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Conflito

Ofensiva da Geórgia contra separatistas da Ossétia do Sul teria deixado 1.400 mortos

Tanque dispara foguete em território separatista georgiano da Ossétia do Sul: russos bombardearam o porto de Poti, no Mar Negro | Irakli Gedenedze / Reuters
Tanque dispara foguete em território separatista georgiano da Ossétia do Sul: russos bombardearam o porto de Poti, no Mar Negro (Foto: Irakli Gedenedze / Reuters)

A ofensiva militar da Geórgia na Ossétia do Sul provocou mais de 1.400 mortes entre a população do território separatista, disse o presidente do governo autônomo da Ossétia, Eduard Kokoiti, segundo a agência russa Interfax. As tropas da Geórgia cercaram a capital da Ossétia do Sul, Tskhinvali, nesta sexta-feira, depois de uma noite de intensos conflitos e ofensivas aéreas na região. Os combates começaram poucas horas depois de acertado um cessar-fogo em conversações mediadas pela Rússia. Cada lado culpa o outro pela quebra do cessar-fogo.

Em resposta, a Rússia enviou tropas e também um ataque aéreo contra bases georgianas. Pelo menos cinco aviões foram abatidos pela defesa da Geórgia. Segundo declaração do secretário do Conselho Nacional de Segurança da Geórgia, Alexandre Lomaia, o presidente do país, Mikhail Saakachvili, decretará o estado de exceção "nas próximas horas".

O presidente georgiano, Mikheil Saakashvili, afirmou que a "Rússia está travando uma guerra com a Geórgia" em seu território. Já o presidente russo, Dmitri Medvedev, afirmou que não vai permitir "a morte impune" de seus compatriotas, fazendo referência aos moradores da Ossétia do Sul que nos últimos anos vêm recebendo a cidadania russa.

Autoridades afirmam que três soldados da Geórgia morreram num ataque russo. A Rússia diz que 10 soldados de suas forças de paz foram mortos em território georgiano. O Conselho de Segurança da ONU convocou uma segunda reunião de emergência sobre a questão.

Nesta sexta-feira (8), cerca de 150 tanques e veículos blindados russos teriam entrado no território da Ossétia do Sul, nesta sexta-feira, depois do anúncio de que dois aviões russos terem sido abatidos em território da Geórgia. O Ministro da Defesa da Rússia afirmou que foram enviados "reforços" para a Ossétia do Sul para ajudar os russos já ali estacionados. A Geórgia apelou aos líderes internacionais para pôr fim à intervenção que começou como um conflito entre o Estado da antiga União Soviética e separatistas da Ossétia do Sul, que lutam para se unir à República Ossétia do Norte, que faz parte da Federação Russa.

- Cento e cinqüenta tanques russos, veículos blindados e outros ingressaram na Ossétia do Sul. Essa é uma clara incursão no território de outro país. Temos tanques russos em nosso território, aviões em nosso território em plena luz do dia - disse o presidente da Geórgia em uma entrevista coletiva.

Mais cedo, jatos russos bombardearam a base aérea de Vaziani, perto da capital georgiana de Tbilisi, e o presidente da Geórgia disse que dois aviões russos foram derrubados em território georgiano. As tropas georgianas haviam cercado a capital da região separatista, Tskhinvali, após bombardearem a cidade. A região é uma rota cada vez mais importante para o setor de energia.

Os Estados Unidos declararam apoio à integridade da Geórgia e pediram um cessar-fogo imediato. O porta-voz do Departamento de Estado Americano Gonzalo Gallegos disse ainda que os EUA estavam mandando um enviado à região "para negociar com as partes envolvidas no conflito". O presidente americano, George W. Bush, discutiu a crise com o ex-presidente e primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, em Pequim, onde acompanhavam a cerimônia de abertura das Olimpíadas.

- Nós apoiamos a integridade territorial da Geórgia e pedimos um imediato cessar-fogo. Nós pedimos que as duas partes, incluindo os georgianos, os ossetas do sul e os russos, evitem o conflito - disse o porta-voz.

Os dois candidatos à Presidência dos EUA - o republicano John McCain e o democrata Barack Obama - também se manifestaram, pedindo que a Rússia respeite a soberania da Geórgia. O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) convocou uma segunda reunião de emergência sobre a questão.

A crise - a primeira que o novo presidente russo, Dmitri Medvedev, enfrenta desde que assumiu o cargo, em maio - desperta temores de uma guerra na região. Tanto a Rússia quanto o Ocidente tentam ampliar sua influência sobre a área. Medvedev afirma que integrantes das forças de paz russas estão entre as vítimas do bombardeio da Geórgia.

- Hoje à noite (8), as tropas georgianas cometeram na Ossétia do Sul um ato de agressão contra as tropas russas de paz e a população civil - disse Medvedev, afirmando que a Rússia "foi e é historicamente" garantia de segurança para os povos da região do Cáucaso.

Geórgia decreta mobilização geral, reunindo 100 mil homensAntes mesmo da entrada de tanques russos no país, o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, disse em mensagem transmitida pela TV local que é vítima de uma agressão em grande escala. Saakashvili decretou nesta sexta-feira a mobilização geral do país, reunindo cerca de 100 mil homens com formação militar. Segundo o presidente, a maior parte da Ossétia do Sul está sob controle georgiano.

- A Rússia está nos bombardeando. Foi lançada uma agressão em grande escala contra a Geórgia - disse Saakashvili. - As bombas e os ataques não nos assustam. Resistiremos e venceremos. Decreto a mobilização geral.

Segundo a emissora de TV Rustavi-2, cinco aviões russos bombardearam a cidade georgiana de Gori, a 25 quilômetros da Ossétia do Sul. O governo da Geórgia diz que pretende pôr fim ao governo que chama de "regime criminoso" e restabelecer a ordem na Ossétia do Sul. Do outro lado, o presidente da república russa da Ossétia do Norte, Teimuraz Mamsurov, disse que o comboio no qual viajava com ajuda humanitária para Tskhinvali também foi bombardeado por aviões georgianos.

Geórgia diz que objetivo é restabelecer paz e promete anistiaEm mensagem transmitida pela TV aos cidadãos do país, o primeiro-ministro da Geórgia, Vladimir Gurguenidze, afirmou nesta sexta que "as tropas governamentais manterão suas ações até que a paz seja restabelecida".

- Nossas Forças Armadas se viram obrigadas a começar a restabelecer a paz - afirmou o chefe de governo georgiano. - A Ossétia do Sul terá uma ampla autonomia, segundo padrões europeus, e os separatistas serão anistiados.

Gurguenidze afirmou que apesar das iniciativas da Geórgia pela paz, "os separatistas abriram fogo em massa contra aldeias georgianas". O primeiro-ministro ressaltou que o objetivo das Forças Armadas georgianas é garantir a segurança da população e eliminar grupos armados ilegais.

Separatistas fazem apelo por ajuda da Rússia

As autoridades Ossétia do Sul pediram à Rússia que defenda seus cidadãos. A maioria dos habitantes da Ossétia do Sul possui cidadania russa.

"O povo da Ossétia do Sul pede ajuda ao presidente e ao Executivo da Rússia, e que adotem medidas urgentes para defender os cidadãos que pertencem à Federação Russa" afirma em comunicado o Comitê de Informação e Imprensa (CIP) do Governo separatista.

O ministro georgiano da Reintegração, Temur Yakubashvili, também fez um apelo nesta sexta-feira à Rússia, mas pediu que exerça de verdade o papel de pacificadora na Ossétia do Sul, com o objetivo de evitar a resistência "inútil" das forças separatistas.

- Apostamos que muito em breve a Geórgia recuperará o controle de todo o território da Ossétia do Sul. Por isso digo que a resistência é inútil, só leva a mais vítimas e destruições. Acho que a Federação Russa deve intervir como verdadeiro pacificador, e a Rússia pode fazê-lo - acrescentou.

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