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Visto como herói, não como piada

Para alguém que passou 118 dias preso no Irã depois de escrever sobre a disputada eleição de 2009, Maziar Bahari tem um surpreendente senso de humor quando fala sobre o assunto.

Se "Rosewater", a releitura cinematográfica de Jon Stewart sobre sua prisão, fizer sucesso, "o crédito vai para o governo iraniano", disse Bahari ironicamente em uma entrevista recente. Nessa manhã, Bahari, jornalista de 47 anos, estava sentado ao lado de Stewart nos escritórios do "The Daily Show", programa satírico de Stewart no canal a cabo Comedy Central.

Estar em Nova York, disse Bahari, foi tão arriscado quanto estar no Irã, por causa de "todas as pessoas que se ressentem de Jon, desde sionistas radicais até islâmicos radicais". Stewart respondeu: "Estou unindo o mundo."

Essa é a sensibilidade autodepreciativa que o público espera ver em Stewart, que fez seu nome contando – e satirizando – acontecimentos atuais.

Mas "Rosewater", sua estreia como diretor e roteirista, expõe o lado assumidamente sincero desse comediante de 51 anos de idade.

"Rosewater", exibido agora nos Estados Unidos e no Canadá, rendeu algumas críticas positivas. O filme é a realização do desejo de Stewart de contar uma história — a de Bahari — que mostra a batalha entre indivíduos e os governos que tentam silenciá-los.

"Esses aparelhos são muito mais prejudiciais a esses países do que qualquer informação que tentem ocultar", disse Stewart.

Bahari, interpretado pelo ator mexicano Gael García Bernal, nasceu em Teerã e estudou Cinema e Comunicações em Montreal. Ele estava entre as centenas de observadores e manifestantes presos pelo governo iraniano em junho de 2009. Naquela época, ele havia se tornado um colaborador notório de publicações como a Newsweek e a BBC, cobrindo as eleições presidenciais iranianas e os protestos que se seguiram, quando, em meio a alegações de irregularidades, Mahmoud Ahmadinejad derrotou candidatos reformistas como Mir Hussein Moussavi.

Bahari também apareceu no "The Daily Show" alguns dias antes de ser levado em custódia, em um segmento gravado com o correspondente Jason Jones (que se queixou da "linguagem ambígua da Newsweek"). Mas Bahari disse que o "The Daily Show" não foi o responsável por sua prisão. "Eu já estava sendo monitorado", disse ele, e o governo iraniano assistiu à sua participação no programa. "Eles juntaram um e um e viram que dava 11."

Stewart acrescentou: "Adoramos acreditar na excepcionalidade americana, mas não houve muitos momentos de ‘Nós causamos isso’."

Após pressão de líderes internacionais e meios de comunicação, Bahari foi solto da prisão de Evin em outubro de 2009, com fiança de US$300.000. Ele agora vive em Londres.

Bahari, cujo pai havia sido detido pelo governo do Xá do Irã, e a irmã pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, descreveu seu próprio cativeiro como "uma mistura de Kafka e Monty Python".

Ele ficou fascinado por seu algoz, um integrante da Guarda Revolucionária que apelidou de Rosewater (água de rosas, por causa da colônia que usava), e que disse acreditar que Bahari recebia massagens sexuais em suas atribuições jornalísticas.

"Eu tinha esse torturador que precisava ser uma pessoa séria, com ideologias e que, ao mesmo tempo, parecia um menino de 14 anos com espinhas e que só pensava naquilo".

Stewart ficou fascinado com a narrativa de Bahari em um livro de memórias. "Não é uma polêmica", disse Stewart. "É só uma história belissimamente contada dos danos causados por regimes opressivos."

Em meados de 2013, Stewart viajou para Amã, na Jordânia (que defendia Teerã), com um produtor, um diretor de fotografia, um primeiro assistente de direção "e só, basicamente".

Gael García Bernal disse que a falta de experiência de Stewart deixou o trabalho mais emocionante. Ao se recordar dos preparativos para o filme, García Bernal disse: "Tudo o que diziam era incrível. ‘Vai ser na Jordânia’. Perfeito! ‘Vai ser no calor escaldante’. Perfeito! ‘Vai ser durante o Ramadã’. Sim! – parecia um plano realmente bom."

Bahari, que se considerava uma pessoa muito reservada, disse que "Rosewater" havia lhe ensinado a importância de contar sua história.

Stewart, sempre sarcástico, disse: "Eu sou o seu guru agora. Houve muitos exercícios de confiança. Nem vou contar quantas vezes ele se jogou de costas em meus braços".

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