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No ventre da cidade luz

O artista conhecido como Nobad, no centro, acompanhado de amigos em uma galeria nas catacumbas de Paris. Frequentadores habituais tentam manter em segredo a entrada do túnel | Dmitry Kostyukov para The New York Times
O artista conhecido como Nobad, no centro, acompanhado de amigos em uma galeria nas catacumbas de Paris. Frequentadores habituais tentam manter em segredo a entrada do túnel (Foto: Dmitry Kostyukov para The New York Times)

Em uma noite recente, um artista de rua de 31 anos levou um pequeno grupo através de um túnel escuro ao lado de trilhos de trem abandonados no sul de Paris. Depois de se agachar, rastejar e às vezes andar pela água, usando lanternas para iluminar seu caminho, eles finalmente chegaram a uma câmara com tetos abobadados de cerca de 3 metros de altura.

Tempos atrás, uma cervejaria estocava garrafas aqui, mas hoje essa câmara é parte de uma extensa rede de galerias abandonadas abaixo desta cidade, que uma comunidade secreta de artistas de rua, aficionados por história e outros parisienses regularmente visitam. Eles são chamados de "cataphiles", ou amantes das catacumbas, nome pelo qual a rede subterrânea é conhecida.

Alguns buscam paz e tranquilidade, outros, uma tela inusitada para sua arte. Outros vêm atrás de um lugar para festejar com os amigos, a um custo menor e em uma atmosfera mais jovial do que nos clubes e bares no lado de cima. Muitos gostam do sigilo e da exclusividade.

"Minhas criações têm muito mais valor aqui, porque se destinam a um público limitado que merece vê-las. Eles se deram ao trabalho de vir até aqui", disse o artista que liderou o grupo e é conhecido por Nobad.

Nobad utiliza estêncil de pinturas europeias com um toque diferencial, como o "Homem Desesperado", de Gustave Courbet, feito com tinta que brilha no escuro. As paredes estão cobertas de arte, incluindo pinturas no estilo dos murais de tumbas egípcias, diabos careteiros em preto e laranja, um papagaio gigante multicolorido e uma abundância de grafite. Em uma câmara, as paredes estão incrustadas com cacos de espelho; uma brilhante bola de discoteca pende do teto.

O termo "catacumbas" designa apenas uma pequena parte desta vasta rede subterrânea, a área aonde os restos mortais de seis milhões de parisienses foram transferidos na década de 1780, vindos de vários cemitérios insalubres e lotados da cidade. O ossário é uma das raras peças da rede legalmente aberta ao público e se tornou uma atração turística popular.

Mas a maior parte da rede – mais de 270 quilômetros de túneis e outras câmaras – tem acesso proibido desde 1955 e é um legado da mineração na antiga Paris. Essa é a área frequentada pelos "cataphiles".

Hoje, os frequentadores se arriscam a receber uma multa de 60 euros. Os exploradores poderiam se ferir com pedras que caem, se perder no labirinto escuro ou se afogar em poços profundos.

Os usuários familiarizados com a rede dizem que há cerca de 100 frequentadores habituais se aventurando no subterrâneo todos os anos.

Informações sobre onde encontrar entradas para o subsolo é ainda um segredo fortemente guardado. Mas no geral, o espírito é acolhedor, e muitos encontram um senso de comunidade e igualdade. Ao longo do labirinto subterrâneo, os "cataphiles" mobiliaram frugalmente várias câmaras como esta, com bancos de pedra e mesas para descansar e socializar."Estamos aqui pela mesma paixão. Ninguém se importa com a sua classe social", diz Gaspard Duval.

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