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As chamadas desnudas, cobertas com nada além de tinta, recebem reclamações na Times Square. | Hilary Swift/The New York Times
As chamadas desnudas, cobertas com nada além de tinta, recebem reclamações na Times Square.| Foto: Hilary Swift/The New York Times

Há anos, a Times Square abriga um eclético grupo de artistas fantasiados —super-heróis, personagens da Disney e estátuas da liberdade, todos disputando o dinheiro dos turistas.

E eis que chegam as “desnudas”.

Desnuda, uma palavra espanhola que significa nua, foi o nome adotado por mulheres que andam pela Times Square de topless e cobertas de tinta corporal para posar para fotos em troca de gorjetas. No entanto, o sucesso delas ameaça o negócio de outros artistas ousados que estão estabelecidos ali há mais tempo.

“Todo mundo que vem à Times Square está atrás do Caubói Pelado, não de mulheres nuas”, disse Patricia Burck, que é casada com o famoso Caubói Pelado, cujo nome verdadeiro é Robert Burck.

Patricia, 28, e sua irmã, Elizabeth Cruz, 26, usam biquíni e tocam violão como as Cowgirls Peladas o ano todo. Elas afirmam que as gorjetas diminuem 50% quando as mulheres seminuas aparecem na Times Square.

“Respeitamos as pessoas, especialmente porque há crianças por perto. Fico sem jeito até por estar de biquíni. Não consigo imaginar ficar nua”, disse Patricia.

Independentemente de questões de modéstia e decência, as mulheres seminuas têm a lei ao seu lado. Exibir seios femininos em público foi considerado legal em Nova York pela mais alta corte do Estado há duas décadas.Porém, isso não evitou reclamações do prefeito Bill de Blasio e do comissário de polícia William J. Bratton.

No mês passado, o prefeito chamou as desnudas de pedintes impertinentes. Já Bratton afirmou: “Fico louco da vida quando vejo pessoas peladas na Times Square cobertas de tinta como se fosse uma expressão de arte”.

Outros também não estão muito felizes. As mulheres são o assunto de quatro em cada cinco reclamações feitas por e-mail e pelo Twitter desde junho à Times Square Alliance, organização sem fins lucrativos que promove negócios na área.

Mey Ovalles diz que ganha US$ 300 por dia.Hilary Swift/The New York Times

Metade delas vem de pessoas que afirmam se sentir ofendidas pela nudez parcial das garotas. Outra metade vem dos que reclamam ter sido tocados pelas mulheres ou que estavam incomodados com pedidos de dinheiro, de acordo com Caitlin Lewis, porta-voz da Alliance. A maioria dos queixosos trabalha na Times Square.

“Ontem, duas delas se aproximaram e se pressionaram contra mim, tentando me fazer parar e tirar uma foto”, escreveu em um e-mail David, cujo sobrenome foi ocultado pela Alliance.” A situação não só foi desconfortável, mas a pintura do corpo delas manchou meu terno. Isso cria uma atmosfera que eu não quero que meus filhos vivenciem.”

Nada disso desencoraja as ambições de Mey Ovalles, da Venezuela, que trabalhava como garçonete em um restaurante colombiano em Miami quando seu primo, Charly Santos, a encorajou a vir para Nova York. Ela está feliz por ter vindo. Em média, sua renda diária é de US$300 —cerca de US$100 a mais do que ganhava em Miami.

Não é de admirar que Mey ganhe um bom dinheiro. Muitas pessoas que vêm à Times Square não se opõem às mulheres seminuas: entre elas, homens de qualquer idade e mulheres que aplaudem a libertação dos seios femininos. Outros aceitam as mulheres pintadas exibindo seus corpos como outro aspecto da diversão imprevisível da cidade de Nova York.

Randy e Diana Quate estavam viajando com um grupo de Ohio quando se depararam com as mulheres. Randy, 67, sorriu ao se ver entre duas delas. Diana, 59, tirou uma foto, e depois Randy deu US$ 8 para as duas dividirem.

“Elas estão nuas, mas cobertas. Não me senti ofendida”, disse Diana. O marido acrescentou: “Somos pessoas de mente aberta”.

Houve até uma manifestação de apoio às desnudas no mês passado, quando dezenas de pessoas marcharam de topless pela Times Square. Alguns dos manifestantes participaram para defender os direitos das mulheres como um todo.”Nossos namorados sempre tiram suas camisas e dizemos ‘Isto não é justo’”, disse Sarah Koon, 31, musicista que veio de Newark, Delaware.

Mey insistiu que seu corpo era uma forma de arte. Quase todos os dias, ela deixa o apartamento que divide no Queens carregando uma sacola com sandálias de salto, pintura, cocares de penas, bastante água e lenços umedecidos para o início de sua jornada de 10 a 12 horas. Santos fica por perto, de olho naqueles que tentam boliná-la.

Mey planeja voltar para Miami no outono, quando o clima em Nova York fica muito frio. Por enquanto, porém, ela está concentrada em seu trabalho aqui.”Não tenho muito tempo. Apenas durmo e vou para a Times Square.”

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