A infraestrutura e o uso de dados digitais estão transformando os negócios, o governo e o modo como as pessoas ajudam umas às outras. Compramos, votamos e doamos tempo e dinheiro usando conexões digitais em rede. Em 20 anos, o acesso à telefonia digital cresceu de 1% da população para mais de 70%. Neste ano, analistas preveem que haverá mais contas de celular que pessoas no planeta.
Nos Estados Unidos, a maioria das discussões descreve as ferramentas digitais como democratizantes. Quanto mais pessoas têm acesso à rede, mais vozes podem ser ouvidas, mais engajamento pode ser criado e mais participação é possível. O potencial democratizante das ferramentas digitais é um de seus grandes atrativos.
Agora que temos usado essas ferramentas por quase duas décadas, deveríamos ser capazes de responder à questão sobre quando e como elas estão impulsionando a democracia. Temos uma infinidade de dados – de protestos políticos a organizações comunitárias baseadas em celulares a esforços cívicos de tecnologia com o objetivo de ajudar governos a responder e se relacionar melhor com o eleitorado.
Duas décadas de revolução digital nos deixaram animados e cautelosos
- Democracia deliberativa – ouvindo o povo (artigo de James Fishkin, publicado em 22 de novembro de 2015)
- Avaliando a democracia local pela perspectiva do cidadão (artigo de Mélida Jiménez, publicado em 21 de novembro de 2015)
- A nãoviolência nas democracias (artigo de Jamila Raqib, publicado em 20 de novembro de 2015)
- “Democracia”: limpando a casa (artigo de Fernando Archetti, publicado em 18 de novembro de 2015)
Mas os dados não apontam para apenas uma direção. Apesar das promessas de democracia digital, a participação ainda é baixa e os manifestantes são facilmente identificados. A cada passo adiante para trazer mais pessoas ao debate digital, a fronteira se move. Ela não se fecha, apenas muda: de ser uma fronteira sobre acesso para uma fronteira sobre habilidades, sobre ser ouvido, sobre ter poder e influência. À medida que as pessoas entendem a natureza “vigiável” dos espaços digitais, esse conhecimento esfria o entusiasmo das associações comunitárias em depender dessas ferramentas de baixo custo. Duas décadas de revolução digital nos deixaram animados e cautelosos, dependentes e cansados de estar sempre conectados, sempre disponíveis.
Como usar as ferramentas digitais para que os cidadãos se envolvam com segurança, para encorajar a participação, para envolver e ouvir as muitas novas vozes prontas para serem ouvidas ainda é um desafio. Não é tão simples como tornar a tecnologia disponível. Largadas com seus próprios dispositivos, as pessoas com acesso digital não necessariamente procurarão mais oportunidades de aprendizado, terão papéis mais ativos em suas comunidades ou participarão da vida pública da nação. Mas sabemos que elas não poderão e não darão esses passos sem as ferramentas para tanto.
As ferramentas e a infraestrutura digital não são democratizantes em si mesmas. À medida que se popularizam, o que elas criaram foi a necessidade de um acesso mais igualitário a elas. Elas não vão destruir a apatia, a falta de poder, ou a exclusão estrutural. A lição dos últimos 20 anos é a de que as ferramentas e as habilidades para usá-las se tornaram uma necessidade, mas apenas o acesso não é suficiente. A maior participação democrática na era digital depende de um comprometimento não com as ferramentas digitais, mas com os próprios valores democráticos.