Em 2007, as áreas públicas do Teatro Colón, em Buenos Aires, foram restauradas; neste ano, a direção artística também mudou| Foto: Diego Levy/for The New York Times

O Teatro Colón é como uma grande dama, elegante e imponente. Com um século de idade, o prédio é um dos marcos mais importantes da cidade, resquício de uma era mais próspera, quando artistas como Toscanini, Caruso e a companhia Ballets Russes se apresentavam ali com frequência.

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Numa tarde recente, três casais estavam posicionados em um estúdio. Os homens tinham as pontas dos dedos encostadas nas têmporas de suas parceiras, que se equilibravam sobre uma perna, enquanto a outra se estendia num arabesco. O gesto, que faz parte do balé “Sylvia”, de 1952, de Frederick Ashton, representa uma carícia e também um gesto de formação de parceria.

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“Em todos os balés de Ashton, há um clímax”, disse Susan Jones, professora de balé do American Ballet Theater que foi a Buenos Aires para ensinar os membros da companhia Ballet Estable del Teatro Colón a dançar “Sylvia”, “e este é o clímax.” “Sylvia” será apresentado no Colón como parte da temporada final projetada pela antiga diretora artística da companhia, Lidia Segni.

Em fevereiro, a direção foi para as mãos de Maximiliano Guerra, ex-astro do Colón que trabalhou no London Festival Ballet e no La Scala. Guerra comentou que quer levar a companhia em um rumo mais contemporâneo. Em 2016 ele quer apresentar obras de Nacho Duato e Sasha Waltz.

Ao longo dos anos, a Argentina produziu um fluxo constante de bailarinos excepcionais, começando com María Ruanova, que em 1942 protagonizou uma obra criada por George Balanchine especialmente para o Colón, “Concierto de Mozart”. Houve muitos outros, incluindo Olga Ferri, na década de 1960, e, mais recentemente, Paloma Herrero e Herman Cornejo.

Uma explicação está ligada à relativa estabilidade da Argentina na primeira metade do século 20, quando a Europa foi sacudida por guerras. Dançarinos vieram da Europa e, mais tarde, criaram escolas para formar a geração seguinte de bailarinos.

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Os estudantes mais determinados estudavam gratuitamente na academia oficial de artes e também faziam aulas particulares. “Meu professor, Wasil Tupin, nos ensinou a técnica francesa, com muitos saltos e batidas. Na escola, nos ensinavam a técnica russa”, contou Guerra. “Assim, quando fui a Londres, foi fácil para mim dançar Bournonville. E quando fui convidado para dançar no Bolshoi, eu tinha a força e a massa muscular necessárias para dançar devagar, como os russos.”

Muitos dos melhores bailarinos acabaram partindo. Os problemas financeiros da Argentina nas últimas quatro décadas prejudicaram as instituições culturais. A temporada encolheu, passando de cerca de 15 balés para apenas cinco.

Em 2007, o Teatro Colón foi fechado para reformas. As áreas públicas estavam resplandecentes quando o teatro foi reaberto, em 2010, mas suas partes menos destacadas continuam inacabadas.

Nos dias de chuva, há vazamentos nas áreas de armazenagem (vale lembrar que a maioria dos cenários e figurinos ainda é produzida no próprio teatro, em oficinas que empregam 400 artesãos).

No entanto, os artistas ainda sentem muito orgulho do teatro. “O palco é fantástico”, comentou a bailarina Karina Olmedo, veterana de quase três décadas. Com 2.487 lugares, o Colón é majestoso e convidativo, e sua acústica é legendária.

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A companhia continua a atrair bailarinos de peso. Aos 22 anos, Macarena Giménez demonstra potencial enorme, com uma abordagem natural aos passos. Se o Colón conseguir conservá-la, é muito possível que ela represente o próximo capítulo na história do balé na Argentina.