O presidente da Rússia, Vladimir Putin, advertiu nesta quinta-feira (10) que pode cortar o fornecimento de gás para a Ucrânia se não pagar as contas e, por consequência, reduzir o envio para a Europa, numa crise que tem a Crimeia como pano de fundo. Em uma carta a líderes europeus, Putin pediu consultas urgentes para estabilizar a economia ucraniana. O presidente russo advertiu ainda que 11,5 bilhões de metros cúbicos de gás - no valor de US$ 5,5 bilhões - precisam ser bombeados para a Ucrânia para garantir o fornecimento ininterrupto.
A Gazprom, empresa controlada pelo governo russo, interrompeu em duas vezes no passado o fornecimento de gás para a Ucrânia, em 2005/2006 e 2008/2009. O fato levou à redução no suprimento para países europeus que recebem o gás russo por meio de dutos que atravessam a Ucrânia.
A estatal "se verá obrigada a pedir um pagamento adiantado de seu fornecimento de gás (à Ucrânia) e, em caso de as condições não serem respeitadas, levar a uma suspensão total ou parcial do abastecimento de gás", diz a carta de Putin a 18 governantes europeus. O presidente russo propõe ainda ajudar a economia da Ucrânia "em partes iguais com os sócios europeus".
Críticas à Otan
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia acusou a Otan nesta quinta-feira de usar a crise na Ucrânia para aumentar seu apelo junto aos membros e justificar sua existência, reunindo-os contra uma ameaça imaginária. O secretário-geral da organização atlântica, Anders Fogh Rasmussen, avisou que Moscou deve retirar suas tropas da fronteira com a Ucrânia ou enfrentará consequências caso resolva intervir no país.
Especialistas russos afirmam que Putin quer provocar caos no Leste da Ucrânia, sem intervir militarmente.
"Uma intervenção militar seria totalmente absurda. Nossos líderes já entenderam que o risco é muito alto, e que há a possibilidade de duras sanções econômicas", afirmou o analista Alexei Malachenko, do Centro Carnegie.
Uma análise divulgada pelo jornal econômico "Vedomosti" lembrou que as regiões do Leste não estão isoladas geograficamente, nem têm uma base militar russa, como era o caso na Crimeia. "A situação social e o nível de apoio não têm nada a ver com o que se viu na Crimeia, o risco é muito mais alto de todos os pontos de vista", afirma o jornal em seu editorial, afirmando que o Kremlin apoia a instabilidade na região "para colocar em xeque a legitimidade das eleições presidenciais e tentar influenciar nas reformas constitucionais ucranianas".
"A Rússia quer conseguir no mínimo que a Ucrânia se torne uma federação, na qual as regiões pró-russas tenham autonomia suficiente para negociar acordos comerciais e diplomáticos diretamente com Moscou", afirmou o analista russo Konstantin Kalachev.