Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Europa

Uma geração perdida

Protesto em Madri durante greve nacional contra a crise econômica no país: 43% dos jovens espanhóis estão desempregados | Juan Medina/Reuters
Protesto em Madri durante greve nacional contra a crise econômica no país: 43% dos jovens espanhóis estão desempregados (Foto: Juan Medina/Reuters)
Confira a taxa de desemprego nos países europeus |

1 de 1

Confira a taxa de desemprego nos países europeus

Um médico recém-formado não consegue meios para clinicar; pa­­ra não abandonar a área, sujeita-se a receber bem menos e ser um me­­ro informante sobre novos re­­mé­­dios. Com um engenheiro, o mesmo: sem grandes expectativas, resigna-se em dividir cálculos de estruturas com outros dez profissionais. O principal ponto co­­mum entre ambos: são espanhóis que precisam sobreviver num mercado de trabalho que passa pela maior crise das últimas décadas.

Longe de ser exceção, a Espa­­nha apenas evidencia o grave mo­­mento econômico por que passa a Europa – em oposição ao que ocor­­re atualmente no Brasil, onde o trabalhador tem tido a oportunidade de ditar as cartas.

Na Europa, em 2010, mais 434 mil pessoas se somaram à massa de desempregados, segundo estatísticas oficiais. Em terras espanholas, um em cada cinco trabalhadores está parado, a maior proporção naquele continente.

Entre os espanhóis de até 25 anos, a situação é ainda pior: quase 43% estão sem emprego. Já foram chamados de "mileuristas" (têm ótima formação e falam ou­­tros idiomas, mas estão subempregados e mal conseguem pagar o aluguel com os mil euros, em média, que recebem por mês) e hoje são a "generación ni-ni" (em português, o equivalente a "geração nem-nem" – "nem estudamos e nem trabalhamos").

"Agora, já se começa a falar de uma outra ‘generación ni-ni’: ‘nem trabalhamos e nem encontramos trabalho’", afirma o professor Santiago Niño-Becerra, catedrático de Estrutura Econô­­mica da Universidad Ramon Llull, na Espanha.

O refúgio não poderia ser ou­­tro. De acordo com o Instituto da Juventude da Comissão Euro­­peia, 30% dos que têm entre 30 e 35 anos ainda moram com os pais; entre os de 25 a 29, 63% estão nesta situação.

"As parcelas do seguro-desemprego estão acabando. Deste modo, a família é que está servindo como rede de proteção", observa Luis Ayala, professor de Ciên­­cias Jurídicas e Sociais da Univer­­sidad Rey Juan Carlos. "Esse ‘colchão’, no entanto, é muito mais débil hoje do que nas crises anteriores, já que nos últimos três anos aumentou consideravelmente a taxa de desemprego entre aqueles que sustentam as famílias."

O cerne de tanto desemprego, aponta Ayala, reside no modelo produtivo e no sistema de contratos vigente na Espanha. O primeiro se explica da seguinte forma: antes da crise, a maior parte dos jovens foi absorvida por setores como o da construção e o de serviços, justamente os grandes afetados pela turbulência econômica no continente. Quanto ao segundo, o problema é com as vagas temporárias: "Foi prática habitual das empresas abusar deste tipo de contrato. Em momentos de queda de atividade, elas ajustam os custos por meio da não renovação desses contratos, que não preveem indenizações".

Em relação ao futuro, os espanhóis reservam um "sentimento de incerteza", nas palavras do professor Ayala. "Serão necessários vários anos não só para que se re­­cupere o emprego, mas também para fechar as fraturas sociais."

* * * * * * * * * * * * * *

Interatividade

Vale mais a pena apostar no Brasil ou confiar na recuperação europeia e tentar a vida no Velho Continente?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.