Um Brasil como uma boa opção para realização de negócios comerciais ou um Brasil tratado com papel econômico mais amplo e considerado como um protagonista na política regional. A eleição presidencial nos Estados Unidos ocorrerá apenas em novembro, mas especialistas acreditam que essas podem ser algumas das consequências para o maior país da América do Sul dependendo de que vença o pleito na maior potência mundial.
O magnata Donald Trump, que lidera as prévias no partido Republicano, e Hillary Clinton, líder das prévias no partido Democrata, se colocam como os favoritos a encabeçarem a disputa pela presidência dos Estados Unidos. Com discursos opostos, democratas e republicanos travam mais uma batalha eleitoral – fato que se repete desde meados do século 19.
Para o economista Roberto Teixeira da Costa, da seguradora Sul América e ex-presidente da Comissão de Valores Mobilários, o Brasil precisa colocar a casa em ordem antes de se preocupar qual será a relação internacional com os Estados Unidos depois da mudança presidencial na Casa Branca.
“Curiosamente, eu tenho percebido que toda essa crise no exterior é vista como uma oportunidade para o país. Os investidores estrangeiros pensam que a crise passará e o Brasil saíra melhor. O importa é arrumarmos nossa casa para realmente termos condições melhores em termos econômicos”, afirma.
Segundo ele, a chance de Trump vencer é remota. “Mesmo assim, podemos apontar que historicamente um governo republicano tende a trabalhar com a abertura do mercado, já os democratas são mais protecionistas, dando mais condicionalidades para firmar acordos comerciais”, explica Costa.
O pleito norte-americano geralmente traz impactos nas relações internacionais como um todo, seja nas questões ambientais, econômicas ou conflitos bélicos. Dá para imaginar, por exemplo, se a chamada 2.ª Guerra do Golfo, com invasão ao Iraque, ocorreria com o democrata Al Gore na presidência. Algo que se concretizou com o republicano George W. Bush no posto, alegando que o país do Oriente Médio possuía armas químicas – que nunca foram encontradas.
Em relação ao Brasil, visto como importante polo comercial, apesar da crise econômica atual, a situação também pode variar conforme o candidato eleito. Com discurso xenófobo, a favor da tortura, e alegando que o Brasil se aproveita dos Estados Unidos, o bilionário Trump coleciona polêmicas. Mas é difícil pensar que, caso eleito, mantenha tudo o que falou – caso mantenha, a governabilidade de seu mandato pode balançar.
Para o mestre em Relações Internacionais e doutor em Geografia, Alberto Pfeifer, Trump demonstra até o momento possuir visão superficial acerca de política internacional e olha para os Estados Unidos apenas a partir de uma perspectiva interna. “Se pensar para o Brasil, Trump vai olhar para o país como um local para a realização de negócios, vai buscar acordos. Será, para ele, um local de negócios”, afirma Pfeifer, que leciona na Universidade de São Paulo (USP).
Já Hillary deve olhar para o Brasil com uma visão mais ampla e não somente local para firmar acordos econômicos. “O Brasil tende a ser visto como um ator global limitado e um ator regional importante. Ela deve olhar para o país como um local que pode auxiliar em missões de paz, por exemplo, e como uma nação que pode ser ator na agenda ambiental. Pode haver uma aproximação maior entre os países”, afirma o especialista.
Para o doutor em sociologia e especialista em relações internacionais Giorgio Schutte, até o momento nenhum candidato citou explicitamente o Brasil em discursos ou debates. “Às vezes, as relações entre países independem da conjuntura política. Pode mudar menos o que parece”, minimiza.
Contudo, ele reconhece que Trump representa uma ameaça que, se eleito, tornaria o clima mundial menos agradável. “Tudo que ele fala gera uma antipatia. É um discurso político doméstico e em tom de ameaça”, afirma. Segundo ele, se eleito Trump deve fazer uma política prejudicial aos imigrantes, por exemplo, incluindo brasileiros que moram nos Estados Unidos. “Com ele, o clima nas relações internacionais tende a piorar”, diz.
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