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Fracasso vira negócio no Vale do Silício

Cassandra Phillipps diz que o fracasso  virou algo normal no Vale do Silício | Jim Wilson/The New York Times
Cassandra Phillipps diz que o fracasso virou algo normal no Vale do Silício (Foto: Jim Wilson/The New York Times)
Suneel Gupta, então vice-presidente do Groupon, fala na FailCon de 2012 sobre alguns dos primeiros passos em falso da empresa |

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Suneel Gupta, então vice-presidente do Groupon, fala na FailCon de 2012 sobre alguns dos primeiros passos em falso da empresa

Cinco anos atrás, Cassandra Phillipps fundou a FailCon, conferência em San Francisco com um dia inteiro dedicado a celebrar o fracasso. Acossada por um crescente coro de fundadores de start-ups que promoviam seus triunfos pelo Vale do Silício e nervosa com suas próprias perspectivas como empreendedora, ela ansiava por ouvir histórias de pessoas que haviam se dado mal.

A conferência foi um sucesso e se repetiu nos quatro anos seguintes, chegando a atrair 500 iniciantes no setor tecnológico, que se reuniam com empreendedores veteranos para debates intitulados, por exemplo, "Como se portar quando tudo sai dos trilhos".

Mas neste ano a FailCon foi cancelada, e Phillipps diz que isso ocorreu em parte porque o fracasso se tornou um assunto tão difundido no Vale do Silício que uma conferência chega a parecer supérflua. "Está no léxico que você vai fracassar", disse ela.

Segundo uma pesquisa realizada por Shikhar Ghosh, conferencista sênior da Escola de Administração de Harvard, 30% a 40% das start-ups bancadas por investidores de risco gastam a maior parte ou todo o capital investido, e 70% a 80% não oferecem o resultado financeiro previsto.

Atualmente o fracasso está se tornando uma espécie de distintivo de honra, e os empreendedores alardeiam publicamente as adversidades que já enfrentaram.

O entusiasmo pelo fracasso está se espalhando além do Vale do Silício, e Phillipps viu nisso mais uma oportunidade. Há quatro anos, ela começou a licenciar o evento FailCon para produtores de outros países, incluindo Brasil, Japão, Irã, Arábia Saudita e Israel. Em Toronto, uma empresa chamada Fail Forward dá consultoria a empresas que desejam aprender com o fracasso alheio.

"Ninguém quer fracassar", disse Ashley Good, fundadora da Fail Forward. Mas, acrescentou, "fracassar de forma inteligente é uma capacidade cada vez mais importante".

Em um post em seu blog sob o título "Hoje minha start-up faliu", o empresário Chris Poole, de Nova York, escancarou tudo o que viveu na quebra da sua empresa DrawQuest, cujo produto era um aplicativo que simulava um jogo de desenhar. "Nada de pouso suave, nada de final feliz —simplesmente falimos."

Seu tom era confessional. "Poucos no mundo dos negócios saberão a dor do que significa fracassar sendo um CEO bancado por capital de risco", escreveu ele. Poole explicou que, apesar de o aplicativo DrawQuest ter sido baixado 1,4 milhão de vezes, o negócio não conseguiu sobreviver. "Pode parecer surpreendente que um produto aparentemente bem-sucedido possa falir", escreveu. "Mas isso acontece o tempo todo."

Não foi o caso do aplicativo Zillionears.com, com o qual artistas podiam vender suas músicas diretamente para os consumidores, numa espécie de liquidação instantânea. Seu criador, Jordan Nemrow, escreveu em seu blog que o Zillionears.com implodiu porque "as pessoas realmente não GOSTAVAM de nada no nosso produto". Ele acrescentou: "Ninguém que usava o serviço o achava legal".

Depois que o post viralizou, algo estranho aconteceu. "Tivemos uns 100 mil acessos naquele blog em um fim de semana, o que na verdade resultou em umas 10 mil visualizações do nosso aplicativo", disse Nemrow. "Antes disso, havíamos tido cem visualizações."

Mas, infelizmente para ele, a empresa já havia falido quando conseguiu chamar a atenção.

O sucesso da FailCon criou um dilema para Phillipps. As conferências lotavam, reunindo a cada edição 400 a 500 pessoas que pagavam de US$ 100 a US$ 350 cada uma. A FailCon atraiu grandes patrocinadores, como Amazon Web Services e Microsoft. Phillips contou que a conferência era financeiramente rentável, mas que a adesão do setor ao fracasso havia crescido além da capacidade do seu formato. Ela pretende reformular a FailCon, possivelmente adotando oficinas menores e mais interativas. A FailCon 2.0 deve estrear em outubro de 2015.

Os empreendedores ainda precisam aprender a respeito do fracasso, porque as incubadoras de tecnologia do Vale do Silício geralmente não auxiliam as start-ups a se prepararem para isso, segundo Michael Freeman, da Universidade da Califórnia, em San Francisco. O fracasso, disse ele, foi "significativamente desestigmatizado" culturalmente no Vale do Silício e na região da baía de San Francisco, embora, em um nível individual, ainda seja doloroso de enfrentar.

"Alguns investidores acreditam que, se você fracassar, é porque teve peito para aguentar o tranco", disse Freeman. "Acreditam que você não ficará pessoalmente tão abalado por uma adversidade a ponto de perder sua persistência para os negócios. Que você irá lutar."

Para Trey Griffith, dirigir uma start-up em processo de falência é como "bater a cabeça na parede". Griffith comandou uma start-up chamada Endorse.me, que se propunha a ajudar empresas a recrutarem estudantes universitários, valendo-se de recomendações de professores. Na tentativa de manter a empresa em funcionamento, ele pediu conselhos aos leitores do seu blog. Graças a isso, conheceu seu atual chefe.

Griffith é hoje vice-presidente de tecnologia da Teleborder, empresa que produz um software que departamentos de recursos humanos utilizam na organização de vistos para trabalhadores estrangeiros. Ele disse que, ao entrevistar candidatos a emprego para cargos na Teleborder, não descarta aqueles com fracassos no currículo.

Ele escreveu sobre suas agruras mais ou menos ao mesmo tempo que Nemrow, da Zillionears.com. Nemrow ofereceu apoio, os dois mantiveram contato e hoje eles têm algo a mais em comum: o sucesso.

"Eu achei que seria realmente importante ver start-ups que deram certo", disse Nemrow sobre sua decisão de ir trabalhar no site Shop It to Me. "Eu queria ver o funcionamento interno deles."

Recentemente, Griffith recrutou Nemrow para trabalhar com ele como engenheiro de software da Teleborder.

"É, digamos, o negócio menos charmoso que existe", disse Nemrow sobre sua nova empresa. "Mas há neste momento muitas empresas charmosas que estão falindo."

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