A Turquia deu início nesta segunda-feira a um longo e complexo processo eleitoral para escolher, no Parlamento de Ancara, um novo presidente para o país, em meio a tensões entre os setores mais laicos e os círculos islâmicos liderados pelo atual primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan.

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O próprio Erdogan, cujo "Partido de Justiça e Desenvolvimento" (AKP) é a legenda de 354 dos 550 deputados na Câmara, ainda não decidiu se concorrerá ao pleito, assim como os outros partidos também não decidiram quem serão seus candidatos.

No sábado, milhares de pessoas saíram às ruas de Ancara para protestar contra uma possível candidatura de Erdogan, alegando que a Turquia deveria permanecer um Estado laico e secular, segundo o estabelecido em 1923 pelo criador do país, Mustafa Kemal "Atatürk".

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De hoje até o dia 25 os candidatos poderão ser apresentados pelas formações políticas no Parlamento.

Ao fim deste prazo, acontecerão quatro rodadas eleitorais na Câmara, com três dias de intervalo entre cada uma, e, no caso de ser eleito, o novo chefe de Estado será empossado no dia 16 de maio.

O presidente turco exerce um cargo bem representativo, mas também possui alguns poderes reais, como a nomeação oficial dos membros do Tribunal Supremo, dos reitores das universidades e do presidente da rádio e televisão públicas.

Isto significa que o chefe de Estado pode causar certos problemas ao Governo, da mesma forma que o presidente em fim de mandato Ahmet Necdet Sezer fez com o Executivo de Erdogan.

De acordo com a Constituição turca, dois terços dos 550 parlamentares (ou seja, no mínimo 367 votos) são necessários para o presidente ser eleito no primeiro ou segundo turno.

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Já na terceira etapa é preciso apenas maioria absoluta, ou seja, no mínimo 276 votos.

No caso de não ser atingida a maioria, os dois candidatos que obtiverem maior número de votos vão para a quarta fase, e se ainda nesta nenhum conseguir vencer, o Parlamento deverá convocar novas eleições legislativas.

Como o AKP tem 354 deputados, nenhum de seus prováveis candidatos terá problemas para ser eleito na terceira fase.

No entanto, o principal partido de oposição, o Partido Popular Republicano (CHP), alega que são necessários pelo menos 367 parlamentares para dar início às eleições presidenciais na Câmara.

No caso de começar com menos deputados, o CHP ameaça ir ao Tribunal Supremo para denunciar a não-validade do pleito.

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Já o AKP diz que é preciso apenas um mínimo de 184 deputados e afirma que, no caso de realmente serem necessários 367, as eleições presidenciais anteriores estavam erradas.

O problema político enfrentado por Erdogan é muito maior que as objeções técnicas colocadas pelo CHP, e a possível candidatura do primeiro-ministro está dividindo a sociedade turca.

No sábado, mais de 400 mil pessoas protestaram contra Erdogan, apesar de o próprio chefe de Governo não dar sinais de que se importa, como disse quando voltava de uma visita à Alemanha no fim de semana.

Segundo o primeiro-ministro, o assunto será debatido na junta executiva de seu partido na quarta-feira. Erdogan insinuou ainda que poderia esperar até o dia 25 de abril para tomar uma decisão definitiva.

Eyup Fatsa, segundo líder do grupo parlamentar do AKP, disse hoje que seu partido tem tanta ou mais capacidade de convocação entre seus seguidores que os laicos.

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Fatsa afirmou que caso o AKP organize uma manifestação como a de sábado, "vários milhões de pessoas" participarão.

Já o presidente Sezer afirmou na sexta-feira em discurso perante a Academia Militar que é a primeira vez que o sistema político turco está em perigo e acrescentou que estão em discussão os princípios básicos da república laica.

Suas palavras foram interpretadas como uma objeção aberta à candidatura de Erdogan, já que Seze não o considera apropriado para ocupar a Presidência por suas tendências islâmicas.

Isso porque os seculares da Turquia, liderados pelo poderoso Exército, não esquecem algumas declarações recentes de Erdogan, como: "Graças a Deus, estamos a favor da Sharia (a lei islâmica)" ou "a democracia não é o objetivo, mas só um meio".

Uma recente pesquisa da Universidade de Ancara indica que 61,6% dos cidadãos turcos são contra um candidato do AKP ocupar a Presidência do país.

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Metin Ozugurlu, responsável pela pesquisa, disse à Efe na capital turca que existe inclusive uma parte do eleitorado do AKP, que também rejeita Erdogan como presidente.

"Se incluirmos esta gente, a percentagem de rejeição a Erdogan sobe para 87%", afirmou.