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Haitianos se reuniram nas ruas e igrejas para lembrar as vítimas dos terremotos | Reuters
Haitianos se reuniram nas ruas e igrejas para lembrar as vítimas dos terremotos| Foto: Reuters
  • Fiéis se reuniram em frente à catedral da capital haitiana, que também foi atingida pelo terremoto
  • Haitianos rezaram pelos mortos 1 mês após a tragédia que matou mais de 200 mil pessoas
  • Haitianos ainda tentam superar a dor da tragédia no Haiti um mês após o terremoto
  • Fiéis reunidos em frente à Catedral haitiana
  • Presidente haitiano René Préval cumprimenta jornalistas
  • René Préval e a enviada americana Nancy Pelosi

Em cima dos destroços de igrejas destruídas, em parques ou nas calçadas, milhares de haitianos rezaram nesta sexta-feira na capital do Haiti, Porto Príncipe, para marcar um feriado nacional destinado a lembrar as vítimas do terremoto de magnitude 7,0 na escala Richter, que matou mais de 200 mil pessoas. Líderes religiosos se reuniram para uma cerimônia ecumênica perto do Palácio Nacional, em homenagem aos mortos.

Líderes das duas religiões oficiais - um bispo católico e o chefe dos sacerdotes vodu - se juntaram a ministros protestantes para um serviço religioso sob a sombra de mimosas nas proximidades do destruído Palácio Nacional. Um sacerdote muçulmano também participou do encontro.

Os homens usavam lenços pretos ao redor dos braços em sinal de luto e as meninas, vestidos brancos. Dentre os participantes estavam pessoas amputadas por causa do terremoto em cadeiras de rodas, mancando ou usando muletas.

O presidente Rene Préval chorou durante o serviço. "A dor é muito grande - palavras não podem descrevê-la", disse Préval, num de seus primeiros discursos públicos em semanas.

Préval disse que estava no local como um pai - não como o presidente - mas pediu ao povo que mantenha seu apoio ao governo Ele não mencionou os vários pequenos protestos realizados nesta semana pedindo sua saída do cargo em razão de sua falta de liderança durante a crise.

Entre os participantes da cerimônia estavam o presidente do Senado, Kely Bastien, retirado dos escombros do Parlamento com um grave ferimento no pé. Ele foi ao evento de sandálias e com muletas.

As pessoas lotaram igrejas em Petionville, subúrbio de Porto Príncipe, e colocaram auto falantes para que as pessoas que estavam nas ruas pudessem acompanhar o serviço. Outras foram para os escombros do que fora uma igreja católica e uma igreja evangélica para lembrar as vítimas anonimamente enterradas em valas comuns nas cercanias da capital.

As pessoas ergueram suas mãos para o céu e cantaram. Hinos e música gospel podiam ser ouvidos pela cidade devastada.

"Todas as famílias foram afetadas pela tragédia e estamos celebrando a memória dos que perdemos", disse Desire Joseph Dorsaintvil.

Muitos dos marcos religiosos de Porto Príncipe foram destruídos, dentre eles a catedral católica romana; a igreja do Sagrado Coração, a mais antiga do Haiti e a igreja episcopal da Santíssima Trindade, com murais com Jesus Cristo, a Virgem Maria e discípulos negros pintados por grandes artistas haitianos na década de 1950.

Mais de 1 milhão de pessoas ficaram sem casa e as agências humanitárias lutam para fornecer abrigos antes da chegada das chuvas.

Alguns haitianos se perguntam se Deus abandonou seu país, a primeira república negra do mundo, fundada em 1804, após uma rebelião de escravos.

Mas um líder católico culpou a natureza. "A natureza pode ser hostil ao homem, mas Deus não nos deixará sozinhos", disse o monsenhor Joseph Lafontant.

Durante o serviço matutino, o líder vodu Max Beauvoir disse à congregação que o terremoto trouxe um tempo para a união de todas as fés. Ele homenageou os que perderam suas vidas e, referindo-se à crença vodu na reencarnação, declarou: "as pessoas nunca morrem, as almas nunca morrem".

"Este dia é para honrar todos os que perdemos e olhar para o futuro", afirmou Percil St. Louis, um católico de 43 anos. "Nós todos precisamos nos unir como uma nação."

Um mês após o violento terremoto de 12 de janeiro, o pior da história do Haiti, um enorme esforço internacional ainda não se refletiu em ajuda para a população do bairro de Marassa 14, em Porto Príncipe. As pessoas ali seguem precisando de comida, abrigo e segurança, buscando construir uma nova comunidade a partir do zero.

Mais de 2.500 pessoas estão dormindo em meio à sujeira na área. Identidades escritas a mão registram quem pertence ao lugar, enquanto mulheres servem bananas fritas e fruta-pão para famílias que lutam para alimentar suas crianças.

Um mês depois, após 40 segundos de tremores matarem mais de 200 mil pessoas, os sobreviventes do Haiti lutam para tentar refazer suas vidas. A comida ainda não chegou aos 3 milhões que dela necessitam - um terço da população haitiana. Problemas com infraestrutura continuam a atrapalhar o esforço internacional de ajuda, no qual apenas os EUA gastaram US$ 537 milhões.

No centro da capital, centenas de pessoas marcharam na quinta-feira do destruído Palácio Presidencial até a sede provisória do governo, pedindo a renúncia do presidente René Préval. O líder pouco tem sido visto no país desde o terremoto, e apareceu na quarta-feira diante da imprensa para divergir de seu ministro das Comunicações sobre o número de mortos na tragédia.

Em meio ao caos, há óbvios sinais de progresso. As Nações Unidas estabeleceram um centro no aeroporto da capital para coordenar os esforços. As 900 agências de ajuda atuando no país aparentemente estão superando os enormes problemas de comunicação, transporte e infraestrutura.

A cobertura de celular melhorou e postos de gasolina reabriram - isto ajudou a levar o trânsito a seu estado normal na capital, que é péssimo. Outro problema é que grandes quantidades de entulho seguem empilhadas, apesar dos vários caminhões encarregados de limpar a cidade.

Em vilas como Marassa, crianças passam fome e famílias disputam abrigos condenados, que podem em breve ruir. Nessas comunidades, as pessoas estão cuidando umas das outras.

Há comida no Haiti, mas ela agora está cada vez mais cara e difícil de ser obtida. O preço do arroz importado, que é subsidiado, chegou aos níveis de abril de 2008, quando houve uma série de protestos no país pelo fato de os alimentos estarem muito caros. O arroz subiu 25% desde o terremoto, para US$ 3,71 o saco com 2,7 quilos, segundo a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O milho subiu mais de 25%, o trigo, 50%, e o carvão vegetal, usado na cozinha, teve 17% de alta.

Sem empregos ou casas, nem lugar para ir, o fato de cada um ajudar o outro ganha importância crucial. "As condições não estão boas, mas estar morto é ainda pior", disse Johnny Joseph, um pai de seis de 48 anos. "Contanto que você esteja vivo, você pode ter um amigo que também esteja."

Comida

Também nesta sexta-feira, o ministro da Agricultura do Haiti, Joanas Gue, discursou na sede do Programa Mundial de Alimentos da ONU, em Roma. Gue falou sobre as necessidades de longo prazo de seu país. O Haiti tem sido ajudado por um grande esforço internacional após a tragédia do terremoto, mas segue o desafio de alimentar a população no médio e no longo prazos.

"Enxuguem as lágrimas" e reconstruam

O presidente haitiano, René Préval, pediu nesta sexta-feira ao seu povo que "enxugue as lágrimas" e reconstrua o país, devastado há exatamente um mês.

Foi o primeiro pronunciamento ao vivo de Préval à população desde a tragédia, no dia em que o país iniciou o período de seis dias de luto oficial pelas vítimas, que incluirá orações nacionais e uma "celebração da vida" voltada para o futuro, com direito a uma festa com músicos e artistas na principal praça da capital, segundo autoridades.

Préval disse que a coragem dos haitianos sustenta o governo na busca por maneiras de ajudar a atenuar o sofrimento de centenas de milhares de feridos e desabrigados.

"Haitianos, a dor é pesada demais para que as palavras expressem. Enxuguemos nossas lágrimas para reconstruir o Haiti", disse Préval num palanque cheio de flores na faculdade de enfermagem da Universidade de Notre Dame.

"Haitianos que estão sofrendo: a coragem e a força que vocês demonstraram neste infortúnio é sinal de que o Haiti não pode perecer. É um sinal de que o Haiti não irá perecer", disse Préval, usando uma braçadeira preta sobre a manga da camisa branca.

Préval também pediu aos haitianos que rezem pelo ex-presidente dos EUA Bill Clinton, que teve alta nesta sexta-feira depois de ser submetido à implantação de dois stents cardíacos.

Clinton é o enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Haiti, e foi indicado pela Casa Branca, junto com seu sucessor George W. Bush, para orientar os esforços humanitários haitianos.

"Estamos com a família dele da mesma forma que ele esteve conosco durante nosso infortúnio", afirmou Préval.

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