Manifestantes lí­bios ocupam o topo de um edifício durante uma manifestação na cidade portuária de Tobruk, na Líbia| Foto: REUTERS/Stringer
Manifestantes reunidos na Líbia. A fotografia é uma reprodução do Facebook e não há data confirmada
Imagem do canal de TV do governo mostrando manifestantes que apoiam Kadafi reunidos em praça na cidade de Tripoli enquanto reportavam que caças do países estavam atacando opositores do regime
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O líder líbio Muamar Kadafi travava na segunda-feira uma batalha cada vez mais sangrenta para permanecer no poder, enfrentando uma rebelião que se espalhou do leste do país para Trípoli, a capital, e que parece incluir até mesmo o primeiro escalão do seu regime.

Moradores relataram ter ouvido tiros em parte da cidade, e um ativista político afirmou que aviões bombardearam a cidade. Já a TV estatal mostrou uma manifestação de partidários de Kadafi, no poder desde 1969.

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Um filho do líder líbio, Saif al-Islam Kadafi, disse que os ataques aéreos tinham como alvo depósitos de munições e não áreas povoadas de Trípoli e Benghazi.

Forças leais ao presidente já mataram dezenas de pessoas em várias cidades, principalmente no nordeste do país, segundo testemunhas e entidades de direitos humanos. Diversos governos estrangeiros condenaram a repressão aos manifestantes, que agem sob inspiração das recentes revoltas populares nos vizinhos Tunísia e Egito.

Não é possível verificar de forma independente os relatos sobre a violência, e as comunicações do exterior com a Líbia são difíceis. Mas a impressão que se tem é de que um líder há décadas presente no cenário mundial, e que controla vastas reservas petrolíferas, está lutando por sua sobrevivência. Refletindo temores com a oferta de petróleo, a cotação do produto tipo Brent chegou na segunda-feira a 108 dólares por barril.

"O que estamos testemunhando hoje é inimaginável. Helicópteros e aviões militares estão bombardeando indiscriminadamente uma área após outra. Há muitíssimos mortos", disse o ativista Adel Mohamed Saleh numa conversa ao vivo com a TV Al-Jazira.

"Nossa gente está morrendo. É a política de terra arrasada. A cada 20 minutos eles bombardeiam", acrescentou. Ele relatou que os ataques prosseguiam.

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Mas outros moradores de Trípoli, inclusive um repórter da Reuters, disseram não ter escutado bombardeios aéreos. "Durante o dia havia alguns helicópteros voando ao redor, mas não ouvi canhões, tiros nem nada", disse o repórter.

Dois pilotos líbios desertaram e pousaram em Malta, dizendo que se negaram a cumprir ordens de bombardear manifestantes, segundo o governo maltês.

A produção em um dos campos petrolíferos do país teria sido interrompida por uma greve dos trabalhadores, e algumas empresas petrolíferas europeias suspenderam suas operações e tiraram funcionários estrangeiros do país. A maioria dos campos de petróleo da Líbia se situa no leste, ao sul de Benghazi, berço da turbulência atual.

Protestos antigoverno também explodiram na cidade central de Ras Lanuf, sede de uma refinaria de petróleo e um complexo petroquímico, informou o jornal líbio Quryna em seu site na Internet na segunda-feira.

Renúncias

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Em sinais de desacordo dentro da elite governante líbia, o ministro da Justiça renunciou a seu cargo em protesto contra o "uso excessivo de violência" contra manifestantes.

Na Índia, o embaixador líbio anunciou sua renúncia em protesto contra a repressão violenta.

Uma coalizão de líderes muçulmanos líbios disse a todos os muçulmanos que é seu dever rebelar-se contra a liderança líbia, em função de seus "crimes sangrentos contra a humanidade".

Países europeus estão assistindo ao desenrolar dos acontecimentos na Líbia com um sentimento crescente de preocupação, depois de o governo de Trípoli ter dito que vai suspender a cooperação na repressão ao fluxo de imigrantes ilegais que atravessam o Mediterrâneo em direção à Europa.

O primeiro-ministro britânico David Cameron, em visita à região, disse que os acontecimentos na Líbia são chocantes e inaceitáveis.

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A televisão Al-Jazira citou fontes médicas como tendo dito que 61 pessoas morreram nos protestos mais recentes em Trípoli.

A emissora disse que forças de segurança estão saqueando bancos e outras instituições governamentais em Trípoli, e que manifestantes tinham invadido e depredado várias delegacias de polícia.

Um repórter da Reuters em Trípoli disse que moradores da cidade estão fazendo estoques de produtos essenciais, aparentemente prevendo novos enfrentamentos após o anoitecer. Havia longas filas diante de lojas de alimentos e em postos de combustíveis.

O prédio em que o Congresso Geral do Povo, ou Parlamento, se reúne em Trípoli foi incendiado na segunda-feira, assim como uma delegacia de polícia em um dos subúrbios da zona leste da capital.

"Até o último homem de pé"

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Saif al-Islam Kadafi apareceu na televisão nacional em uma tentativa de ameaçar e também tranquilizar a população, dizendo que o Exército implementará a segurança a qualquer preço para reprimir uma das revoltas mais sangrentas do mundo árabe.

"Vamos continuar a lutar até o último homem que estiver de pé ou até mesmo à última mulher", disse ele no domingo.

Mas pessoas em Trípoli expressaram indignação com o discurso.

Uma líbia que disse se chamar Salma afirmou: "O discurso foi muito, muito ruim".

"Foi muito decepcionante, porque ele ameaçou o povo líbio com matanças, fome e incêndios. Não ofereceu misericórdia pelas almas dos mártires mortos."

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Outro homem comentou: "Esperávamos algo que fosse bom para nós, para os jovens, para acalmar a ira, mas ele não fez nada".

Partidários de Kadafi estavam na Praça Verde, no centro de Trípoli, na segunda-feira, agitando faixas e carregando o retrato do governante.

Em Al Bayda, cidade situada a 200 quilômetros de Benghazi, que na semana passada foi palco de enfrentamentos mortais entre manifestantes e forças de segurança, um morador disse à Reuters que os manifestantes também estão no comando.