O presidente Evo Morales e os governadores bolivianos retomaram nesta sexta-feira (19) o diálogo para tentar superar a crise política que deixou o país à beira do caos. A oposição disse que qualquer acordo levará algum tempo, e que não adianta o governo ter pressa.
O diálogo com os governadores de oito dos nove departamentos (Estados) em Cochabamba (região central) foi iniciado na quinta-feira com uma sessão de 16 horas, em que foi decidida a criação de três comissões de trabalho.
A crise boliviana se deve à resistência da oposição, especialmente no leste do país, a uma nova Constituição com a qual o socialista Morales pretende ampliar os direitos da maioria indígena, aumentar a presença do Estado na economia e promover uma reforma agrária.
A oposição de Santa Cruz, Beni, Pando, Tarija e Chuquisaca exige autonomia para esses departamentos e a devolução de um imposto sobre o gás e petróleo extraído nessas regiões, que Morales transferiu ao governo nacional para financiar uma renda mínima para idosos.
Centenas de camponeses e mineiros seguidores de Morales chegam na sexta-feira a Cochabamba, fazendo a oposição se sentir pressionada para que as negociações durem menos que os 30 dias estipulados, um desejo que o presidente já manifestou.
"O importante é que o país tem que saber que conseguimos iniciar o diálogo", disse o governador de Tarija (sul), Mario Cossio, que admitiu que um acordo definitivo ainda vai demorar.
Morales, que participou das negociações até pouco antes de 0h de sexta-feira, viajou pela manhã ao Panamá, onde receberia uma homenagem , e deve regressar à Bolívia no fim da tarde.
Seguidores do governo mantêm o bloqueio de rodovias em Santa Cruz, no leste, a região mais próspera da Bolívia e o principal reduto da oposição.
Por causa dos protestos de ambas as partes, várias empresas cancelaram sua participação em uma importante feira agro-industrial que será inaugurada na noite de sexta-feira em Santa Cruz.
Pando
O ministro de Governo, Alfredo Rada, comunicou a descoberta de mais dois cadáveres de vítimas da chacina da semana passada em Pando, o incidente mais violento da atual onda de protestos no país, que levou também à ocupação de prédios públicos e à paralisação momentânea da exportação de gás para o Brasil e a Argentina.
Na sexta-feira passada, o governo decretou estado de sítio em Pando, e dias depois prendeu o governador oposicionista local, acusado de ordenar o massacre. Na quinta-feira, a Justiça negou pedido de liberdade para o governador Leopoldo Fernández.
Com os dois mortos relatados, sobe a 19 o número oficial de mortos no incidente.
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