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Terrorista ontem, tolerado hoje
O excêntrico ditador líbio Muamar Kadafi, 68 anos, integra o rol de ex-inimigos do Ocidente que, de acordo com a conveniência geopolítica, de uma hora para outra se tornam aliados ou tolerados (o inverso também ocorre: vide Saddam Hussein, Osama bin Laden e talebans).
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Isolar a Arábia Saudita do incêndio político nos países árabes é a estratégia mais plausível para os Estados Unidos manterem a influência que ainda têm na região. Segundo especialistas, com a derrubada dos regimes na Tunísia e no Egito, a iminente queda do ditador Muamar Kadafi na Líbia e o alastramento das revoltas políticas às nações vizinhas, o regime saudita se tornou um dos últimos bastiões para garantir os interesses de Washington no Oriente Médio e norte da África.
Na avaliação do professor de Relações Internacionais Reginaldo Nasser, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a Casa Branca até agora tem se mostrado "completamente perdida".
"Resta a ela preservar a Arábia Saudita. É o grande aliado dos Estados Unidos na região, um país extenso, com enormes reservas de petróleo, considerado o mais estável por lá", observa Nasser. "A Casa Branca deve se preocupar com os sauditas, porque com os outros países já não tem mais jeito."
Para Andrew Traumann, professor de Relações Internacionais da Unicuritiba e doutorando em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), os Estados Unidos interveriam diretamente caso a revolta se espalhasse entre os sauditas. "A Casa Branca não ficaria apenas assistindo, como fez em relação a Egito e Tunísia. Uma mudança de poder ali causaria uma instabilidade sem precedentes, o preço do barril do petróleo iria disparar".
Alexsandro Pereira, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da UFPR, diz acreditar que, como existe um "efeito dominó" na região, a Arábia Saudita está suscetível às revoltas. Entretanto, os Estados Unidos, aponta, ainda "avaliam os acontecimentos para definir a melhor estratégia".
Quanto à Líbia, os especialistas apontam diferenças significativas com relação às revoltas na Tunísia e Egito. Uma delas é o fato de a ditadura de Trípoli ser extremamente fechada. "No Egito, há um fluxo grande de turistas, havia uma preocupação com a opinião pública internacional e um espaço para manifestação muito maior", comenta Traumann. "Na Líbia, não: é um governo com mão-de-ferro, não há internet e a tevê estatal, a única, tem noticiado apenas que os manifestantes são todos terroristas."
A iminência de uma guerra civil é vislumbrada por Nasser, principalmente pelas características dos militares líbios: "Não há entre eles uma unidade profissional centralizada, como no Egito e mesmo nos países ocidentais. O Kadafi fez um pacto com as tribos, que são muito importantes na Líbia, e isso também se reflete entre os militares. Se houver um racha entre eles, ocorre uma guerra civil".
Pereira, por sua vez, diz que é necessário aguardar os próximos acontecimentos. "É preciso identificar qual será o provável sucessor de Kadafi, caso se confirme a sua queda. Esse sucessor pode ou não contribuir para as relações dos EUA com o mundo árabe."
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