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| Foto: Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo

Nas últimas rebeliões eclodidas em penitenciárias brasileiras que resultaram na execução de dezenas de detentos por outros detentos, a barbárie filmada e fotografada em celulares que não deveriam nem sequer estar lá foi postada pelos algozes nas redes sociais não só como um troféu de guerra vencida, mas também como aviso aos inimigos de outras facções. Não foram os primeiros massacres, com máxima certeza não serão os últimos. Não houve nem sequer surpresa para quem presta a mínima atenção à caótica segurança pública nos últimos 20 anos.

Tão assustador quanto ver as cenas indescritíveis foi assistir, muitas vezes atônito, outras vezes proferindo palavras impublicáveis neste espaço, a certos especialistas, sociólogos, representantes dos chamados direitos humanos e governantes discorrendo outros massacres. O massacre da verdade, ao afirmarem que tal morticínio não poderia ser evitado. Ou ainda que a solução seria o esvaziamento das prisões em um país com 60 mil homicídios por ano, com mais de 50 mil estupros e milhares de assaltos e outros crimes. “Prendemos muito!”, gritaram aqueles que massacram a verdade em detrimento de uma ideologia perniciosa dos falsamente chamados de “excluídos sociais”. Exatamente os mesmos que nos trouxeram até aqui, os responsáveis por impingir em nossa sociedade o medo perante o crime que avança.

Nunca vi celeridade e preocupação de governo nenhum quando o morto é agente penitenciário ou policial

São os mesmos, em uma lógica inumana, que estão muito mais preocupados com a segurança dos detentos que com a daqueles que diariamente são suas vítimas. Preocupação que se traduziu em uma das respostas governamentais mais rápidas que vimos até hoje: o sangue nem sequer havia secado pelos corredores da penitenciária de Manaus e o governo já anunciava que todas as famílias dos criminosos, mortos por outros criminosos em uma guerra pelo controle da penitenciária, seriam indenizadas. Uma celeridade e preocupação que nunca vi de governo nenhum, por exemplo, quando o morto é o agente penitenciário ou o policial que sozinho vigia os muros que o próprio Estado finge serem capazes de conter os criminosos.

Aplaudir o massacre é também um erro crasso. Oras, como comemorar que o Estado não controla nem sequer os bandidos presos e cobrar desse mesmo Estado o controle dos crimes nas ruas? Ilógico! Erra também aquele que acha que nessas penitenciárias ou centros provisórios de detenção todos são perigosíssimos criminosos. Por lá também habitam o pai que deve pensão alimentícia; o cidadão que, para se proteger, matou um criminoso, mas que ainda deverá comprovar legítima defesa; lá estará o sitiante de 70 anos preso por posse ilegal de arma por ter guardado aquele velho Mauser do pai dele; aquele colecionador que tem tudo legalizado, menos aquela Luger 9mm que era do avô e ficou sem documentação. O buraco é um só, para todos eles, na maioria dos presídios do Brasil.

Não comemorar os massacres e as respostas ilógicas é absolutamente diferente de chorar a morte de criminosos em uma guerra de facções como poucos choram, por exemplo, a morte só neste ano de seis policiais no Rio de Janeiro, de incontáveis pais, mães, irmãos, amigos. Novos e velhos, homens e mulheres, gays e héteros, negros e brancos, vítimas do massacre da lógica no combate real ao crime. Enquanto insistirmos na falsa lógica de que cadeia não resolve, desarmamento protege o cidadão e criminalidade é fruto da desigualdade social, continuaremos empilhando corpos.

Bene Barbosa é presidente do Movimento Viva Brasil e coautor do livro Mentiram Para Mim Sobre o Desarmamento.
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