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A morte do ditador norte-coreano Kim Jong-il, de 69 anos, foi anunciada nesta segunda-feira (19) por meio de um comunicado divulgado pela TV estatal | Reuters
A morte do ditador norte-coreano Kim Jong-il, de 69 anos, foi anunciada nesta segunda-feira (19) por meio de um comunicado divulgado pela TV estatal| Foto: Reuters

Um líder enigmático

TV estatal norte-coreana mostra "dor indescritível" pela morte do "Querido Líder"

A televisão estatal norte-coreana exibiu cenas de "dor indescritível" depois do anúncio da morte do líder Kim Jong-Il, com pessoas tomadas pela histeria em sinal de luto.

A morte do "Querido Líder" foi anunciada no canal estatal por uma locutora vestida de negro e que chorou abertamente ao dar a notícia, ao som de uma música solene.

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EUA querem "transição estável e pacífica" na Coreia do Norte, diz Hillary

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton pediu esta segunda-feira (19) uma "transição estável e pacífica" na Coreia do Norte e afirmou que os Estados Unidos desejam ter melhores relações com o povo norte-coreano após a morte do líder Kim Jong-Il.

Os Estados Unidos coordenarão, com Japão e Coreia do Sul, o tema Coreia do Norte", afirmou Hillary, que falou após um encontro com o colega japonês, Koichiro Gemba. O governo americano "está preocupado com o bem-estar da população norte-coreana", afirmou.

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A Assembleia Geral da ONU aprovou, nesta segunda-feira (19), um voto condenando o desrespeito aos direitos humanos na Coreia do Norte horas após o anúncio da morte do líder do país, Kim Jong-il, que segundo organizações humanitárias liderou "um inferno na Terra", com o assassinato de milhares, senão milhões, de pessoas.

Os 193 países da assembleia aprovaram a condenação por 123 votos a 16, com 51 abstenções. A China, aliada da Coreia do Norte, estava entre os países contrários à resolução.

Fotos: veja a galeria de imagens de Kim Jong-il e da repercussão da morte

Cronologia: Da criação da Coreia do Norte à morte do líder

A medida, que é adotada anualmente pela Assembleia Geral, manifesta "uma preocupação muito grave" com a "tortura" e as "condições desumanas de prisão, de execuções públicas e de detenções extrajudiciais e arbitrárias" na Coreia do Norte. Não houve debate sobre a resolução que já foi adotada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Geral.

Minutos antes, o secretário-geral Ban Ki-moon informou por meio de seu porta-voz que a ONU "continuará ajudando o povo da Coreia do Norte" após a morte de Kim Jong-Il. As Nações Unidas tentaram arrecadar fundos para dar ajuda alimentar à Coreia do Norte, que sofre com a fome. A ONU fez um chamado para arrecadar US$ 218 milhões este ano, mas só conseguiu reunir 20% deste valor.

As organizações Human Rights Watch e Anistia Internacional manifestaram cautela com relação aos projetos reformistas do filho de Kim, e seu aparente herdeiro, Kim Jong-Un, destacando que a Coreia do Norte tem um dos piores históricos na área dos direitos humanos. "Sob o governo de Kim Jong-Il, a Coreia do Norte foi um inferno dos direitos humanos na Terra", disse Kenneth Roth, diretor executivo da Human Rights Watch, ao afirmar que Kim foi responsável por milhares ou inclusive milhões de mortes em campos de prisioneiros, de trabalhos, execuções públicas ou inanição.

"Kim Jong-Il será lembrado como o brutal supervisor da sistemática e maciça opressão que inclui a vontade de deixar seu povo morrer de fome", destacou Roth em um comunicado. "Quando assumir seu mandato, Kim Jong-Un deveria romper com o passado e colocar os direitos humanos no primeiro lugar e não no último na Coreia do Norte", afirmou. Sam Zafiri, diretor da Anistia Internacional para a região Ásia-Pacífico, afirmou que para assegurar que a Coreia do Norte se torne uma nação forte e próspera, "a nova liderança deve adotar na agenda os direitos humanos e deter a repressão que caracterizou a era de Kim Jong-Il".

Morte

A morte do ditador norte-coreano Kim Jong-il, de 69 anos, foi anunciada nesta segunda-feira (19) por meio de um comunicado divulgado pela TV estatal. O locutor, vestindo preto, disse que o líder havia morrido no sábado (17), na capital Pyongyang, em virtude de excessivo trabalho físico e mental. Acredita-se que Kim tenha sofrido um derrame em 2008. O funeral está marcado para o dia 28.

No mesmo dia em que a morte do líder foi anunciada, o país testou um míssil de curto alcance na costa leste nesta segunda-feira, informou a mídia sul-coreana.

A agência de notícias Yonhap disse que uma autoridade do governo sul-coreano não acreditava que havia uma relação entre o lançamento do míssil e a morte de Kim.

Saúde

Ele apareceu relativamente saudável em fotos e vídeos feitos em suas recentes viagens à China e à Rússia, além de várias outras incursões pela própria Coreia do Norte, cuidadosamente documentadas pela mídia estatal.

O líder tinha fama de gostar de charutos, conhaque e da boa mesa. Acredita-se que ele sofria de diabetes e doenças cardíacas. Kim herdou o poder depois da morte de seu pai, Kim il Sung. Em setembro de 2010, provavelmente abalado pelo derrame, Kim anunciou seu terceiro filho, de pouco mais de 20 anos, Kim Jong Un, como seu sucessor, colocando-o em um dos postos mais altos do governo.

Fome e miséria

Kim Jong-un assume um país isolado, cuja economia foi devastada por décadas de desgoverno sob o comando de Kim Jong-il, que não buscou uma reforma econômica e preferiu aferrar-se ao planejamento centralizado e ao brutal esmagamento de qualquer oposição.

Estima-se que na década de 1990, sob o comando de Kim Jong-il, cerca de 1 milhão de norte-coreanos tenham morrido de fome. Mesmo em anos de safras boas, o Estado é incapaz de alimentar seus 25 milhões de habitantes.

Pouco se sabe de Jong-un, que supostamente tem menos de 30 anos, estudou por um curto período em uma escola da Suíça e foi nomeado no ano passado para altos cargos políticos e militares.

A KCNA disse que Kim Jong-il morreu às 8h30 de sábado (21h30 de sexta-feira no horário de Brasília), depois de um "infarto avançado agudo do miocárdio, complicado por um sério choque cardíaco".

A Coreia do Sul, ainda tecnicamente em guerra com o Norte, colocou suas tropas e todos os funcionários públicos em alerta emergencial, mas disse não haver sinais de nenhum movimento militar excepcional na Coreia do Norte.

Sucessão

Kim Jong-un foi citado em primeiro lugar numa longa lista de autoridades que comporão o comitê fúnebre, indicando que ele irá comandar a cerimônia, e num sinal de que ele assumiu - ou recebeu - a liderança do país. Mas haverá dúvidas sobre até que ponto o rapaz detém o real controle do país, e se a elite militar o aceitará.

Zhu Feng, professor de Relações Internacional da Universidade de Pequim, disse que claramente o mecanismo de sucessão está em andamento.

"A maior preocupação agora não é se a Coreia do Norte manterá sua estabilidade política, mas qual será a natureza na nova liderança política, e quais políticas ela perseguirá interna e externamente. Em curto prazo, não haverá novas políticas, só a afirmação da estabilidade política e da continuidade. Tão pouco depois de Kim Jong-il ter morrido, nenhum líder ousará dizer que um rumo político alternativo é necessário", disse Zhu.

Especialistas dizem que Jong-un tem inteligência e liderança que o qualificam como sucessor do pai. Ele também tem fama de ter um comportamento implacável, o que analistas dizem que será preciso para governar a Coreia do Norte.

Um líder excêntrico com mão de ferro e dons de estrategista

Kim Jong-Il, cuja saúde estava debilitada desde que sofreu, em agosto de 2008, um derrame cerebral, se caracterizou pelo uso da propaganda, um culto exacerbado de sua personalidade, pela capacidade de manter o controle do Exército e dos campos de trabalho para permanecer no poder, tal como já havia feito seu pai.

O dirigente calou aqueles que previam o fim do regime norte-coreano após a desintegração da União Soviética no início dos anos 1990.

Mesmo administrando um país com tantos problemas como a falta de alimentos e a fome, para os norte-coreanos ele continuou sendo o "Querido Líder", seu sobrenome oficial, e manteve um polêmico programa de fabricação de armas nucleares, que rendeu dois testes, em outubro de 2006 e em maio de 2009.

Apesar de ridicularizado pelo Ocidente de forma constante por suas roupas e excentricidades, os analistas atribuíam a Kim Jong-Il uma grande capacidade como estrategista, mas destacavam que há alguns anos suas decisões eram cada vez mais erráticas, como a de bombardear em março de 2010 um navio de guerra sul-coreano, o que matou 46 militares. Pyongyang negou qualquer responsabilidade.

"Não é um louco nem alguém que vive de ilusões", declarou o francês Michael Breen, autor do livro "Kim Jong-Il: ditador norte-coreano". "Demonstrou que pode ser muito hábil", completou.

O modo de vida do dirigente norte-coreano foi objeto de piadas a tal ponto que sua figura virou protagonista do filme americano "Team America", dirigido pelos criadores do desenho South Park. Além de ser fã de bebidas refinadas, o Kim da animação coleciona jovens mulheres e filmes de Hollywood.

Mas esta imagem era enganosa. "O mundo exterior alimenta o mito de um playboy totalmente extravagante. O verdadeiro Kim é politicamente muito hábil. Tem o talento norte-coreano de saber aproveitar uma posição de fragilidade", explicou Breen.

"Em seu país é como um Deus para a população", explica Yu Suk-ryul, analista que mora em Seul. "O que ele quer é o que a Coreia do Norte obtém", completa.

De acordo com um fugitivo norte-coreano, o Querido Líder desejava um míssil nuclear norte-coreano com capacidade de atingir os Estados Unidos, com a esperança de que isto impedisse Washington de interferir nos assuntos do regime comunista.

"Não acredito que esteja disposto a abandonar o armamento atômico. Isto o obrigaria a confiar nos Estados Unidos e na Coreia do Sul", afirmou Breen.

Kim Jong Il, chamado de "pigmeu" pelo ex-presidente americano George W. Bush por sua baixa estatura (que tentava compensar com sapatos com salto plataforma), era o filho mais velho de Kim Il Sung, fundador da Coreia do Norte comunista e líder adorado pelo povo.

Quando Kim Jong-Il nasceu em 16 de fevereiro de 1942 apareceram uma estrela e um arco-íris duplo no céu, segundo a propaganda oficial. A montanha em que nasceu, o monte Paekdu, é considerado um local sagrado desde então.

Mas especialistas acreditam que ele teria nascido na Rússia, em um campo de treinamento da guerrilha onde seu pai liderou a guerra de resistência contra o invasor japonês até 1945.

Depois de obter o diploma universitário em 1964, o jovem de 22 anos começou a escalar posições dentro do Partido dos Trabalhadores.

Ele teria sido responsável pela organização de atentados, como o que matou 17 sul-coreanos em 1983 na então Birmânia ou a explosão em 1987 de um avião da Korean Airlines, companhia sul-coreana, que matou as 115 pessoas a bordo.

Após a morte do pai, em 1994, Kim Jong-Il assumiu o comando do Partido dos Trabalhadores.

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A seguir, as datas mais importantes para a Coreia do Norte, um dos regimes mais fechados do planeta e única dinastia do tipo estalinista do mundo

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