Na tarde de quarta-feira, a brasileira e professora universitária Janina Sanchez, de 56 anos, estava em uma reunião na Secretaria de Meio Ambiente de Ica, no Peru. Ela aguardava o marido peruano e médico do Hospital Regional de Ica quando o forte terremoto de 8.0 graus de magnitude atingiu a cidade, matando centenas de pessoas. Janina não sabia que os piores momentos de suas vida estavam por vir. Dois dias depois, ela contou que em casa agora ela e o marido controlam a água bebida e os poucos enlatados que sobraram na prateleira, além de economizam a bateria dos celulares para falar com parentes no Brasil, pois não há eletricidade para recarregar os aparelhos.
No hospital onde seu marido trabalha, tristeza, caos e muitos riscos. Diversos pacientes que sobreviveram ao terremoto morreram dentro do hospital após os abalos secudários.
- Partes do hospital desmoronaram após os tremores. E outras partes estão infectadas. Por isso, não há lugar para atender as vítimas. Elas não param de chegar. Todos os corredores do hospital viraram enfermarias e eles estão operando os pacientes no jardim porque não há salas de operações mais. Eu fui para lá hoje como voluntária, mas o meu marido me mandou voltar para casa porque está muito perigoso. Há risco de epidemia.
Segundo a brasileira, médicos da cidade de Arequipa, que fica a 8 horas de Ica, chegaram nesta sexta ao local para ajudar os cirurgiões e voluntários no hospital.
- Esse hospital é o de referência e eles não têm mais material, como roupas cirúrgicas, seringas, algodão e remédios. E tudo é descartável. Então, eles têm que jogar fora todo o material usado, deixando outras pessoas sem atendimento. É muito triste - emocionou-se.
As grávidas, segundo ela, começaram a dar à luz seus filhos antes da hora por conta do susto do terremoto. E pela quantidade de bebês que nasceram na cidade, faltam berços.
Encontrar Janina em casa não foi tarefa difícil. Ela agora passa o dia inteiro protegendo seus pertences, já que há um grande número de saques nas residências da cidade.
- A população está reclamando que falta segurança, pois estão saqueando tudo de todo mundo. Eu não posso sair de casa.
No momento do terremoto, Janina teve tempo de correr para o pátio da secretaria para se proteger dos objetos que caíam na sala de reunião.
- Foi muito forte. Caíram muitas coisas. Várias casas caíam. Eu vi. O chão fazia uma onda. Muito impressionante - disse ela.
Pouco depois, o caos. A cidade parou. As ruas foram danificadas, carros esmagaram pessoas e edifícios caíram: 80% da cidade foi para o chão.
- As pessoas foram para as ruas sem abrigo e à noite faz muito frio porque aqui é uma área desértica. Só agora estão chegando equipes de ajuda.
Comida, nem pensar. Janina e o marido tiveram que jogar fora as carnes que tinham na geladeira, pois tudo havia estragado. Sobraram poucas frutas e alguns enlatados.
Segundo Janina, muitos morreram dentro das igrejas quando rezavam - Reuters
- Estou comendo frutas e vou jantar algo de lata. Não temos nada - contou.
Isso porque os mercados da cidade fecharam as suas portas hoje. Não há mais farmácias abertas e nem local para comprar comida e água. Por conta disso, Janina e o marido não tomam banho desde quarta-feira.
- Só escovamos os dentes. Ontem, fiquei duas horas na fila de um mercado e consegui comprar quatro garrafões de cinco litros d'água. Depois de mim, as pessoas não conseguiram mais comprar. Quem quisesse comprar mais de seis produtos tinha que enfrentar a fila novamente - relembrou.