Trumo anuncia plano econômico de seu governo em Detroit, capital do Michigan| Foto: Bill Pugliano/AFP

Um país com impostos que chegam a zero “para muitos trabalhadores americanos”, corte maciço de regulações e hostil a acordos comerciais com outros países. É esse o tripé de Donald Trump para liderar a recuperação econômica dos EUA.

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O candidato republicano à Casa Branca apresentou nesta segunda-feira (8) seu plano para a área, numa locação estrategicamente escolhida: Detroit, símbolo do declínio industrial americano e “o maior exemplo do fracasso da agenda econômica dos meus oponentes”.

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Trump se esforçou para reverter uma crítica comum à sua campanha: a de que ele não se aprofunda e só oferece soluções genéricas para questões-chave da governança, de política externa a economia. “Graças a Deus estamos enfim conseguindo alguns detalhes”, disse Ryan Lizza, comentarista político da CNN.

O candidato também se empenhou em colocar para trás a imagem de destemperado, que grudou nele no começo do mês, após aquela que vem sendo considerada a pior semana de sua campanha. De brigar com a família de um militar muçulmano morto no Iraque a expulsar de um comício uma mãe cujo bebê chorava, a espiral de pequenos desastres políticos foi vasta.

Sob protestos

Em evento privado no Clube Econômico de Detroit, a fleuma do republicano foi testada após ao menos 11 manifestantes o interromperem aos berros, em momentos diferentes do discurso.

Alguns gritavam sobre imigração; outro falou que ele tinha “mãos pequenas”, revivendo antiga polêmica das prévias republicanas -ex-adversário na disputa, o senador Marco Rubio (Flórida) insinuou em debate que Trump tinha esse membro em tamanho reduzido, com as devidas comparações sexuais implícitas.

Na maioria das vezes, o empresário esperou calado que seguranças retirassem os militantes da sala, agradecendo os aplausos da plateia em desagravo a ele.

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Os poucos comentários foram lacônicos: primeiro disse que o ataque “foi muito bem planejado”, depois ironizou, supondo que os protestos partissem de partidários de Hillary Clinton, sua rival democrata: “Vou dizer, os apoiadores do Bernie Sanders [ex-oponente dela nas prévias democratas] têm muito mais energia”.

Trump estava focado. Por 55 minutos, ele, adepto de uma fala espontânea que lhe confere simpatia mas também proporciona gafes, usou um teleprompter para ler seu discurso. Prometeu a maior reforma tributária desde a era Ronald Reagan, que beneficiaria sobretudo a classe média.

“Os ricos pagarão sua cota justa, mas ninguém pagará tanto a ponto de destruir empregos ou minar nossa capacidade de competir”, disse.

América na frente

Ele reforçou uma ideia martelada há meses por sua campanha: existe a América e existe o resto do planeta; e Trump, ao contrário dos democratas, está ao lado do país. “Estamos em competição com o mundo, e quero que a América ganhe. Não estamos mais ganhando, mas, quando eu for presidente, voltaremos a ganhar, e muito.”

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Parte da reforma proposta pelo candidato inclui eliminar uma brecha tributária que diminui taxas para gerentes de alguns tipos de fundos de investimento -o que “tem sido tão bom para investidores de Wall Street e pessoas como eu, mas injusta para trabalhadores americanos”, assumiu Trump.

O presidenciável, que na sexta (5) divulgou uma equipe econômica com 13 homens e zero mulheres e minorias étnicas, incluiu entre as especificidades de sua agenda uma redução de impostos corporativos: de 35% para 15%.

Também prometeu eliminar encargos para serviços de assistência infantil, como creches, e a chamada “taxa da morte” (que incide sobre a transferência do patrimônio de pessoas mortas).

Sob o mote “América primeiro”, divulgado em março, ele condenou parcerias internacionais e elegeu dois grandes vilões: o Nafta, pacto de livre-comércio dos EUA com Canadá e México, e o Tratado Transpacífico (TPP, em inglês), fechado -mas ainda não sancionado- em 2015 com Japão e outras dez nações da baía do Pacífico.

O TPP, que engloba 40% da economia global, é uma questão de honra para o presidente Barack Obama, que o trata como peça central em sua estratégia geopolítica na Ásia. Críticos dizem que é um ataque à soberania dos EUA e custaria muitos empregos ao país, dado questionado por alguns especialistas.

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Hillary, que a princípio apoiava o texto, agora diz que a parceria -malvista pela maioria dos americanos- não mais a satisfaz. Trump ignorou o recuo e disse que um voto na rival “é um voto no TPP”.

O republicano lembrou que o Nafta foi assinado pelo marido da candidata, o ex-presidente Bill Clinton, e “exportou empregos para outros países, como o México”. “Ela é a candidata do passado. A nossa é a campanha do futuro”, afirmou.

Solícito à velha demanda de assessores e líderes republicanos, Trump dedicou parte da fala a ataques contra Hillary, retratada como alguém que “passou a carreira votando em aumento de impostos” e vai proporcionar nova alta que somaria US$ 1,3 trilhão em taxas.

Disse que “lembrava bem” do slogan que ela adotou para concorrer ao Senado nos anos 2000: “Vote em Hillary, ela trará trabalhos”. Em seguida, citou manchete desta segunda do “Washington Post” mostrando que a promessa não foi cumprida.

Apesar de estar em baixa nas pesquisas de intenções de voto, Trump tem um voto de confiança dos americanos nesse ponto.

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Mais confiável?

Sua vantagem como preferido para cuidar da economia é uma constante há meses nas sondagens. Em uma delas, da Fox News, de agosto, 50% o veem como mais capacitado para o tema, contra 45% que confiam mais em Hillary.