Em sua mensagem final aos fiéis, a Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos (órgão da Igreja Católica com atuação similar à de um parlamento) não mencionou diretamente a questão dos católicos homossexuais, tema que acabou acirrando as divergências entre clérigos liberais e conservadores durante o encontro nesta semana.
A mensagem, divulgada no Vaticano neste sábado (18), apresentou uma visão mais genérica sobre os desafios enfrentados pelas famílias católicas no mundo atual -esse é o tema central da assembleia do sínodo, que voltará a se reunir no ano que vem.
O texto ainda não é o relatório final do encontro, que ainda seria votado por cerca de 200 bispos participantes.
O rascunho do relatório, publicado na segunda-feira (13), surpreendeu ao afirmar que os fiéis gays tinham "qualidades e dons" a oferecer ao catolicismo, além de ponderar que uniões homossexuais, embora violem ensinamentos da igreja sobre a sexualidade humana, podem incluir elementos positivos de cuidado mútuo entre parceiros.
Esse relatório preliminar também destacou "sementes de santidade" em casamentos feitos apenas no civil ou em uniões estáveis, além de citar a possibilidade de que católicos divorciados que se casaram de novo voltassem a receber a comunhão, hoje proibida para eles.
Embora essas características do rascunho pareçam seguir a orientação pastoral do papa Francisco, a reação de cardeais conservadores foi imediata. O americano Raymond Burke disse que o documento "não vem da igreja", enquanto o sul-africano Wilfrid Napier afirmou que o texto "não é uma mensagem verdadeira".
Tais críticas parecem ter tido impacto sobre a mensagem final do sínodo. Prelados mais conservadores também pediram que a assembleia estimulasse os fiéis que se esforçam para seguir a doutrina da igreja e que desse mais espaço aos ensinamentos da Bíblia sobre a vida familiar.
No primeiro parágrafo da mensagem final, os bispos agradecem às famílias católicas "por sua fidelidade, fé, esperança e amor", e citações bíblicas permeiam o texto.
O posicionamento diante de situações familiares "irregulares" é mais reservado. A mensagem vê "enfraquecimento da fé e dos valores, individualismo, empobrecimento das relações", elementos que levariam a "novos casais e novas uniões, criando situações familiares complexas e problemáticas para a escolha cristã".
Dos temas mais polêmicos, só a questão dos divorciados que desejam voltar a comungar é mencionada brevemente, como assunto de "reflexão" do sínodo.
Em compensação, o texto diz que sistemas econômicos perversos têm efeitos devastadores sobre as famílias -outro tema caro a Francisco. E ressalta que "Cristo desejou que sua Igreja fosse uma casa com as portas sempre abertas em acolhimento, sem excluir ninguém".