Perto de sete mil refugiados cruzaram o mar de Bodrum, Turquia, para Kos, na Grécia, durante o mês de julho| Foto: Daniel Etter/The New York Times

Enquanto a noite cai e a última das lanchonetes de beira-mar de Bodrum limpa as mesas, dezenas de migrantes brotam de um ônibus à espera. No lusco-fusco, eles caminham para o mar, arrastando um bote de borracha.

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Os traficantes lhes mostram o farol da ilha grega de Kos (também conhecida como Cós em português), a 25 minutos de distância num barco bom.

Em seus infláveis frágeis, eles costumam chegar lá ao amanhecer, rapidamente furando os botes para que ninguém os force a voltar, depois que se dirigem à cidade.

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Paquistanês reza numa praia na ilha grega de Kos depois de cruzar o mar com segurança a partir de Bodrum, Turquia 

Comparada a outras rotas para migrantes que cruzam o Mediterrâneo, onde mais de duas mil pessoas morreram neste ano, esta é uma jornada relativamente segura. Em julho, o caminho foi usado por mais de sete mil refugiados, a maioria fugindo das guerras no Afeganistão, Iraque e na Síria. Pelo menos duas mil cruzaram o mar numa semana.

A maré humana sobrecarregou Kos, levando o prefeito, George Kiritsis, a prever que se não receber ajuda de Atenas, “sangue será derramado”. O fato deixou a Grécia lutando para equilibrar a ajuda aos refugiados sem encorajar mais a virem.

Até agora, para quem fez a jornada, buscando segurança, oportunidade e uma vida nova, a recepção foi menor do que a esperada. “Em Istambul, eles nos deixam usar os banheiros de graça”, disse Ayman Almotlak, 31 anos, sírio que ensina árabe e cruzou o mar até Kos, falando a respeito dos lojistas locais. “Aqui não. Por que os gregos nos odeiam?”

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Seu companheiro de viagem, um veterinário, Nour Hamad, 31 anos, estava igualmente desiludido. “Eles atiram garrafas em nós, às vezes copos”, ele contou.

Parte do motivo é a própria magnitude dos migrantes e refugiados, que o governo grego disse ser excessiva para o país assolado pela crise.

A Organização Internacional de Migração, em Genebra, informou que aproximadamente 250 mil migrantes cruzaram o Mediterrâneo no sentido da Europa neste ano, mais do que todos em 2014. Segundo a entidade, a Grécia relatou 134.988 chegadas da Turquia neste ano. Em Bodrum, os contrabandistas cobram de US$ 1 mil a US$ 1,5 mil por pessoa para transferir os migrantes até Kos.

A Grécia é vista como um trampolim para a Europa Ocidental. A Turquia abriga quase dois milhões de refugiados sírios, mas estes dizem não ver futuro ali.

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Para chegar à Europa, eles dependem de uma ampla operação ilegal de contrabando de migrantes que cresceu enquanto a guerra civil na Síria avança aos trancos e barrancos. “Um ano atrás as pessoas ainda esperavam que a guerra pudesse acabar, mas, agora, sem fim à vista, elas querem ir embora e construir uma vida nova”, afirmou Bashar, 32 anos, refugiado sírio em Bodrum.

Como os sírios são de um país devastado pela guerra, eles são tratados como uma classe privilegiada na Grécia. No oposto extremo estão 500 migrantes de países como Paquistão e Bangladesh que invadiram um hotel abandonado nos arredores de Kos.A meta da maior parte dos refugiados é chegar a um país como Alemanha ou Suécia e pedir asilo, depois trazer as famílias.

Os sírios, que quase sempre têm celulares e GPS, decoraram cada passo que precisam dar ao deixar a Grécia e tomar outro destino: a grande Europa.

“Eu tenho um mapa”, disse Almotlak, dando um tapinha na cabeça. “Está aqui dentro — e no Google Maps.”