O Vaticano retomou nesta segunda-feira (14) o polêmico julgamento de cinco pessoas, entre elas dois jornalistas italianos e um sacerdote espanhol, acusadas de divulgar documentos confidenciais sobre má gestão de recursos e desperdício na Santa Sé.
A audiência pública do julgamento do chamado “Vatileaks 2” foi iniciada às 16 horas (meio-dia no horário de Brasília), com a comparecimento dos acusados na sala do tribunal.
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Leia a matéria completaUm grupo limitado de jornalistas teve acesso à sala como previsto desde a abertura do julgamento, em 24 de novembro.
O sacerdote espanhol Lucio Ángel Vallejo Balda, de 54 anos, que está em prisão domiciliar no Vaticano, e a consultora italiana Francesca Immacolata Chaouqui, de 34 anos, foram acusados de formação de “associação criminosa” com a finalidade de divulgar notícias e documentos confidenciais aos quais tinham acesso graças ao próprio cargo no Vaticano. Um colaborador de Vallejo, Nicola Maio, de 37 anos, foi acusado pelos mesmos crimes.
Os dois jornalistas, os italianos Gianluigi Nuzzi e Emiliano Fittipaldi, autores de livros sobre a corrupção na Cúria Romana, lançados em 5 de novembro passado, foram acusados de “divulgação ilícita” de documentos confidenciais.
“Nova Inquisição”
Trata-se da primeira vez que o menor Estado do mundo processa dois jornalistas, algo que a imprensa italiana qualificou de “nova Inquisição”.
“A informação não pode ser parada com julgamentos”, escreveu nesta segunda-feira em seu Twitter, pouco antes da audiência, o jornalista Nuzzi.
“Limitei-me a cumprir com meu dever de jornalista. Este é um processo por um vazamento de notícias e não por difamação. Todas as notícias publicadas são verdadeiras”, declarou, por sua vez, Fittipaldi.
A divulgação de documentos reservados “contra a segurança do Estado” é um crime introduzido pelo papa Francisco em julho de 2013 e é punido com uma pena de 4 a 8 anos de prisão.
O tribunal do Vaticano voltou a ordenar na semana passada a prisão do sacerdote Lucio Vallejo Balda na sede da Gendarmeria vaticana em razão da “violação da proibição de comunicação com o exterior”, uma pré-condição para a prisão domiciliar, segundo fontes do Vaticano.
No sábado (12), depois de três meses e meio de recesso, foi realizada uma sessão particular a portas fechadas com especialistas e juízes, sem a presença dos acusados, durante a qual foi examinada uma série de assuntos técnicos.
O tribunal aceitou analisar como provas os e-mails, mensagens e conversas via WhatsApp entre os acusados, alguns deles com detalhes picantes, segundo a imprensa italiana.
Chaouqui, que está grávida de sete meses, chegou nesta segunda-feira vestida de preto, acompanhada por quatro guarda-costas, como uma estrela de televisão.
Vallejo Balda e Chaouqui fizeram parte da antiga Comissão de Especialistas COSEA nomeada pelo papa Francisco para fazer propostas de reformas sobre as finanças e a economia do Vaticano.
A defesa de Chaouqui tentou, em vão, argumentar que o crime de que é acusada - divulgação de documentos confidenciais - foi cometido em território italiano, portanto, fora da jurisdição da justiça do Vaticano. E pediu em vão que Chaouqui fosse julgada na Itália como “refugiada política”.
Escândalo
O novo escândalo de vazamentos de documentos confidenciais do Vaticano é o segundo depois do ocorrido em 2012 na comitiva de Bento XVI, apelidado de “Vatileaks”. Ele afeta indiretamente o papa Francisco, engajado em uma difícil reforma da Cúria e determinado a continuar com sua luta contra a corrupção.
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