Os cubanos parecem nesta segunda-feira tão surpresos quanto o resto do mundo por terem atravessado uma semana com Fidel Castro afastado do poder. Os temores de que o governo se desmancharia, de que haveria turbulências sociais, ou de que os Estados Unidos iriam invadir se mostraram infundados. Fidel transferiu o poder temporariamente na segunda-feira passada a seu irmão e ministro da Defesa, Raúl, devido a uma cirurgia intestinal.
Os especialistas internacionais e os cubanos comuns concordam que este é um momento importante para Fidel e para o país que ele governa há mais de 47 anos. Mesmo que o ardoroso revolucionário de quase 80 anos se recupere, nem seu papel nem sua ilha serão os mesmos.
- Embora isso seja provisório, o fato de entregar o poder é extremamente importante - disse o canadense John Kirk, especialista em América Latina. - Representa a aceitação por parte de Fidel de que um diferente patamar do processo revolucionário foi atingido e que seu papel será reduzido no futuro.
Os "fidelistas" mais leais se sentiram reconfortados ao verem que a revolução pode sobreviver sem ele.
- Este processo serviu para nos fortalecer e provar como somos capazes de nos unir e seguirmos adiante - disse um militante chamado Jorge, que como muitos outros preferiu ocultar o sobrenome.
Muitos cubanos abordados pela Reuters se mostravam orgulhosos pelo governo ter mantido a calma e a população ter se comportado tão bem.
- Acho que demos a todos, inclusive a nós mesmos, uma lição de civismo. Todos estavam em seus postos, tristes por Fidel, sem pânico nem caos - disse o professor Alberto Martinez.
Mas outros, fartos das dificuldades vividas nos anos que se seguiram ao colapso da União Soviética e ao que julgam ser um excessivo controle do Estado sobre suas vidas, pensam diferente.
- As pessoas estão descontentes, mas assustadas, porque não sabem o que virá depois. Estamos esperando por alguma coisa, mas não sabemos o quê. Não que os cubanos queiram o capitalismo, só uma mudança --mas para quê, nos perguntamos - disse um médico.
Hora de sair
Quase 8 milhões dos 11,2 milhões de cubanos nasceram depois do triunfo da revolução, em 1959.
- Minha geração nunca viveu uma mudança de presidente, então não sabíamos o que esperar - disse Rubén, 19 anos, que vive numa cidade açucareira no centro de Cuba.
- É isso que a geração mais nova teme, não só a tristeza por Fidel, mas é a questão política que me dá medo. Não sei como as pessoas vão reagir - concorda Malisa, a namorada de Rubén.
Osmani, 23 anos, também morador do centro da ilha, disse que seria bom que Fidel entrasse numa semi-aposentadoria e ficasse por perto para resolver futuras rusgas, uma opinião compartilhada por pessoas de todas as gerações.
- A melhor opção é que ele reduza o ritmo, porque sua saúde já não é tão boa para continuar como está - disse Rubén. - O melhor é que ele permaneça como uma figura, a figura que todos vão seguir, mas que não tome as decisões mais importantes, porque na sua idade seu raciocínio já não é o mesmo - acrescentou.
Paolo Spadoni, especialista da Flórida em economia cubana, disse que o governo do país tem sorte de o tempo de Fidel terminar na mesma época em que a ilha se beneficia das boas relações com a Venezuela e a China, pois isso pode atenuar o descontentamento da população com a escassez de bens.
- Embora represente a guinada política mais importante em Cuba nos últimos 47 anos, a doença de Fidel e sua renúncia temporária do poder não poderia ter ocorrido em melhor hora para o governo da ilha - afirmou. - Imagine se isso tivesse acontecido há 10-12 anos atrás, em plena recessão profunda que se seguiu ao colapso soviético.
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