O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, exigiu que o governo iraquiano e os curdos do Iraque atuem contra os membros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) a fim de evitar as conseqüências de uma incursão do exército turco.
"Eles devem assumir uma posição clara, isso é do interesse de todos", disse Erdogan no Parlamento, pedindo aos curdos do Iraque que "cooperem" com Ancara contra os rebeldes, refugiados no norte do Iraque.
"A direção central iraquiana e a região autônoma do norte do Iraque devem erguer um muro bem alto entre elas e a organização terrorista", acrescentou, em referência ao PKK.
O Parlamento Turco deve votar nesta quarta-feira uma moção para autorizar uma incursão militar no Iraque contra os rebeldes.
Esta autorização parlamentar teria um ano de validade, o que os observadores consideram como uma "espada de Damocles" sobre o Iraque.
Ancara acusa aos curdos iraquianos de fornecerem armas e explosivos ao PKK e reclama que Bagdá não faz o suficiente para combater a esta organização, considerada terrorista pela União Européia e Washington.
O governo iraquiano do primeiro-ministro Nuri Al Maliki parece ter captado a mensagem e nesta terça-feira participou de uma reunião de emergência ao término da qual anunciou o envio de uma delegação a Ankara em datas a ainda serem definidas.
O xiita Al Maliki insistiu "no compromisso de seu governo na luta contra as atividades terroristas do PKK contra a Turquia".
Além disso, expressou o seu desejo de que as divergências se resolvam diante de negociações presididas pelos Estados Unidos, argumentando que "os governos iraquiano e turco devem cooperar para combater o terrorismo".
Também nesta terça, o vice-presidente iraquiano, Tarek al Hashemi, chegou a Turquia para se encontrar com o Erdogan e com o presidente Abdulá Gul.
Apesar destas questões, o governo de Ankara considera pouco provável que Bagdá esteja disposto a pressionar as autoridades autônomas curdas.
A Turquia e o Iraque assinaram recentemente um acordo antiterrorista cujo alcance, no entanto, não afeta aos curdos, primeiros aliados dos americanos desde sua ocupação no Iraque em 2003.
O vice-primeiro-ministro turco, Cemil Cicek, disse nesta segunda-feira, na saída do conselho dos ministros, que uma possível incursão turca se dirigia única e exclusivamente contra o PKK sem afetar a integridade do Iraque, lugar usado pelos separatistas curdos para se infiltrarem no solo turco para perpetrar ataques. Estas ações aumentaram desde começos de 2007.
O combate pela independência que o PKK mantém desde 1984 contra a Turquia causou a morte de mais de 37.000 pessoas.
Atualmente, a Turquia estima em 3.500 o número de rebeldes refugiados nas montanhas do norte do Iraque, região em que o regime do ex-ditador Sadam Hussein submeteu a numerosos ataques.
Segundo a imprensa turca, o chanceler Ali Babacan começará na quarta-feira um giro pelo Oriente Médio, em que visitará o Egito e o Líbano para tentar limitar a reação dos países árabes a uma suposta ação turca no Iraque.
Os Estados Unidos se pronunciaram explicitamente contra tal medida.
"Queremos que o Iraque seja estável e desejamos ver que o PKK prestar contas à justiça, mas pedimos aos turcos que continuem discutindo conosco e que os iraquianos se abstenham de realizar qualquer ação que possa ser desestabilizadora", disse o porta-voz da Casa Branca, Gordon Johndroe.
As relações entre a Turquia e os Estados Unidos, aliados na Otan, ficaram mais tensas nas últimas semanas pelo texto que tem sido debatido na Câmara dos Representantes americana sobre as chacinas de armênios entre 1915 e 1917 no Império Otomano, podendo defini-las como "genocídio".
O exército americano, por sua vez, considera a possibilidade de adotar uma solução alternativa para abastecer suas tropas no Iraque caso a Turquia o impeça de usar suas bases, em reação a uma eventual aprovação pelo Congresso americano que declararia o genocídio armênio.
"Estamos elaborando planos. Trata-se de estudar as outras opções das quais dispomos, já que haverá sérias conseqüências operacionais" se a Turquia bloquear a passagem do material militar americano por seu território, declarou um alto funcionário do Pentágono.
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