A vitória de Donald Trump na prévia de Nevada na noite de terça-feira (23) alçou seu nome à posição mais confortável desde o início da campanha eleitoral republicana. Nas bolsas de apostas, o bilionário falastrão é agora o favorito. Nas análises da mídia, idem. Alguns, como a CNN, decretaram: ‘ele já é o candidato republicano’. Outros, como o Huffington Post, vão além: é melhor se acostumar com a ideia de um presidente sem papas na língua.
De fato, a força demonstrada por Trump, que venceu as três últimas prévias, mostram que os republicanos subestimaram sua força. Mas ela pode, agora, estar sendo superestimada. Até porque as vitórias são, pelo menos por enquanto, mais simbólicas do que efetivas. O número de delegados conquistados ainda é pequeno perto dos que estão em jogo. E o desafio maior será nas próximas semanas -- começando na terça-feira, quando 12 estados realizarão suas prévias simultaneamente; é a “Super Terça”.
Trump conquistou até aqui 79 dos 1.237 delegados, o número tido como mágico para garantir a vaga republicana, segundo o Washington Post. Ainda é pouco. O site de análises e pesquisas políticas Real Clear Politics (RCP) indica que a ‘Super Terça’ colocará à prova 595 delegados. Trump deverá conquistar ‘apenas’ pouco mais de 200, se continuar no bom ritmo.
No dia 15 de março, será a vez das prévias da Flórida e de Ohio, com mais 165 delegados em jogo. Nos dois estados, o vencedor leva todos os delegados. Quem ganhar ambas, avalia o site, será alçado à liderança. Pode ser Trump. Mas há grande chance de não ser.
A questão é que Texas (no caso da “Super Terça”), Flórida e Ohio são os estados de, respectivamente, Ted Cruz, Marco Rubio e John Kasich, seus adversários. Em solo texano, há ainda o fator “George Bush”, a quem o bilionário (também) criticou. Só na Flórida as pesquisas indicam diferença substancial de Trump para os outros candidatos. Ainda assim, há que se levar em conta a desistência de Jeb Bush, que governou o estado -- resta saber quem herdará seu eleitorado, e provavelmente não será Trump.
“É difícil imaginar que Rubio, Kasich ou Cruz continuariam na campanha se perdessem em seus próprios estados”, analisou Lou Canon, da RCP. Com isso, a disputa, com cerca de um terço dos delegados restando, ficaria provavelmente entre dois nomes.
Talvez mais importante do que o desempenho do próprio Trump, seja o de seus adversários. Cruz, de posições mais conservadoras, tem uma campanha confusa, como define o Washington Post. Por isso, tem amargado uma terceira colocação, mesmo depois de ganhar o primeiro caucus republicano, em Iowa.
Rubio, o segundo colocado, visto como a esperança “moderada” (uma definição bem contestável), se preocupa mais com Cruz do que com Trump. Resultado: tem levado um banho do midiático bilionário.
É uma estratégia, defende Byron York em artigo do Washington Examiner. Rubio e Cruz se atacam enquanto Trump dispara, na esperança de que o bilionário logo esgote seu eleitorado e abra espaço para um desafiante único, vencedor do embate. Só que não tem dado certo. Assim como muita coisa nesta inusitada corrida eleitoral. Se o fato de Trump poder ser parado é uma certeza, ninguém ainda descobriu como fazê-lo.
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