Legisladores opositores apresentaram nesta sexta-feira (6) uma denúncia contra a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, pelo suposto acobertamento do que qualificam como o "crime" do promotor Alberto Nisman e por obstrução da investigação.

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A denúncia foi apresentada hoje com as assinaturas da deputada Elisa Carrió e seu colega Fernando Sánchez, ambos da opositora Coalizão Cívica CC ARI, e envolve, além da governante, o secretário-geral da presidência, Aníbal Fernández, o chefe do exército, César Milani, e a procuradora-geral, Alejandra Gils Carbó.

O documento apresentado hoje fala em suposto acobertamento da morte de Nisman, inteligência ilegal, intromissões graves no desempenho do Poder Judiciário, omissão de denúncia e formação de quadrilha para a comissão destes delitos, segundo o comunicado. "O Poder Executivo alterou de fato a ordem constitucional, mediante a implantação de pistas falsas na investigação", assegura a denúncia apresentada nesta manhã.

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Alberto Nisman, promotor especial para a investigação do atentado contra a associação mutual israelita Amia que deixou 85 mortos em 1994, foi encontrado morto com um tiro na cabeça em sua casa no último dia 18 de janeiro, quatro dias após denunciar a presidente argentina por acobertamento dos suspeitos iranianos do crime.

As circunstâncias da morte ainda não foram esclarecidas apesar da investigação, infestada de confusões e contradições, apontar que morreu por um disparo realizado a não mais de um centímetro com a arma achada junto a seu corpo.

Na denúncia dos opositores se dá como certo que se tratou de um assassinato e não de um suicídio e se afirma que "deve investigar-se a participação de um ramo da Polícia Federal no crime do promotor Nisman". Também pedem que se averigue "a possível produção de pistas falsas por parte dos investigadores e a existência de uma área liberada propicia para o homicídio do promotor".

"Pesa sobre a procuradora-geral a responsabilidade de não ter preservado a vida de um de seus homens, um promotor da Nação ameaçado, tanto como a constante perseguição de promotores independentes e uma inadmissível pressão sobre a promotora a cargo da investigação da morte de Nisman, Viviana Fein", sustenta a denúncia.

"Temos que obrigar à presidente, sob pena de investigação penal, a deixar de intervir e direcionar a causa. A presidente não é um cidadão a mais opinando. Ela maneja informação que ninguém mais maneja", disse Sánchez à Agência Efe.

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Para o deputado, a governante "está contando um conto que quer que seja o resultado da investigação policial", graças ao fato de possuir "informação confidencial" e "seguramente muitos dados que não diz".

Carrió, de férias no Uruguai, disse hoje em declarações a emissoras de rádio que Nisman está "morto por uma operação de Inteligência do governo", pela qual responsabilizou César Milani, a quem apontou como "o chefe da inteligência interior" após o deslocamento de Antonio "Jaime" Stiuso como diretor de Operações dos Serviços de Inteligência.

Segundo Carrió, Stiuso foi o "cúmplice principal" do falecido presidente Néstor Kirchner (2003-2007). Para Carrió há uma "guerra" dentro dos serviços de inteligência e "parte dessa guerra era eliminar o promotor para retroceder o caminho da pista iraniana".

A deputada sustentou que Nisman denunciou à presidente "porque queria salvar sua vida, porque, se deixasse de ser promotor, era um homem morto". Carrió disse a "Rádio Mitre" que deve denunciar mais pessoas relacionadas com o governo e vinculadas ao iraniano Moshen Rabbani, um dos principais acusados no ataque à Amia.

Em sua defesa, o governo argentino afirmou hoje que os opositores formulam acusações sem apresentar provas e para "gerar soçobra na sociedade". O secretário-geral da presidência, Aníbal Fernández, sustentou que "é preciso encarar como uma brincadeira" a denúncia da oposição e acusou Carrió de estar "suja como uma batata". "Eles precisam ter provas para demonstrar que há um assassinato. Seria preciso pedir que essas provas fossem apresentadas", considerou Fernández.

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Em resposta, Sánchez disse que como denunciantes acreditam que não se tratou de um suicídio, motivo pelo qual "é preciso investigar todos os possíveis responsáveis", e lembrou que a própria presidente foi a primeira a pôr em dúvida a teoria do suicídio.