O presidente russo, Dmitry Medvedev, convocou hoje a comunidade internacional para trabalhar por diretrizes unificadas a fim de evitar acidentes como o desastre de Chernobyl, ocorrido há exatos 25 anos. Apesar disso, ele defendeu o uso da energia nuclear.
O mandatário russo convidou líderes mundiais para trabalhar no desenvolvimento de uma série de normas para tornar a energia nuclear mais segura. Medvedev e o presidente ucraniano, Viktor Yanukovych, falaram durante uma cerimônia realizada perto do reator nuclear número 4, que explodiu em Chernobyl em 26 de abril de 1986, lançando uma nuvem radioativa por boa parte da Europa e forçando centenas de milhares de pessoas a fugir de suas casas nas áreas mais atingidas, na Ucrânia, Bielo-Rússia e no oeste da Rússia.
"É de fundamental importância que nós entendamos o tipo de força com que a humanidade está lidando, para que nossas soluções atendam aos desafios da energia nuclear", disse o presidente russo. Medvedev e Yanukovych participaram de uma cerimônia religiosa liderada pelo patriarca da Igreja Ortodoxa, Kirill, perto da usina de Chernobyl. O presidente russo lembrou o papel dos trabalhadores que evitaram um desastre ainda pior, após o acidente em Chernobyl.
Yanukovych notou que acidentes como o de Chernobyl e o da usina Daiichi, em Fukushima, no Japão, afetam todo o planeta. Ele renovou o pedido por dinheiro para a construção de uma estrutura que deve recobrir o reator danificado em Chernobyl. A Ucrânia ainda precisa de cerca de US$ 300 milhões para a obra. "Nenhuma nação pode enfrentar tais catástrofes sozinha", disse Yanukovych.
A explosão em Chernobyl emitiu cerca de 400 vezes mais radiação que a bomba atômica lançada pelos Estados Unidos sobre Hiroshima. Centenas de milhares de pessoas adoeceram e áreas de bosques e agricultura ainda estão contaminadas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 600 mil pessoas foram muito expostas à radiação por causa de Chernobyl.
Além do problema físico, Chernobyl deixou um forte impacto na lembrança de muitos ucranianos, russos e bielo-russos, por causa da falta de atenção do governo da União Soviética por sua segurança e suas vidas. Os líderes soviéticos esperaram vários dias para informar as pessoas sobre o acidente e instruí-las sobre os riscos à saúde, retirando pessoas de zonas de risco.
Medvedev qualificou a atitude como um grande erro. "O dever do governo é dizer às pessoas a verdade. É preciso admitir que o governo nem sempre age da forma correta", avaliou. Rússia, Ucrânia e Bielo-Rússia cortaram os pacotes de benefícios para trabalhadores que atuaram na resposta à crise em Chernobyl nos últimos anos. O primeiro-ministro ucraniano, Mykola Azarov, disse hoje que as pensões às vítimas seguirão sendo pagas.
O presidente bielo-russo, Alexander Lukashenko, criticado na União Europeia (UE) após a violenta repressão a ativistas de oposição no ano passado, não participou do evento na Ucrânia. Alguns observadores acreditam que a Ucrânia marca a data sem Lukashenko para agradar Bruxelas, no momento em que o país busca tornar-se membro da UE.