O excêntrico ditador líbio Muamar Kadafi, 68 anos, integra o rol de ex-inimigos do Ocidente que, de acordo com a conveniência geopolítica, de uma hora para outra se tornam aliados ou tolerados (o inverso também ocorre: vide Saddam Hussein, Osama bin Laden e talebans).
No caso de Kadafi, a "conversão" aconteceu em 2003, quando ele anunciou o abandono de qualquer pretensão nuclear do país e, economicamente, passou a rezar a cartilha neoliberal. Peça-chave nessa mudança foi o ex-premiê britânico Tony Blair, responsável direto, entre outras coisas, por armar o regime de Kadafi com tanques e metralhadoras inglesas na última década.
Não houve, no entanto, a menor abertura para o povo líbio. Pelo contrário. Desde que liderou o golpe militar que derrubou a monarquia de então, há 42 anos, o ditador tem se caracterizado pela mão-de-ferro e pelo populismo. Respeito a liberdades civis e direitos humanos é algo que praticamente inexiste na Líbia. A constituição, o chamado "Livro Verde", foi escrita pelo próprio Kadafi.
Pessoalmente, é dado a caprichos e vaidades: pinta o cabelo, gosta de óculos escuros e, segundo o site Wikileaks, corrige as rugas com botox e jamais anda desacompanhado de uma "voluptuosa" enfermeira ucraniana. Tem oito filhos.
Para o Ocidente, ele era o "Osama bin Laden" dos anos 80. Em 1986, os Estados Unidos chegaram a bombardear uma das casas de Kadafi mataram uma filha, o ditador escapou. Em 1992, sofreu sanções da ONU por se recusar a entregar dois suspeitos de planejar a queda de um avião da Pan Am, quatro anos antes, acidente que deixou 270 mortos na Escócia.
Em 2009, rasgou uma cópia da carta de fundação das Nações Unidas durante um discurso na própria ONU. Mas poucos se escandalizaram: na ocasião, ele já era aliado do Ocidente e o "inimigo" era outro: estava no Irã.