Os dirigentes da Rússia estão indignados e frustrados com a suposta incapacidade do Ocidente em compreender a guerra com a Geórgia - tão frustrados que passaram horas nesta semana apresentando seus argumentos pessoalmente a representantes de meios de comunicação estrangeiros e a especialistas internacionais.
O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, disse ter ficado surpreso e ofendido com a "intensidade da máquina de propaganda ocidental".
"Isso vai além das fronteiras da lógica e da razão", afirmou ele durante o encontro anual do Clube Valdai de repórteres e acadêmicos, realizado nesta quinta-feira (11).
Ao final do evento, Putin pediu aos presentes que fizessem com que a versão russa da história se fizesse escutar.
Adotando uma postura semelhante, o presidente russo, Dmitry Medvedev, afirmou nesta sexta-feira que "todos os problemas são problemas de comunicação".
"Se as autoridades georgianas tivessem tido a sabedoria de falar conosco, teríamos evitado o conflito. Onde não há comunicação, há guerra", disse durante um almoço na luxuosa loja de departamentos GUM, localizada nas proximidades do Kremlin.
Os comentários feitos pelos líderes russos representam um esforço coordenado para mudar a postura do Ocidente em relação ao conflito com a Geórgia, cujo presidente, Mikheil Saakashvili, condenou a "agressão russa" em uma enxurrada de entrevistas concedidas durante a crise a meios de comunicação do mundo todo.
Não é difícil de compreender os motivos da indignação russa. Para Medvedev, a tentativa georgiana de retomar à força o controle sobre a região separatista da Ossétia do Sul, nos dias 7 e 8 de agosto, é o "11 de setembro da Rússia".
O presidente e o premiê estão convencidos de que a resposta russa - que enviou suas forças para dentro de grande parte da Geórgia - foi correta e proporcional.
"Nova Guerra Fria"
Entre os meios de comunicação ocidentais, no entanto, paralelos foram traçados com a invasão alemã da Polônia, em 1939. Houve declarações sobre o início de uma nova Guerra Fria.
Grande parte da cobertura ocidental do conflito apresentou a Rússia como o agressor de uma Geórgia pró-Ocidente. Os russos estariam agindo da mesma forma que a União Soviética quando esmagou movimentos reformistas na Hungria e na Tchecoslováquia em 1956 e em 1958.
Nada disso, afirmam os russos.
"Nós chegamos a alguns quilômetros de Tbilisi. Se quiséssemos, poderíamos ter tomado a cidade em quatro horas. Mas não quisemos fazer isso", afirmou Putin.
Rebatendo as sugestões de que a Rússia provocou a Geórgia a atacar, o presidente e o premiê russos afirmaram terem sentido horror e incredulidade ao saber que os soldados georgianos bombardeavam a Ossétia do Sul, uma região protegida por forças de paz russas.
"Meu ministro da Defesa me ligou à 1h da madrugada", afirmou Medvedev. "A Geórgia havia informado a Ossétia do Sul sobre pretender lançar um ataque. Eu pensei que se tratava de uma outra provocação."
"Quando os soldados georgianos começaram a avançar rumo à Ossétia do Sul, eu fiquei observando na esperança de que eles parassem. Eles não pararam. A esperança morre por último."
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