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Ramificação da Al Qaeda perde força na Somália

Bashir, um homem religioso, era um soldado raso que recentemente decidiu deixar a tropa após ver inocentes demais serem massacrados.

Ahmed desertou da Shabab porque queria uma família de verdade, não apenas um punhado de militantes sociopatas e fortemente armados que se chamam de "família", segundo ele.

A jovem Nurta era uma pistoleira esbelta, com um vistoso véu roxo e olhos grandes, de aspecto inocente.

Mesmo antes de seu líder ser eliminado em um bombardeio americano em setembro, o grupo militante Shabab, da Somália, outrora uma das mais poderosas ramificações da Al Qaeda, começou a se desmanchar. Nos últimos meses, o grupo tem perdido território e combatentes.Dezenas de desertores estão hospedados em uma casa térrea de aspecto anódino, construída com blocos de concreto e fortemente vigiada por militares na localidade de Baidoa, no centro da Somália.

O quadro que eles descrevem é o de uma Shabab em declínio. Há apenas alguns anos, a Shabab controlava boa parte do sul da Somália. Combatentes da milícia cortavam cabeças, deixavam crianças à míngua, raptavam adolescentes para forçá-las a se casarem com militantes e matavam a pedradas as garotas que se recusassem.

Até o advento do Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria, a Shabab controlava mais território do que qualquer outro subgrupo da Al Qaeda, obtendo milhões de dólares com a administração de portos e a cobrança de tributos, que financiavam ataques terroristas em toda a região.

Mas forças de paz da União Africana desalojaram a Shabab de todas as grandes localidades no sul da Somália. A população somali também se voltou contra o grupo. Ao matar o líder da Shabab, Ahmed Abdi Godane, com poucos danos colaterais, os Estados Unidos mostraram que tinham finalmente rompido o código da milícia.

Como o substituto de Godane é um combatente pouco conhecido, os desertores da Shabab disseram que a atração exercida pela facção praticamente desapareceu. Fontes ocidentais de inteligência estimam que restem apenas alguns milhares de combatentes mais calejados da Shabab.

O professor somali Afyare Elmi, da Universidade do Qatar, prevê que a Shabab continuará perdendo território, mas "manterá seus ataques de guerrilha e seus atentados".

Na "unidade de transição" em Baidoa, idosos estimulam o aprendizado de informática, carpintaria e soldagem. O meio mais fácil de desradicalizar ex-jihadistas, diz a teoria, é lhes dar empregos.

Bashir, 24, disse que, ao aderir à Shabab, acreditava nos ideais da facção. Mas, quando Godane assumiu o poder no grupo, por volta de 2008, Bashir já não tinha mais certeza sobre aquilo em que acreditava. Godane "permitiu a matança de pessoas inocentes. Acho que ele trabalhava para elementos de outros países, não para a Somália".

"Fico contente em saber que ele está morto", disse Bashir.

Também Nurta, a jovem pistoleira. Seu envolvimento com a Shabab nunca foi uma questão de escolha própria. Ela contou que foi sequestrada aos 16 anos por combatentes estrangeiros, homens brancos, que a retiraram à força da sua escola. Era a terrorista perfeita: uma jovem que despertaria poucas suspeitas de ser uma assassina. "Fui treinada para atirar contra alvos em áreas públicas, saltar sobre prédios e atingir torres de observação."

Ela relatou que foi enviada em 2011 ao litoral queniano para ajudar a sequestrar dois estrangeiros, crimes que afetaram profundamente a atividade turística no país e contribuíram para levar o Quênia a enviar tropas à Somália.

Mas, em dado momento, Nurta se cansou de ver o arrogante desprezo de seus companheiros pela vida. Depois de desertar, Nurta entrou para a clandestinidade. Mas a Shabab estava determinada a encontrá-la. No começo do ano, quando estava no mercado em Baidoa, Nurta viu um matador da Shabab que ela conhecia. Seus olhares se cruzaram. Ela tentou correr quando ele puxou o pino da sua granada. A explosão a derrubou. Estilhaços cortaram seu rosto. Ela sobreviveu, mas pouco tempo depois a Shabab assassinou seu irmão. "Peço a Deus que me perdoe", disse ela.

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