| Foto: BRIAN SNYDER/REUTERS

Pela primeira vez desde meados de julho alguém ameça a liderança do bilionário Donald Trump nas pesquisas para a indicação do candidato republicano na eleição americana de 2016: Ben Carson. Segundo levantamento CBS/New York Times, realizado entre os dias 9 e 13 deste mês e divulgado na terça-feira (15), ambos aparecem empatados dentro da margem de erro de três pontos percentuais. Trump tem 27% das intenções de voto, enquanto o neurocirurgião aparece com 23%. Na terceira posição estão, empatados, Jeb Bush, Marco Rubio e Mike Huckabee, com 6% dos votos cada. Na semana anterior, uma pesquisa de rede ABC em conjunto com o “Washington Post” dava 33% para o bilionário, 20% para Carson e 8% para Jeb Bush.

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“O crescimento de Carson nas últimas duas semanas é visível, mas temos que tomar cuidado com as pesquisas de agora. Ainda é cedo para dizer que ele se consolidou no segundo lugar. Nesta fase as opiniões mudam muito facilmente”, afirma o cientista político Kenneth Goldstein, da Universidade de São Francisco, lembrando que o debate na CNN de hoje poderá mudar o cenário.

Ele acredita que entre os grandes trunfos de Carson, que completará 64 anos no dia 18, estão o fato de ele ser ainda uma novidade para a maior parte dos eleitores, ter um discurso popular e não ser um político tradicional. Neste ponto, afirma Goldstein, Carson se parece com Trump, pois ambos são candidatos “anti-establishment”, ou seja, fora do padrão do Partido Republicano — que vê os dois com um pouco de má vontade.

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Carson, inclusive, já chegou a ser considerado “oportunista”, pois filiou-se à legenda apenas em novembro de 2014. O neurocirurgião, que nasceu em uma família pobre de Detroit, foi criado apenas pela mãe, entrou na Universidade de Yale e chegou a ser um dos profissionais mais famosos de sua carreira. Ficou politicamente famoso em 2013, quando criticou a política de Barack Obama na área da saúde diante do próprio presidente, dizendo que seu projeto “era a pior coisa que ocorria nos EUA desde a escravidão”.

Sua carreira foi marcada por operações inovadoras que conseguiram, com sucesso, separar casos complexos de gêmeos siameses. Em 2001, foi nomeado pela CNN e pela revista “Time” como um dos 20 médicos e cientistas mais importantes do país. No mesmo ano, foi escolhido pela Biblioteca do Congresso como uma dos 89 “lendas vivas” dos EUA. Autor de sucesso, identifica-se com a maior parte dos valores conservadores que hoje dominam a legenda, como a condenação ao aborto e ao casamento gay — recentemente disse que a Bíblia afirma que “devemos amar todos os homens como a nós mesmos, inclusive os homossexuais”. Sua vida religiosa, aliás, tem sido criticada por Trump em seus discursos, quando coloca em dúvida a fé de Carson.

“Eu não tenho tanta certeza se ele é o anti-Trump exceto, talvez, em sua abordagem, por ter um temperamento mais suave e ser discreto. Mas usa algumas das técnicas do próprio Trump, como falar de forma mais franca e informal que os políticos tradicionais, e se vender como alguém que ele não é político. Então, de certa forma, ele é taticamente semelhante ao Trump”, afirmou Diana Owen, cientista política da Universidade Georgetown.

Diana também afirma que ainda não dá para levar a sério as pesquisas pois o mesmo levantamento mostra que 67% dos entrevistados ainda não tem certeza de suas escolha. E lembra que, durante o verão, a cobertura das eleições é feita mais para entreter, sem entrar em questões de fundo, o que deixa o panorama aberto.

“Poucas pessoas estão prestando atenção ao que está acontecendo quanto a eleição está a meses de distância.”

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Lara Brown, da Universidade George Washington, vai além e diz que o fenômeno Trump e Carson já ocorreu no partido nas eleições de 2012 — e sem final feliz para os candidatos.

“Durante o verão e o outono, e até o início do inverno de 2012, muitos eleitores que não queriam apoiar Mitt Romney mudaram seus votos entre os “forasteiros” do momento. Primeiro quem subiu foi Michele Bachmann, depois Rick Perry, Herman Cain, Newt Gingrich, Rick Santourum. Todos tiveram seu momento de ascensão. Mas, depois, alguns destes pré-candidatos ficaram desapontados e desiludidos com o partido e acabaram sem apoiar Mitt Romney [que acabou perdendo para o democrata Barack Obama].”

Para ela, mesmo que Carson suba ultrapasse Trump, isso não significa que vá durar muito tempo na liderança e, de fato, ser um candidato viável. Enquanto isso, uma pesquisa divulgada semana passada pela CNN mostrava Carson com 51% das intenções de votos, contra 46% para Hillary Clinton, principal nome do Partido Democrata. Nada mal para a bola da vez.