios federais e até uma interrupção parcial do fornecimento de gás natural boliviano para Brasil e Argentina.
Observadores da OEA (Organização dos Estados Americanos), das Nações Unidas e da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) vão participar do diálogo.
O porta-voz do governo, Iván Canelas, disse que estas três entidades foram convidadas a enviar representantes. Ele também disse que um nome da Igreja Católica vai estar presente, atendendo a pedidos dos opositores. Morales também convidou delegados das igrejas metodista e evangélica.
O presidente propôs um sistema de negociação intensivo, a portas fechadas e em tempo integral para que se chegue a um acordo antes de um mês, como previsto no "pré-acordo" firmado na terça.
Enquanto se prepara o diálogo, as bases de Morales continuavam mobilizadas no departamento de Santa Cruz para cercar a capital. No final da tarde, líderes dos piquetes disseram que iriam esperar o resultado das negociações de Cochabamba antes de marchar para a cidade.
Cerca de cinco mil camponeses bloqueavam nesta quarta a ponte sobre o rio Yapacaní, a 100 quilômetros ao norte da cidade de Santa Cruz, e não permitiam a passagem de veículos desde 15 quilômetros ao norte e a uma distância equivalente ao sul.
Eles pedem a devolução das instituições estatais tomadas pelos autonomistas em Santa Cruz.
O presidente selou um pacto com os líderes sindicais e movimentos sociais para que liderem "as lutas" contra os grupos oligárquicos, fazendeiros e "pró-ianques" do país.
Pré-acordo
O governo boliviano e a oposição firmaram na noite desta terça um "pré-acordo" para pacificar o país. O governador de Tarija e representante oposicionista Mario Cossío disse que o documento discutido com o vice-presidente, Alvaro García, nos últimos cinco dias foi aceito e firmado por ele, na presença do cardeal Julio Terrazas.
"Que seja o início de um grande acordo nacional para dar paz e tranqüilidade a nossa gente", destacou Cossío, que negociou o documento também em nome dos governadores de Santa Cruz, Chuquisaca, Beni e Pando.
O governador do departamento de Santa Cruz, Rubén Costas, principal líder do movimento contra Morales, acompanhou a assinatura do documento, qualificado pela oposição de "pré-acordo".
"Às quatro da manhã (de terça-feira) recebemos um pré-acordo e o aprovamos. O departamento de Santa Cruz (...) e suas instituições decidiram firmar este texto para buscar um grande pacto social, um grande acordo nacional, e para que a paz retorne", disse Costas em entrevista antes de assinar o documento.
O acordo aponta como facilitadores e testemunhas do diálogo a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), a Igreja Católica, a União Européia, a OEA (Organização dos Estados Americanos) e as Nações Unidas. O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, deve chegar a La Paz na quinta-feira para participar do processo.
O documento prevê o restabelecimento de negociações em dois dias, a desocupação das repartições públicas tomadas pelos opositores e uma ampla investigação sobre o massacre de camponeses no departamento de Pando, cujo governador, Leopoldo Fernández, foi preso na terça-feira sob a acusação de ignorar o estado de sítio na região. A negociação tem prazo de um mês.
"Pedimos às autoridades nacionais que respeitem os direitos humanos, que respeitem a vida, as liberdades políticas", destacou Rubén Costas.
A Bolívia está afundada em uma grave crise política, com cinco dos nove departamentos do país exigindo autonomia, maior participação nos royalties do petróleo e gás e rejeitando a nova Constituição, que deve ser aprovada por um referendo popular em dezembro próximo.