Na véspera de completar um mês hospedado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, qualificou nesta segunda-feira como "insulto" a proposta apresentada pela comissão negociadora do governo de facto e deu sinais de que a nova tentativa de diálogo será incapaz de superar o atual impasse.
A proposta que estancou as negociações foi apresentada pelos golpistas na noite de segunda-feira. Representantes do presidente de facto Roberto Micheletti disseram que a mesa de diálogo teria soberania para decidir sobre a restituição de Zelaya, mas apenas depois de "consultar" a Corte Suprema de Justiça e o Congresso.
Para Zelaya, as propostas do governo de facto são "uma manipulação, um jogo, uma nova bofetada do regime no mundo". Ele sustenta que a decisão sobre seu regresso é uma decisão política, que deve se submeter apenas ao Legislativo.
"Nós já fizemos nossa proposta", rebateu a porta-voz da comissão negociadora do regime de facto, Vilma Morales. "Quando colocamos uma proposta sobre a mesa é porque queremos uma resposta."
Um dos membros da comissão que representa Zelaya, Víctor Meza, declarou que só voltará à mesa de negociação depois que o governo de facto apresentar uma proposta construtiva.
A posição crítica do grupo de Zelaya contrasta com o tom otimista demonstrado nesta terça-feira pelo enviado da Organização dos Estados Americanos (OEA) a Honduras, John Biehl.
"Nunca daremos um diálogo por fracassado. Não perdemos nem perderemos nunca a fé no que os hondurenhos estão fazendo", disse. "Apesar da estagnação, estou absolutamente convencido de que os hondurenhos se reconciliarão e fortalecerão sua democracia."
O grupo de Micheletti tenta ganhar tempo até 29 de novembro, quando deve ocorrer uma nova eleição presidencial. A comunidade internacional já afirmou, no entanto, que não reconhecerá o resultado de nenhuma eleição que seja realizada sob os auspícios de um governo ilegítimo. Originalmente, o mandato do presidente deposto só terminaria no dia 27 de janeiro.
Com o impasse na negociação política, cresce a movimentação de ambos os grupos em torno das eleições de novembro. Membros da Frente de Nacional de Resistência (FNR), ala mais radical que apoia Zelaya, prometem impedir a realização da eleição enquanto o presidente deposto não for reconduzido ao cargo.
Zelaya, entretanto, negou nesta segunda-feira que pretenda promover uma "insurreição". "É uma acusação absurda. Não é racional que pessoas que têm armas declarem uma pessoa indefesa perigosa", disse em referência a sua própria situação na embaixada brasileira, onde está cercado por militares desde o dia 21 de setembro.
Mesmo assim, Zelaya reconheceu que alguns grupos que o apoiam podem estar organizando manifestações violentas. "Eu peço para que essas pessoas reconsiderem porque, assim, eles legitimam a força que está sendo usada contra nós."
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