Normalmente um tipo violento, Peter Pomerantsev diz que manteve silêncio quando se viu, aos 24 anos de idade, em uma sala de reunião em Moscou ouvindo 20 dos executivos do alto escalão da mídia da Rússia discutindo a pauta de notícias da semana.
Não o que era a notícia, mas como eles a fariam, disse Pomerantsev, autor de um livro recente que narra a corrupção atual de Moscou e a manipulação da indústria televisiva russa à qual ele mais tarde se juntou.
Ele ouviu espantado, afirmou, quando um famoso âncora de notícias revisava os próximos eventos como se fossem parte do roteiro de um filme, se perguntando qual deveria ser o inimigo da semana. “Foi chocante”, disse Pomerantsev.
Isso foi em 2002. Com o conflito na Ucrânia que hoje é parte de uma guerra de informação, além de física, o livro de Pomerantsev, “Nothing Is True and Everything Is Possible” (Nada é verdadeiro e tudo é possível), tem ressonância particular, descrevendo um mundo onde as leis mudam de acordo com o capricho dos poderosos e onde a televisão fornece distorções da realidade carregadas de emoção.
Kadri Liik, encarregada de política no Conselho Europeu de Relações Exteriores, um instituto de pesquisa, descreveu o trabalho de Pomerantsev como “uma valiosa visão privilegiada”. Seu relato de “como tudo é feito grosseiramente, e a mentalidade dessas pessoas, confirma suspeitas”, acrescentou ela, mas talvez possa ser difícil de acreditar.
A área de estudo de Pomerantsev é a propaganda, e acredita que viu muitas técnicas clássicas em ação em Moscou. Ele diz que um truque favorito era colocar um especialista confiável ao lado de um neo-nazista, justapondo fato e ficção para encorajar tanto cinismo que os telespectadores quase não acreditavam. Outro foi dar crédito às teorias de conspiração. “O que eles estão basicamente tentando minar é a ideia de uma conversa baseada na realidade”, disse ele.
Pomerantsev não está otimista sobre o futuro da Rússia. Ele acredita que a prioridade do Presidente da Rússia, Vladimir V. Putin, é “manter a Ucrânia borbulhando”, não importa os custos financeiros e medos que as pressões financeiras possam deixar a Rússia mais fechada e ditatorial.
“O que importa em uma ditadura é o controle dos serviços de segurança e o controle da propaganda”, disse Pomerantsev, prevendo que haveria mais confisco para compensar a falta de progresso econômico.
Pomerantsev nasceu em 1977 em Kiev, então parte da União Soviética. Seu pai, Igor Pomerantsev, é escritor, poeta e radialista que teve problemas com a polícia secreta soviética, a KGB, por distribuir obras de Aleksandr I. Solzhenitsyn e Vladimir Nabokov. Incentivados a solicitar vistos de saída, a família mudou-se para Viena em 1978, seguindo depois para a Alemanha Ocidental, onde pediram asilo. Alguns anos depois, Igor Pomerantsev recebeu uma oferta de emprego no serviço russo da BBC World Service.
Peter Pomerantsev cresceu como o que chama de um “britânico acidental”, em Londres. Estudou inglês e alemão na Universidade de Edimburgo antes de ser atraído por Moscou. No início do século a cidade era, segundo ele, “incrivelmente excitante e cheia de vitalidade e loucura”. Quando chegou em 2001, tinha um sotaque inglês do qual abusava para que todos pensassem que era estoniano. Com um pouco mais tempo em Moscou, diz ele, começou a soar como russo, mas não muito. “Eu não entendia as piadas.”
Por algum tempo, pelo menos, Pomerantsev, agora com 37 anos, parecia se sentir em casa no mundo estridente da televisão russa, fazendo filmes sobre gangsters impiedosos e cultos sinistros. Seu livro é em parte, ele diz, sobre a barganha feita por um jovem ambicioso, trabalhando como roteirista na terra de oportunidades da mídia russa. De qualquer forma, ele diz que sua experiência sublinha a extensão com que qualquer nova guerra fria seria diferente da última, na arena de informação pelo menos.
Durante o primeiro mandato de Putin na presidência, técnicas ocidentais ajudaram a alcançar um espetacular aumento em seus índices de aprovação. Elas agora estão sendo implantados não só contra as políticas ocidentais, mas contra valores ocidentais básicos, argumenta Pomerantsev.
“Isso não é bem uma guerra de informação, mas uma guerra à informação”, ele disse.
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