Forças leais a Muamar Kadafi lançaram nesta quinta-feira um contra-ataque aos rebeldes líbios que dominam cidades importantes perto da capital Trípoli, e o líder do país acusou o chefe da Al-Qaeda, Osama bin Laden, de manipular os manifestantes.
A oposição já controlava localidades importantes no leste, inclusive Benghazi, segunda maior cidade do país, e há relatos de que Misrata e Zuara, no oeste, também se renderam à onda de rebelião, que já ameaça a base de poder do ditador.
Nesta quinta-feira, forças leais a Kadafi atacaram milícias de oposição que controlam Misrata. Várias pessoas morreram em combates perto do aeroporto local.
Há relatos de presença militar nas estradas que dão acesso a Trípoli, e combates foram registrados também na localidade de Zawiyah, terminal petrolífero que fica apenas 50 quilômetros a oeste da capital. Testemunhas disseram que pessoas à paisana - aparentemente forças leais e contrárias a Kadafi - estavam trocando tiros nas ruas.
"Está caótico lá. Há pessoas com pistolas e espadas", disse Mohamed Jaber, que passou por Zawiyah a caminho da Tunísia nesta quinta-feira.
A TV Al-Jazira exibiu imagens do que disse ser uma delegacia de polícia em chamas em Zawiyah. Uma testemunha relatou à Reuters que o Exército líbio tinha grande presença no local.
Kadafi, que falou à TV líbia por telefone nesta quinta, acusou Osama bin Laden de manipular os cidadãos que empreendem a revolta contra o seu governo de quatro décadas.
"(Osama bin Laden) é o verdadeiro criminoso", disse. "Não se deixem influenciar por Bin Laden", acrescentou Kadafi, que fez um chamado aos cidadãos líbios para que tomem as armas daqueles que estão protestando.
A rebelião contra Kadafi, no poder desde 1969, praticamente paralisou as exportações de petróleo da Líbia, disse o presidente da empresa italiana ENI, principal operadora da exploração petrolífera no país africano. Os distúrbios fizeram a cotação do petróleo atingir cerca de 120 dólares por barril, causando preocupações a respeito da recuperação econômica mundial.
Milícias de oposição controlam Zuara, cerca de 120 quilômetros a oeste de Trípoli, disseram à Reuters operários egípcios da construção civil que fugiram para a Tunísia nesta quinta-feira.
Não há sinais de presença policial ou militar na cidade, que está sob controle de "comitês populares" portando armas automáticas.
"O povo está no controle. As delegacias foram incendiadas e não vimos nenhum agente da polícia ou do Exército nos últimos dias", disse o operário egípcio Ahmed Osman.
Separadamente, advogados e juízes disseram pela internet que controlam a cidade litorânea de Misrata, 200 quilômetros a leste de Trípoli,
Líderes mundiais têm condenado a sangrenta repressão de Kadafi à rebelião iniciada há uma semana, mas pouco fizeram para conter a violência, que é parte de uma onda de revoltas que tem reconfigurado o mundo árabe
Em suas primeiras declarações públicas sobre a crise líbia, o presidente dos EUA, Barack Obama, qualificou de "ultrajantes" e "inaceitáveis" os ataques a manifestantes, que já resultaram em centenas de mortes nos últimos dez dias.
Desafio
EUA e União Europeia cogitam adotar sanções contra Kadafi, um líder revolucionário caracterizado por idiossincráticos desafios ao Ocidente ao longo dos anos. Mas parece haver pouca coesão ou urgência na reação global.
A desértica Líbia, com 7 milhões de habitantes, produz 2% do petróleo mundial.
"É imperativo que as nações e povos do mundo falem a uma só voz", disse Obama. "O sofrimento e o derramamento de sangue são ultrajantes."
O ministro francês da Defesa, Alain Juppé, disse esperar que Kadafi esteja "vivendo seus últimos momentos como líder". O chanceler britânico, William Hague, pediu ao mundo que amplie a pressão sobre o ditador.
Benghazi, berço da rebelião, já está sob controle consolidado dos rebeldes, e muitos militares desertaram por lá. Agora, seus 700 mil habitantes começam a viver sob a gestão de "comitês populares."
Um correspondente da Reuters viu cerca de 12 pessoas presas num tribunal - todas elas apontadas por moradores como "mercenários" a serviço de Kadafi. Alguns eram descritos como africanos de outros países, e outros como oriundos do sul da Líbia.
"Eles foram interrogados, estão sendo mantidos em segurança, e são bem alimentados", disse o conferencista universitário Imam Bugaighis, 50 anos, que participa da organização dos comitês populares. Ele acrescentou que os supostos mercenários serão julgados conforme a lei, mas que o prazo para isso não está claro, por cauda do colapso das instituições estatais.
Irados, moradores destruíram o edifício que supostamente servia como quartel para os mercenários.
Em Trípoli, que continua praticamente inacessível à imprensa estrangeira, moradores disseram estar com medo de sair às ruas, por medo de serem alvejados pelas forças governamentais.
"As pessoas começaram a trabalhar nesta quinta-feira. Mas isso não significa que não estejam com medo. Mas até agora as pessoas estão se deslocando," disse um morador à Reuters.
- Avião com 114 brasileiros que estavam na Líbia chega a Malta
- Kadafi acusa Bin Laden por protestos na Líbia em pronunciamento
- Petrobras retira funcionários brasileiros da Líbia
- Alitalia suspende voos para capital da Líbia
- Governo líbio oferece recompensa a quem cooperar contra revolta
- Novos tumultos são registrados na Líbia
- Obama condena violência na Líbia; EUA estudam medida
- Kadafi ordenou atentado de Lockerbie, diz ex-ministro
- Governo líbio cai em "questão de dias", diz ex-diplomata
- Medo assola Trípoli e Kadafi perde controle do leste da Líbia