Porto Príncipe - De volta a Porto Príncipe após 25 anos de exílio na França, o ex-ditador do Haiti Jean Claude Duvalier, o "Baby Doc, se transformou em mais um ator da crise política do país e provocou uma onda de duras críticas de ONGs e ex-perseguidos políticos que cobram que ele seja julgado pelos crimes de seu governo (1971-1986). "Vinte e cinco anos de um cômodo exílio são suficientes para esquecer os horrores, o sofrimento, a injustiça, o custo econômico e humano de décadas de ditadura?, questionou Michaëlle Jean, enviada da Unesco ao Haiti.
Jean fez carreira no Canadá, para onde a família migrou quando ela tinha 11 anos por causa da perseguição do regime Duvalier.
O inesperado regresso de "Baby Doc, de 59 anos, no domingo, também foi criticado pelas ONGs Human Rights Watch e Anistia Internacional, que exigiram que ele seja julgado por supostos crimes de lesa humanidade e o desvio de estimados US$ 100 milhões.
Duvalier cancelou conversa com jornalistas marcada para ontem, mas recebeu antigos seguidores no hotel de luxo Karibe. Legalmente, Duvalier não tem impedimentos para voltar ao Haiti. Tampouco responde a ações na Justiça. Seu retorno era considerado uma ameaça à estabilidade do país na avaliação dos EUA em 2006, às vésperas das eleições presidenciais, segundo documentos vazados pelo site WikiLeaks.
Opositores do presidente René Préval acusavam o governo de promover a volta de Duvalier para "turvar ainda mais a situação política no país e provocar a extensão do mandato do presidente. Ex-ativista que lutou contra a ditadura, Préval não fez comentários sobre a volta do ex-ditador. O Haiti teve o primeiro turno das eleições presidenciais no final do ano passado, com denúncias de fraudes. O segundo turno, que deveria ocorrer em 16 de janeiro, foi cancelado.
Préval recebeu ontem José Miguel Insulza, o secretário-geral da OEA, para falar sobre a crise política. Para o embaixador do Brasil no Haiti, Igor Kipman, o "timing muito curioso" de "Baby Doc" o converte automaticamente em um "ator" da crise.
"Ele é um haitiano e como tal é livre para voltar para casa", disse o primeiro-ministro Jean-Max Bellerive. Questionado sobre a possibilidade de "Baby Doc" desestabilizar o país, Bellerive disse que "até agora, não existem motivos para acreditar nisso"
Retorno
Segundo uma fonte diplomática francesa em Porto Príncipe, Duvalier tem uma passagem de volta para a França marcada para quinta-feira, dia 20 de janeiro.