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Na sexta-feira, dez dias após o terremoto no Haiti, um jovem de 22 anos foi resgatado com vida dos escombros. No dia anterior, foi a vez de uma senhora de 84 ser encontrada viva. Dois dias antes, um bebê de apenas 20 dias. Quanto mais tempo eles po­­deriam sobreviver numa situação como essa, sem água ou comida? Segundo a literatura médica, eles até foram longe demais. E não por causa da falta de comida. Numa situação hipotética em que se possa escolher en­­tre água e comida, os médicos são claros: fique com a água. Em 2004, num caso conhecido nos EUA, o prisioneiro Char­­les R. McNabb ficou mais de 150 dias em greve de fome até que, após decisão judicial, foi forçado a comer. No período, ele bebeu apenas água e, ocasionalmente, café. O caso é extremo e está longe do que é considerado como situação limite para os médicos. Em geral, eles concordam que uma pessoa consiga sobreviver no máximo 60 dias sem comida. Uma série de fatores pode encurtar esse período.

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"Normalmente, o paciente que tem mais reserva em forma de gordura pode se beneficiar no momento de privação de comida e água. A tendência é que tenham mais resistência", diz a médica Iva­­na Roseira Gomes, chefe da coordenação do pronto-so­­corro do Hospital Vitta Curi­­tiba.

Quando deixa de receber comida, o corpo passa a consumir a energia armazenada. Primeiro vão os carboidratos e, em seguida, as gorduras. Ainda que o corpo "entenda" que está faltando comida e diminua o ritmo do metabolismo para gastar menos energia, chegará um momento em que não restará outra opção a não ser consumir proteínas. A essa altura, o corpo estará literalmente consumindo a si próprio. Por isso os gordinhos têm uma certa vantagem: queimando gordura, eles conseguem protelar que os músculos e os órgãos vitais sejam consumidos.

Ainda que uma pessoa sobreviva algumas semanas sem co­­mida, sem água ela dificilmente passará de alguns dias. E aí a condição do clima desempenha um papel fundamental. Sob muito calor, o corpo pode começar a de­­sidratar em questão de horas. "Mas muito frio também não é bom. A hipotermia é um problema porque o corpo gasta muito energia para manter a temperatura. O ideal é ficar numa temperatura estável", diz Ivana. Em pouco tempo, a falta de água pode inclusive causar problemas neurológicos. "A desidratação vai levar a distúrbios bioquímicos, elevando o nível de sódio no sangue e causando um hipernatremia, que pode levar a uma crise convulsiva ou mesmo a coma", diz Nazah Cherif Moha­­mad Youssef , diretora da UTI dos Hospitais das Nações e médica da UTI do Hospital de Clínica.