Há décadas, analistas e teóricos preveem um futuro com carros autônomos, e empresas como o Google trabalham há anos para tornar essa ideia realidade.
Mas o sedã Mercedes-Benz S550, de US$ 136 mil, com bancos dianteiros massageadores, bancos traseiros reclináveis e um painel digno de um caça a jato, mostra que o futuro do transporte já chegou. O carro semiautônomo de hoje não é o único sinal de que o transporte está mudando rapidamente.
Analistas dizem que os avanços nesse setor são mais visíveis nas cidades, onde a tecnologia está permitindo o compartilhamento de carros por meio de aplicativos, novos modos de dirigir e estacionar, novas formas de deslocamento em curta distância e miniônibus particulares com assentos reservados por telefone.
Sistemas de comunicação e sensores instalados nas ruas e nos automóveis oferecem a possibilidade de estradas inteligentes, e sistemas como a energia solar modificam os custos ambientais do transporte. A tecnologia também está criando novas opções de locomoção para curtas distâncias, como motos elétricas, com baixo consumo de energia.
“Os carros vão mudar mais nos próximos 20 anos do que mudaram nos últimos 75”, disse M. Bart Herring, da Mercedes-Benz USA. “O que fazíamos há dez anos não era muito diferente de 50 anos atrás. Já o que acontecerá nos próximos 20 anos é equivalente ao pouso na Lua”.
Mas o sistema de transporte do futuro também pode ser mais complexo juridicamente e, dado o uso crescente de sistemas privados, mais desigual.
Além disso, as modificações poderão ocorrer mais depressa do que a capacidade de adaptação das leis e normas sociais.
“Tudo o que pensamos que acontecerá logo, como carros completamente autônomos, levará muito tempo”, disse Bryant Walker Smith, da faculdade de direito da Universidade da Carolina do Sul. “Mas o que não esperamos é que virá realmente rápido.”
Usando radares e câmeras, o S550 pode se centralizar em uma pista de rolagem, manter uma distância segura do veículo à frente e frear e desviar automaticamente para acompanhar o tráfego.
Porém, isso não significa que o motorista possa cochilar na estrada. O sistema de autocondução, por exemplo, não faz curvas fechadas. O carro também emite um alarme quando o motorista tira as mãos do volante por mais de dez segundos.
As tecnologias que estão trazendo mudanças nos transportes são as mesmas que modificam outros setores: sensores, smartphones e software.
Os sensores ajudam os carros, as estradas e outros elementos da infraestrutura moderna a se tornarem “conscientes”, permitindo que eles identifiquem outros veículos e as estradas a seu redor.
Os smartphones podem localizar e situar as pessoas. Eles também ajudam empresas a receber pagamentos e orientam eficientemente motoristas e passageiros. Além disso, permitem que empresas como a Leap Transit, um dos vários serviços de ônibus privados de luxo movidos a apps que operam em San Francisco, a medir a demanda em suas rotas.
Por fim, o software liga os sensores aos smartphones. Quando todo o sistema de transporte estiver conectado, o software vai analisar todos os dados para realocar recursos, identificar situações de emergência e adotar medidas assim que necessário.
“Estamos acrescentando inteligência a todas as etapas do sistema”, disse Stefan Heck, pesquisador convidado na Universidade Stanford, na Califórnia.
Como muitos que estudam o assunto, ele afirma que a condução autônoma e outros avanços tornarão o transporte mais seguro. A maioria dos acidentes é causada por erros humanos que teoricamente poderiam ser atenuados ou evitados pela inteligência artificial.
Reduzir as fatalidades nas estradas americanas em dezenas de milhares está dentro do plausível, segundo especialistas e fabricantes de veículos. Em 2008, a fábrica de carros sueca Volvo estabeleceu uma meta: até 2020 “ninguém será gravemente ferido ou morrerá em um novo Volvo” —objetivo que depende em grande parte da crescente automação.
Os ganhos em eficiência também são prováveis. Hoje, os carros passam a maior parte do tempo ociosos e frequentemente carregam um único passageiro.
Isso poderá mudar não apenas com o compartilhamento do transporte facilitado pelos smartphones e com a propriedade reduzida dos veículos, mas também porque a automação modificará a própria condução.
Os carros imunes a acidentes poderiam ser mais leves, ficar mais próximos uns dos outros nas vias expressas e trafegar em pelotões, reduzindo os congestionamentos. As estradas inteligentes, afirma Heck, poderiam poupar um número incalculável de vidas e centenas de bilhões de dólares.
Mas o caminho para a plena automação não deverá ser rápido.
Apesar de o Google ter anunciado que em breve começará a testar carros autocondutores, muitos especialistas acreditam que os carros totalmente autônomos ainda vão demorar pelo menos uma década para serem lançados.
Protótipos de carros autocondutores do Google geralmente são equipados com um sensor a laser que custa cerca de US$ 85 mil. Outros equipamentos também são caros demais para os carros produzidos hoje. Porém, se a automação plena ainda está a anos de distância, já existem o que os fabricantes de automóveis chamam de características “semiautônomas” —e elas estão ficando melhores e mais baratas a cada ano.
São os sistemas de radar, câmeras e ultrassom. Juntos, esses sensores permitem que o carro “veja” muita coisa que o motorista provavelmente não veria, como uma redução súbita da velocidade do terceiro veículo à sua frente.
Em breve, alguns carros poderão aproveitar dados de telemetria, podendo indicar o início de um congestionamento, por exemplo, ou uma curva perigosa.
O Instituto de Dados sobre Perdas no Tráfego, que acompanha estatísticas relacionadas a seguros automotivos nos EUA, descobriu que o sistema de prevenção de colisão dianteira da Volvo, que desacelera ou detém o carro se pressentir um choque iminente, reduziu as indenizações por ferimentos corporais em 18%.
Muitos fabricantes de veículos vendem sistemas semiautônomos como um adicional por cerca de US$ 3.000 ou menos. Vários disseram prever que essas tecnologias serão padrão em um amplo leque de veículos.
Se continuarem demonstrando ganhos em segurança e eficiência, essas tecnologias poderão um dia até ser exigidas pelo governo.
Erik Coelingh, da Volvo, disse sobre as funções semiautônomas: “Não há uma tecnologia fundamentalmente cara envolvida em qualquer parte disto”.
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