No Alasca, os incentivos estão atraindo os consumidores de baixa renda às feiras livres, onde é possível comprar frutas, legumes e verduras cultivados localmente| Foto: Erin Corneliussen

O sabor divino do tomate de fim de verão, pego no pé, é uma maravilha que escorre pelo queixo de muitos norte-americanos. Menos no Alasca. Em Fairbanks, a apenas 320 km do Círculo Polar Ártico, o solo continua gelado em junho; o verão mesmo, só leva a melhor em meados de agosto.

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Em Fairbanks, a apenas 320 km do Círculo Polar Ártico, o solo continua gelado em junho; o verão mesmo, só leva a melhor em meados de agosto.

No mapa de dificuldade de plantio do Departamento de Agricultura dos EUA, uma mancha azul no interior do Alaska mostra onde os invernos brutais, cujas temperaturas caem a muito abaixo de zero, dificultam a sobrevivência de qualquer coisa que não sejam as plantas – e pessoas – mais resilientes do planeta. Como resultado, o estado importa 95 por cento dos alimentos que consome.

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Os defensores do locavorismo, porém, estão tentando mudar o conceito de que o consumo dos alimentos cultivados no Alasca é impossível ou muito caro. Estimulados por um programa estadual que ajuda as escolas a comprar produtos locais – e incentivos de assistência federais que estão atraindo o setor de baixa renda às feiras — estão ensinando os pequenos produtores a chamar a atenção do público e o consumidor, a saber como e onde comprar.

Muita gente que faz parte da nova onda diz que o calendário curto e as limitações das zonas de plantio podem enganar. Com mais de 22 horas de luz do sol nos dias mais longos de junho, as hortas do extremo norte podem literalmente explodir, gerando brotos, flores e frutos em um ciclo reduzido e acelerado. As crucíferas, como o repolho e a couve-flor, chegam a ficar do tamanho de uma bola de basquete.

É um padrão ao qual os primeiros desbravadores aderiram, principalmente por necessidade – se a família não plantasse, colhesse ou produzisse alguma coisa, não comeria. Com o advento da comercialização global e o transporte, a prática se perdeu. Na feira livre realizada no centro é possível saborear amostras de vieiras com batatas fritas tipo chips e purê de ervilha.

Kathy Page, de 33 anos, tinha acabado de comprar abobrinha, brócolis, cebola e vagem para a família de cinco pessoas graças ao programa que dobra os primeiros US$20 de uma bolsa de assistência federal usados exclusivamente para esse fim. "Vinte viram 40 e dá para fazer bastante coisa", comemora ela, cujo marido é deficiente.

Há uma discussão, porém, para saber o que se trata de "local" em um estado com área de mais de 1,7 milhão de km2.

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A cidade portuária de Unalaska, nas Ilhas Aleutas, para onde muitos pesqueiros levam o caranguejo, as vieiras e o halibute que pescam, fica a 2.400 km de Fairbanks – e mesmo o famoso salmão selvagem do Alasca, tradicional do estado, pode ser considerado apenas parcialmente local, já que, em muitos casos, é embalado e congelado em Seattle.

O espírito de autonomia dos alasquianos é a arma secreta do movimento, diz Danny Consenstein, diretor executivo da Agência de Serviço Agrícola do Alasca.

"Os consumidores agora dizem: ‘É, houve um tempo em que eu achava que comprar tomate fresco do México era o máximo’, mas acho que essa tendência agora se reverteu", comemora.